A decisão da Direção-Geral da Saúde em não vacinar (para já) jovens saudáveis entre os 12 e os 15 anos teve “o mérito de ser corajosa e independente porque não foi atrás da pressão do poder político, mesmo que eventualmente seja errada”, disse Luís Marques Mendes este domingo, no habitual espaço de comentário no Jornal da Noite, na SIC. No entanto, o comentador acredita que está a caminho uma inversão de posição e deixa uma recomendação: “Se e quando a DGS decidir alterar a sua posição, que o faça por razões de carácter técnico, médico e cientifico, e não pela pressão política, seja do Governo, do Presidente ou da task force, senão isso é que era matar completamente a credibilidade da nossa autoridade de saúde”.

Marques Mendes considera, ainda assim, que a DGS “não vai poder aguentar durante muito tempo as pressões a que tem vindo a estar sujeita nesta matéria”, reconhecendo que o tema é divisório não só em Portugal — com o bastonário da Ordem dos Médicos a ser a favor e o responsável pela área de pediatria da mesma ordem a ser contra —, como também na União Europeia. E faz as contas: há 11 países a favor da vacinação de menores, outros três são contra, incluindo Portugal, e 13 ainda não têm posição tomada. “A matéria é delicada.”

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Sobre este assunto, o comentador político reitera que a “quem compete tomar esta decisão é à Direção-Geral da Saúde e não ao Governo”. E defende falta de uma comunicação clara por parte da DGS: “Como sempre [a decisão de não vacinar] foi mal explicada, foi mal esclarecida. Isto tem um efeito negativo: dar a ideia às pessoas de que as vacinas nos jovens são perigosas. Isto é um engano, é um erro. (…) A vacina, para a generalidade dos jovens, é boa, é positiva, é recomendável”.

Questionado ainda sobre a terceira dose, Marques Mendes acredita que é apenas “uma questão de tempo” e que o reforço vai ser “inevitável”. “Nesta matéria há muita especulação e pouco esclarecimento. Há interesses económicos muito fortes em que haja uma terceira dose, designadamente das farmacêuticas”, diz, sublinhando também o interesse público. “A União Europeia, que é quem normalmente compra as vacinas e as entrega aos estados-membros, já comprou 900 milhões de novas doses para 2022 e para 2023, o que dá para cobrir a população dos vários países.” E, diz Marques Mendes, “não comprou para as deitar fora”.

Ainda no espectro da vacinação, o comentador político saudou o facto de o Almirante Gouveia e Melo ter alcançado mais cedo o prometido (dois dias antes): atingir 70% da população vacinada com, pelo menos, uma dose. No entanto, face às novas variantes, é preciso “ir mais longe”. Marques Mendes assinala que, na vacinação à escala global, Portugal está na 11.ª posição e que o próximo grande objetivo é atingir 90% da população com pelo menos uma dose e 70% com vacinação completa na primeira semana de setembro.