O produtor musical Duarte Mendonça, histórico divulgador do jazz em Portugal, morreu esta sexta-feira de madrugada, em Cascais, aos 90 anos, disse à Lusa o seu biógrafo e investigador de História do Jazz, João Moreira dos Santos.

O velório do produtor musical realiza-se segunda-feira a partir das 18:00, no Centro Funerário de Alcabideche, neste concelho.

No dia seguinte tem lugar a cerimónia de cremação, disse à agência Lusa o investigador de História do Jazz João Moreira Santos.

Para o investigador, Duarte Mendonça é um “produtor histórico”, que se interessou pelo jazz aos 15 anos e produziu, com Luís Villas-Boas (1924-1999), festivais como o Cascais Jazz, Jazz Num Dia de Verão, Estoril Jazz, Galp Jazz.

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“Foi também uma figura central na formação dos músicos, para o que contribuiu com os célebres Cursos Projazz”, acrescentou Moreira dos Santos.

Nascido em Lisboa, a 05 de fevereiro de 1931, no seio de uma família oriunda de Olhão, no distrito de Faro, a Duarte Mendonça se devem as estreias em Portugal de músicos como Red Rodney, The Manhattan Transfer, Michel Legrand, George Benson, Marcus Roberts, Barney Kessel, Terence Blanchard, Sheila Jordan, Lionel Hampton, Ahmad Jamal, Joshua Redman, Brad Mehldau, George Shearing, Mulgrew Miller, Jon Hendricks, Dianne Reeves e Diana Krall.

Por sua iniciativa, atuaram em Portugal cerca de 25 das maiores ‘big bands’ estrangeiras, incluindo as de Gil Evans, Thad Jones/Mel Lewis, Count Basie, Woody Herman, Bill Holman, Dave Holland e a Lincoln Center Jazz Orchestra, de Wynton Marsalis”, referiu Moreira dos Santos.

O interesse de Duarte Mendonça começou pelas orquestras de “swing” dirigidas por Glenn Miller e Harry James e, posteriormente, pelas orquestras de Count Basie, Tommy Dorsey e Duke Ellington.

Seguiu-se o interesse pela discografia, com álbuns comprados em Inglaterra e nos Estados Unidos, através de familiares e amigos, nomeadamente o fotógrafo Gérard Castello Lopes (1925-2011), que “o expôs àquele que foi deste então o seu grande ídolo musical, Charlie Parker, e o apresentou ao Hot Clube de Portugal.”

Na década de 1950, assistiu no Palm Beach, em Cascais, ao seu primeiro concerto de jazz ao vivo, “mas o espetáculo mais marcante teve lugar no Festival de Jazz de Antibes [no sul de França], ao qual se deslocou propositadamente em 1963, aí assistindo à estreia europeia do novo quinteto de Miles Davis”.

Em 1974, foi convidado por Villas-Boas a colaborar no Cascais Jazz, dando início “a uma parceria que permaneceu inalterada até 1988” e produziu vários festivais na Figueira da Foz, Espinho, Algarve, Cascais e Lisboa.

Em 1982, fez parte do núcleo fundador do Festival Jazz Num Dia de Verão e, em 1990, fundou o Estoril Jazz, que manteve até 2015, tendo criado também o Galp Jazz.

Em 1990, iniciou os Cursos Internacionais Projazz, “a primeira grande iniciativa pedagógica realizada em Portugal na área do jazz”, segundo Moreira dos Santos, que realçou: “Através desses cursos, que tiveram uma segunda edição em 1991, vários músicos portugueses puderam aprender e trocar experiências com notáveis como Clark Terry, Kenny Burrell, Rufus Reid, Barney Kessel e Reggie Workman”.

Em 1996 e 1997 produziu o Festival Women in Jazz e assinou várias coproduções com o Centro Cultural de Belém e Culturgest, em Lisboa, e “a contratação para o Casino Estoril de muitos dos grandes nomes do jazz, e não só, que aí se apresentaram a partir da década de 1980”.

Em 2008 e 2009, coproduziu com João Moreira dos Santos o Festival Allgarve Jazz, evento que trouxe a Portugal músicos como Herbie Hancock, Chick Corea, Gary Burton, Dee Dee Bridgewater, Freddie Cole e The Manhattan Transfer.

O seu papel na promoção do jazz em Cascais foi reconhecido pela câmara, em 1996, que o distinguiu com a Medalha Municipal de Mérito Cultural, à qual se somou em 2004, a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo Ministério da Cultura por ocasião do seu 30.º aniversário como produtor de jazz.

Presidente da República apresenta as condolências

O Presidente da República apresentou condolências à família e amigos do produtor musical Duarte Mendonça, que morreu esta sexta-feira aos 90 anos, destacando que “a história do jazz em Portugal é também a história dos seus divulgadores“.

“A história do jazz em Portugal é também a história dos seus divulgadores, entre os quais se destacou Duarte Mendonça”, lê-se numa nota divulgada no site oficial da Presidência da República.

O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, destacou que Duarte Mendonça, como produtor, deu a conhecer “músicos de diferentes gerações e sensibilidades, de Brad Mehldau a Diana Krall, de George Benson a Manhattan Transfer, de Herbie Hancock a Chick Corea, além de várias ‘big bands’ americanas, das quais era um devoto”.

“Parceiro de Luís Villas-Boas no Cascais Jazz e noutros festivais, a sua militância estendeu-se à formação de músicos, através dos Cursos Internacionais Projazz. À família e amigos de Duarte Mendonça, apresento as minhas condolências”, escreve o Presidente da República.

Ministra da Cultura lamenta morte de “figura central” do jazz em Portugal

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou esta sexta-feira a morte do produtor musical Duarte Mendonça, que classificou como “uma das figuras centrais do universo do jazz em Portugal”.

Em comunicado, a ministra Graça Fonseca realçou que eventos que dinamizou como o Cascais Jazz, Women in Jazz e o AllgarveJazz “desempenharam um papel fundamental na formação de sucessivas gerações de músicos de Jazz em Portugal, preocupação que estava bem patente na forma como organizava ‘workshops’ associados aos festivais”.

“No seu trabalho como produtor, Duarte Mendonça destacou-se pela generosidade e dedicação com que deu a conhecer o Jazz aos portugueses, tendo, por isso, tido um papel central na história deste género em Portugal. Tal como o título do seu último programa de televisão, Duarte Mendonça dedicou a sua carreira oferecer ‘Jazz para todos’“, acrescentou o comunicado.