Uma gigantesca baleia jubarte foi esta quarta-feira encontrada morta nas praias de um luxuoso bairro residencial do Rio de Janeiro, situação que este ano se repetiu mais de cem vezes e bateu recorde no Brasil.

Vizinhos que se levantavam cedo para se exercitar nas praias de São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro, se depararam com a baleia encalhada na areia e em questão de minutos o animal — com cerca de sete metros de comprimento — estava cercado de curiosos em luto pela sua morte.

Até ao momento, 131 baleias jubarte encalharam nas areias do país, um triste recorde depois dos 122 cetáceos que morreram nas praias brasileiras há quatro anos, segundo a organização não-governamental Projeto Baleia Jubarte, que atua no país desde 1988.

Grande parte desses animais morre no mar e acaba sendo arrastada pela corrente para as áreas arenosas. Outros chegam vivos às praias, onde às vezes com ajuda humana conseguem salvar-se, mas geralmente morrem.

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Segundo o Projeto Baleia Jubarte, a maior parte das mortes desses animais ocorreu no sul do estado de Santa Catarina (42) — onde um também foi encontrado nesta quarta-feira –, em São Paulo (36) e no Rio de Janeiro (14).

“Há um aumento de casos e essa tendência ocorre porque é uma população que está crescendo. Tem baleias que morrem de causas naturais, mas também por causa de atividades humanas, como atropelamento de navio, acabam presas em redes de pesca ou consomem lixo nos mares”, disse Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do projeto à agência Efe.

No entanto, estudos avançados sobre a morte de baleias neste ano indicam que uma das causas é a possível escassez de krill, um pequeno crustáceo semelhante ao camarão que as baleias jubarte costumam comer na Antártida antes de empreender a sua migração anual para águas mais quentes para se reproduzir. Assim, como este ano, a mortalidade de baleias “saiu do padrão” em 2010, 2017 e 2018, anos em que também houve uma diminuição do krill.

Isso também explica por que boa parte dos cetáceos encontrados este ano eram muito magros e jovens — entre 1 e 4 anos — quando ainda não estavam em idade reprodutiva, como no caso do animal encontrado nesta quarta-feira no Rio de Janeiro. Outra novidade é que a mortalidade no Brasil tem sido registada em outras regiões que não a Bahia e o Espírito Santo, onde geralmente ocorre.

Nos casos de mortes causadas por atividade humana, o projeto, em conjunto com as autoridades ambientais, tem trabalhado para diminuir as taxas de mortalidade por meio do aumento do controlo, principalmente das redes de pesca ilegal.

Estamos tentando reduzir a mortalidade por ações humanas, mas as mudanças climáticas que causam a falta de alimentos são mais complexas. Para isso não temos solução, pelo menos no curto prazo”, disse o especialista.

Esse tipo de cetáceo inicia uma viagem todos os anos do sul do continente e migra ao longo da costa brasileira para se reproduzir. As primeiras baleias começam a chegar em maio e sua presença aumenta gradativamente até atingirem os picos mais altos entre julho e agosto e em novembro partem de volta para a região da Antártida.