O Conselho de Segurança das Nações Unidas lamentou esta quinta-feira que o continente africano se tenha tornado palco principal do terrorismo global, com ações de grupos locais e ramos descentralizados da organização terrorista Daesh ou Estado Islâmico.

Vladimir Voronkov, secretário-geral adjunto da ONU e chefe do Escritório das Nações Unidas para o Contraterrorismo, apresentou esta quinta-feira, em nome do secretário-geral da ONU, António Guterres, um relatório sobre atividades terroristas que sublinha a “relação entre conflito armado, fragilidade dos Estados e terrorismo“.

Estamos perante ameaças terroristas como o Daesh e a Al-Qaida, que são duradouras e capazes de se adaptar a novas tecnologias, e de expandir-se para incluir indivíduos e grupos que cometem ataques ligados a xenofobia, racismo e outras formas de intolerância”, declarou Voronkov.

Desde o final de 2019, mais de dois terços dos ataques realizados em todo o mundo por grupos ou indivíduos fiéis ao Daesh aconteceram no continente africano, especialmente na região do Sahel e Bacia do Lago Chade, de acordo com estatísticas atualizadas.

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Segundo o relatório, o desenvolvimento mais importante dos últimos seis meses consistiu na expansão das atividades terroristas e da influência de organizações terroristas em vários pontos de África, do Mali à Nigéria, ou da República Centro-Africana a Moçambique.

Moçambique foi considerado pelo secretário-geral da ONU, no documento esta quinta-feira apresentado por Voronkov, como “emblemático da influência do Daesh em África”.

Um dos exemplos também destacados na reunião do Conselho de Segurança foi o do Níger, que além de registar um aumento dos ataques terroristas no seu território, tem três linhas de fronteira com ameaças terroristas, no norte, oeste e sul.

Segundo a missão permanente do Níger junto das Nações Unidas, na primeira metade deste ano morreram mais de 500 pessoas naquele país em ações terroristas, a maior parte na região de oeste, próxima de Mali e Burkina Faso.

Os Estados-membros consideraram que o contraterrorismo só será verdadeiramente eficaz quando praticado de forma una e estratégica pela comunidade internacional, com especial atenção a ameaças transfronteiriças ou que provocam consequências regionais em toda a África.

Os 15 Estados-membros do Conselho de Segurança destacaram o novo papel da tecnologia e das criptomoedas nas atividades terroristas, que trazem desafios no combate. O recrutamento online ou a propaganda por meio de redes sociais e o poder económico e financeiro dos grupos terroristas em moedas virtuais tornam o terrorismo ainda mais difícil de controlar, lamentaram vários países.

No relatório sobre atividades do Daesh, a ONU considerou que, “embora o grupo tenha continuado a explorar o impacto da pandemia Covid-19 nos países, aparentemente não tomou medidas para usar o vírus como arma”.

Em zonas sem conflito, o relatório indica que a ameaça do Daesh está “suprimida” por restrições impostas por governos para evitar as contaminações de Covid-19, que impedem os operativos do Daesh de viajar, reunir-se, arrecadar fundos e identificar alvos viáveis. No entanto, fica o aviso para a possibilidade de ataques previamente planeados, assim que as restrições relacionadas com a pandemia de Covid-19 forem aliviadas.