Nenhum dos candidatos opositores aponta diretamente à vitória, mas todos querem fazer mais do que há quatro anos. Isaltino Morais vai avisando que “não se faz tudo de uma vez”, como quem aponta a futuros mandatos , e deixa ainda um alerta aos adversários para os perigos de perderem votos para os extremos. “Gostava que o Alexandre Poço convencesse as pessoas de que vale mais votar nele do que na extrema-direita e que o Fernando Curto convencesse a extrema-esquerda, que lhe pode tirar votos, de que é melhor votar nele”, como quem diz que o caminho para a vitória é ao centro e que esse centro lhe está reservado e que só os representantes dos respetivos partidos “é que podem tirar votos aos extremos”, falhado que foi esse apoio do PSD à candidatura do atual presidente e recandidato ao cargo.

[Pode ouvir aqui o debate na íntegra:]

Debate Oeiras. “Assinaturas na vacinação? Fui eu que mandei”

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“Fui que disse para se recolher assinaturas na vacinação e se houvesse Taça de Portugal também lá tínhamos estado”

Isaltino Morais criticou as alterações à lei autárquica promovidas pelo PS e pelo PSD e, no que toca à organização do movimento independente que lidera, não esconde as dificuldades em montar a campanha. “A recolha de assinaturas à porta do centro de vacinação fui eu que a indiquei”, diz sem pruridos depois de Alexandre Poço ter tirado a responsabilidade ao presidente oeirense, que ainda acrescentou: “E pena tenho eu da final de a final da Taça de Portugal não ter sido no Jamor porque teria sido outra grande oportunidade”.

Também no orçamento as diferenças entre partidos e movimentos fazem Isaltino partir para o ataque: “Não era preciso um grande orçamento, nem contamos gastar tudo o que está orçamentado, mas os movimentos têm que falar a verdade e os partidos não. O PS já tem 54 cartazes, o PSD vai em 14, e eu não tenho nenhum”, explica, para justificar um orçamento de 285 mil euros, superior ao de Fernando Medina ou Carlos Moedas.

Já o candidato do PSD, Alexandre Poço entrou na corrida eleitoral com uma campanha que quer ser diferente. Entre as iniciativas ousadas, já se atirou de um avião, deitou-se em fotografias para outdoors e começou por prometer plantar uma árvore por cada voto que recolher, mas não adiantou quantos exemplares espera plantar depois das eleições marcadas para 26 de setembro. No debate, diz que esta estratégia tem como objetivo “recolher atenção para poder falar sobre as ideias para o concelho” e recusa a imagem de brincadeira ou desresponsabilização.

Do lado do PS, Fernando Curto assegura que a falta de António Costa à apresentação da candidatura — o secretário-geral do PS fez um périplo pelo país para diversas apresentações –, não está relacionado com as expectativas eleitorais para o concelho e espera poder contar com o líder do governo durante a campanha, garantindo ainda assim que tem “um contacto de bastante proximidade” com o secretário-geral socialista e frisando o apoio já declarado de outras figuras do PS como Mariana Vieira da Silva ou Duarte Cordeiro.

Dos “fundamentalistas que criticam os automóveis” aos autocarros “muito bonitos que andam vazios”

Poucos meses depois de inaugurar um novo viaduto junto a um dos centros comerciais do concelho que permite desviar o trânsito de uma “rotunda muito congestionada” e debaixo de críticas de munícipes que estão preocupados com o barulho dos automóveis que vão passar na nova via rápida, Isaltino Morais garante que apostar neste tipo de estruturas também é proteger o ambiente: “Se queremos reduzir as emissões de Co2, temos que criar viadutos para fazer fluir o tráfego”. “Há vários fundamentalistas que olham para mim e pensam que fazer muitas estradas ou estacionamento é apostar no automóvel. A verdade é que os carros não vão desaparecer das ruas nos próximos 30, 40 anos e precisamos de facilitar a vida das pessoas e dando-lhes mais conforto e mais qualidade de vida”, diz o autarca que garante ser um “especialista em planeamento”.

A mobilidade é um dos assuntos que mais críticas motiva por parte dos adversários. O candidato social-democrata elogia a qualidade de vida que Isaltino construiu no município, mas teme que a falta de transportes públicos faça Oeiras perder qualidade: “O pesadelo de qualquer oeirense é imaginar-se a viver em concelhos socialistas como a Amadora ou Sintra, por isso temos de ter a ambição de conseguir novas soluções”.

Na lista de possibilidades, Alexandre Poço apresenta a criação de um autocarro escolar elétrico e gratuito. Quando o assunto são alternativas, pede a criação de um sistema partilhado de bicicletas que possa ser integrado com outros municípios: “Era importante que quem usasse o sistema de Oeiras pudesse usar também o de Sintra ou Cascais”.

Já Fernando Curto entra no tema da mobilidade a lembrar que Isaltino prometeu 70 bicicletas elétricas na última campanha, “mas ainda ninguém as viu”. O candidato socialista elogiou ainda a estética do Combus [sistema de autocarros gratuitos de Oeiras], mas criticou os horários: “Os autocarros são muito bonitos, mas andam sempre vazios porque não têm horários regulares”.

O SATU já não é o que era, mas vai voltar

Numa campanha autárquica em Oeiras pode faltar tudo, mas o SATU nunca deixa de aparecer. O polémico sistema de transporte autónomo já teve várias vidas e vários projetos e agora é o próprio Isaltino Morais que o traz para o debate. Primeiro para dizer que é o projeto que prova que Oeiras “foi o município que mais investiu em transportes amigos do ambiente”. Depois para garantir que vai ter uma vida nova. “A tecnologia evoluiu e é natural que o SATU não venha a ser aquilo que foi planeado, mas depois de uma auditoria realizada à infraestrutura existente percebemos que é possível continuar. Temos a concordância da Câmara Municipal de Sintra para ir até ao Cacém e a Área Metropolitana de Lisboa já o considerou estratégico”, garante. Mas quando vai voltar a circular? “De acordo com as nossas estimativas, tudo indica que em 2023 pode chegar ao Lagoas Park, em 2025 ao Tagus Park e 2027 ao Cacém“, avança Isaltino Morais, deixando as datas dependentes dos financiamentos comunitários.

Para Fernando Curto a insistência do autarca não faz sentido: “Continuamos a enterrar dinheiro numa obra inócua que não serve Oeiras”.

O obelisco “simbólico”: entre a beleza que promove Oeiras e o dinheiro mal aproveitado

Este mandato de Isaltino Morais ficou também marcado por um conjunto de obras que geraram polémica. O inicio do Fórum Municipal de Oeiras — futura sede da autarquia e que Isaltino garante que “os funcionários da Câmara eram os que estavam em piores condições” e que “vai pagar-se em 10 anos” — e o obelisco do Parque dos Poetas são algumas delas. “Vamos ao obelisco, que é simbólico”, diz Isaltino Morais, que diz que a “polémica à volta desta obra deu uma publicidade extraordinária ao Parque dos Poetas e as pessoas lá foram por causa do obelisco ficam encantadas com o parque. O custo do obelisco já está mais do que pago com a publicidade que gerou” e tudo justificado com “o planeamento integrado que permite a Oeiras ser um concelho que em muito contribui para a riqueza nacional”.

A mesma obra não gera a mesma empatia dos adversários políticos de Isaltino Morais. Fernando Curto, do PS, diz que “não gastaria 600 mil euros num obelisco. Esse dinheiro comprava desfibrilhadores para todas as associações do concelho que têm muitas crianças a seu cargo. Dava condições à escola de Paço de Arcos ou obras nas Piscinas de Barcarena e claro, mais em termos sociais, sobretudo para os idosos e para combater o isolamento”, acrescentando que “as obras megalómanas são situações mais de despesismo face há uns anos atrás”. Já Alexandre Poço diz que “provavelmente não faria aquela escolha”, mas remete para os problemas que é preciso resolver no concelho de Oeiras e deixa apenas um desafio “tendo em conta a preocupação cultural de Isaltino Morais” e pede que o retrato de Marquês de Pombal saia do gabinete do presidente para o novo Fórum Municipal. Isaltino assegura que “vai para o salão nobre do Palácio do Marquês de onde nunca devia ter saído”.

Na habitação, Fernando Curto puxou dos louros socialistas para dizer que “o Governo anda a construir casas para depois Isaltino Morais entregar a chave, é mesmo assim”. Sem contrariar a tese, Isaltino enaltece que Oeiras “é o segundo município que tem protocolado com o governo a construção de 1790 habitações para renda acessível destinada à classe média”.

Alexandre Poço diz que os programas municipais existentes “não são suficientes, sobretudo para os jovens” e volta a insistir na mensagem de que “nenhuma família em Oeiras quer ir viver para a Amadora ou para Sintra”. Também o apoio social preocupa o candidato do PSD e do PS. Alexandre Poço diz que Oeiras tem carência de residências seniores e de creches para os mais novos e Fernando Curto lembra o isolamento dos idosos no concelho e refere a falta de condições nalguns equipamentos das freguesias de Oeiras. Isaltino Morais responde com números, diz que “a autarquia tem prontos projetos para 3 residências para os mais velhos e que as oito instalações geridas por IPSS foram todas construídas pela câmara municipal”. Para os opositores do atual presidente, não é suficiente.