Bastou olhar para alguns minutos da Supertaça Europeia entre o Chelsea e o Villarreal para perceber que os ingleses precisavam mesmo de um avançado-centro, um possante e decisivo homem de área que pudesse corresponder da melhor maneira às assistências delicadas de Ziyech, Pulisic, Havertz e companhia. Werner não é resposta, Giroud foi para o AC Milan, Abraham fez as malas e juntou-se a Mourinho na Roma — e o Chelsea, pelo menos de forma teórica, ficou com a ganhar ao garantir o regresso de Lukaku.

O avançado belga custou 115 milhões aos ingleses e confirmou o estatuto enquanto um dos jogadores que já movimentaram mais dinheiro entre transferências e empréstimos. Ao todo, Lukaku já fez mexer 327 milhões de euros: custou 15 milhões ao Chelsea quando saiu do Anderlecht, três milhões e meio ao Everton na altura do empréstimo e depois mais 35 para a aquisição definitiva, quase 85 milhões ao Manchester United, outros 74 ao Inter Milão e agora os tais 115 novamente ao Chelsea. Nada que o deixe com uma pressão extra em cima dos ombros, até porque está habituado a ter de responder em campo às acusações de custar demasiado dinheiro, de não estar no momento de forma perfeito ou de não ter a técnica necessária para jogar nas melhores ligas do mundo.

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“Jogar com as costas encostadas à parede é algo que faço desde que era muito novo. Não é nada de novo para mim. Seja o que for que as pessoas estão a dizer, deixem-nos falar. Eles têm a perceção deles. Claro que quero respeito, mas não quero continuar a lutar por ele porque vou perder energia desnecessariamente”, disse Lukaku, esta quarta-feira, numa conferência de imprensa com vários meios de comunicação social ingleses.

O jogador de 28 anos regressa a Stamford Bridge com a clara responsabilidade de ser o homem-golo da equipa, algo que faltou aos campeões europeus na temporada passada e que poderá ser a chave para irem atrás da conquista da Premier League que escapa desde 2016/17. Algo é certo: este Lukaku não é o mesmo que saiu de Londres em 2014 sem deixar grandes saudades e para se juntar ao Everton. Cresceu em Liverpool, foi importante no Manchester United até deixar de fazer parte dos planos de Solskjaer e evoluiu de forma inédita no Inter, pela mão de Antonio Conte, tornando-se finalmente um avançado de topo ao adotar a dieta correta e dedicar mais tempo ao trabalho e ao aprimorar da finalização e do primeiro toque.

“A Serie A era uma liga em que eu sempre quis jogar. Lidamos com um tipo diferente de pressão. O Antonio Conte ajudou-me muito e mostrou-me o que era preciso para ganhar. O jogo é totalmente diferente em Itália. Muito, muito tático. Espaços apertados e, na maioria dos jogos, só tens uma oportunidade para marcar. Se não marcas, fica muito difícil. Isso foi muito importante, a eficácia, e também aprendi a jogar mais de costas viradas para a baliza”, explicou Lukaku, que foi uma das peças mais importantes da equipa de Conte que conseguiu pôr um ponto final na hegemonia interna da Juventus.

A débil situação financeira do Inter Milão tornou a saída de Itália um cenário provável e real — que acabou por ser engrossado pela despedida de Antonio Conte, que deixou o clube na sequência de um desentendimento com a direção e foi substituído por Simone Inzaghi. No Chelsea, Lukaku vai ser o número 9 depois da saída de Tammy Abraham e deve estrear-se já este domingo e logo num dérbi de Londres, contra o Arsenal, procurando desde logo começar a refazer a própria história nos blues.

“Antes era muito novo e não estava tão evoluído como estou agora. A minha carreira tem tido muitos altos e baixos mas sabia que se continuasse a corresponder iria sempre ter uma oportunidade. A minha relação com o clube sempre foi ótima e estar de volta é uma boa sensação”, atirou o avançado, que se confessou um admirador do trabalho de Thomas Tuchel. “Todos os jogos têm um plano diferente. Foi algo que lhe disse na primeira conversa que tivemos. Disse: ‘Olha, eu já tentei perceber o que tentas fazer com a equipa mas nunca percebi porque todos os jogos são diferentes’. Isso agrada-me porque olho para o jogo de um ponto de vista muito tático. Não olho para o jogo apenas para o ver”, acrescentou Lukaku.

Por fim, o internacional belga revelou que já percebeu que os jogadores de futebol são olhados de forma diferente a partir do momento em que conquistam troféus. “Nada disto é sobre recordes. É tudo sobre conquistar troféus. Já percebi o quão diferente é a atitude das pessoas em relação a alguém quando ganhamos alguma coisa. Em conversas que tive com o Didier Drogba, com o John Terry ou com o Antonio Conte, percebi que o respeito é diferente quando começamos a ganhar. Isso era algo que eu queria muito. Queria tanto ganhar. Fui para o Inter e ganhámos. Isso é a única coisa que me interessa: ganhar. Marcar golos é lindo e sei que jogo numa posição onde posso marcar muitos golos. Mas ganhar troféus… É isso que te distingue”, terminou o avançado.