Salónica, 15 de setembro de 2020. Devido às contingências da Covid-19 o play-off de acesso à Liga dos Campeões resumiu-se a um jogo, com o Benfica, na nova vida de Jorge Jesus nas águias, a disputar o acesso aos milhões na casa do PAOK, treinado por Abel Ferreira. Vertonghen, na altura reforço recente, fez autogolo já na segunda parte, mas a machadada final, quase que como destinada, veio de um sérvio “especial”. Zivkovic, acabado de sair do Benfica para o clube grego, fez a sua clássica jogada, da direita para a esquerda, como demonstrou algumas vezes na Luz, e bateu Vlachodimos. Rafa ainda marcou aos 90+4′, mas o 2-1 final atirou o Benfica para fora da fase de grupos da Liga dos Campeões e, não haja hipocrisia, tirou a hipótese de muito, muito dinheiro entrar nos cofres do clube.

Esta época, ultrapassado outro treinador português, Rui Vitória e o seu Spartak Moscovo, surgia esta terça-feira o PSV, que já havia sido derrotado na Luz por 2-1 na primeira mão. O jogo era essencial para os encarnados chegarem a “meros” 37 milhões de euros, valor correspondente à entrada na fase de grupos da Champions. “Prioridade”, chamou-lhe Jorge Jesus; “o Benfica tem de estar na Liga dos Campeões”, afirmou o presidente Rui Costa.

“Não foi a primeira vez que o Benfica teve um jogador expulso. Temos de saber jogar melhor com menos um”, afirmou o treinador dos encarnados após o jogo de abertura do campeonato na vitória frente ao Moreirense, fora, por 2-1, em que Diogo Gonçalves viu vermelho direto aos dez minutos da segunda parte.

Pois bem, esta noite, em Eindhoven, tudo passou a depender do facto de o Benfica conseguiu, ou não, “jogar melhor com menos um”. Lucas Veríssimo, que tem feito um excelente início de época, viu o segundo amarelo e foi expulso aos 30′ (o primeiro evitável e o segundo por um braço na cara numa bola dividida pelo ar). A partir daí, claro que tudo mudou para os encarnados.

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E o “tudo” até nem corria assim tão mal, o Benfica, que hoje se apresentou em 3x5x2 em vez de 3x4x3, com Taarabt como terceiro médio, aguentou os famigerados “15 minutos” iniciais de quem precisa mesmo de ir atrás do resultado. E com o estádio cheio, a equipa do PSV estava até bem embalada pelos adeptos. Não aconteceu nada de absolutamente extraordinário mas, claro, no final da primeira parte o ascendente era da equipa dos Países Baixos.

O Benfica até podia ter marcado por Rafa, que jogou na frente com Yaremchuk, com Jesus a apostar num 3 para 3 no meio-campo, que até resultava, exceto quando não era claro quem defendia os laterais holandeses. Depois de Veríssimo ser expulso, então a coisa no meio-campo andou num losango e depois numa linha. Mas, de uma perspetiva geral, e até à expulsão, as coisas estavam “bem”. Depois, foi outra conversa, com Madueke, que foi um problema na Luz, a estar perto do golo de fora da área e, depois, a ver Vlachodimos, na sua cara, evitar o golo mesmo em cima do intervalo. Ao descanso, ficava no ar muita curiosidade sobre o que Jorge Jesus ia fazer.

E o treinador encarnado até surpreendeu não colocando jogadores do banco, mas sim Rafa a ala direito e Gilberto como terceiro central. João Mário, Weigl e Taarabt no meio e Yaremchuk entregue aos centrais, sozinho e desamparado. Mas durou apenas 8 minutos, com Vertonghen a entrar para o lugar de Taarabt, Gilberto a jogar novamente à ala direita, João Mário a interior direito, Rafa a esquerdo e Weigl a tentar equilibrar, em todo o lado, o jogo todo.

Por volta dos 60′, o PSV apertou e muito o Benfica, com a área encarnada a ser um local de autêntico perigo, com o culminar a ser mesmo à hora de jogo, quando Zahavi, que parecia precisar apenas de encostar, acertar na trave, num remate de carrinho, à boca da baliza. Foi quase, mas mesmo quase, com o israelita a ficar perto, mesmo perto do golo. Mas passou, Vlachodimos não foi buscar a bola dentro das redes e respirava o Benfica.

Aos 70′ saiu Madueke no PSV, sem dúvida o elemento mais forte da equipa holandesa durante 160 minutos, entrando, entre outros jogadores, o português Bruma, que nos primeiros minutos não esteve mal, mas acabou por perder-se. No entanto, o Benfica ia-se aguentando e o PSV percebeu que só com remates e cruzamentos de fora é que conseguiria criar perigo.

Curiosamente, não foi nada assim que o PSV quase fez golo… com Vertessen, saído do banco e na cara do golo, a obrigar Vlachodimos (será que hoje não vai ser o “melhor em campo?”) a duas defesas extraordinárias e a “safar” o apuramento do Benfica.

Não foi com golos, como Jorge Jesus queria, mas em Moreira de Cónegos tinha pedido uma equipa que jogasse melhor com menos um. Pois bem, foi já esta terça-feira, com Vlachodimos a fazer (mais) um excelente jogo, Weigl extraordinário e Jorge Jesus a ler muito bem o encontro e a mexer bem na sua equipa.

Não foi na finta, não foi no passe, não foi na classe. Luta, muita luta, correria e ganas de chegar à Liga dos Campeões. Para o Benfica? “Apenas” 37 milhões de euros. Para o futebol português? Três equipas na fase de grupos da maior competição de clubes do mundo.