A Volkswagen nunca escondeu as enormes ambições comerciais que tem para o Volkswagen ID.4, o seu primeiro SUV eléctrico com base na plataforma MEB, com o fabricante alemão a estipular como meta a comercialização de 500 mil unidades por ano. Para cumprir esse objectivo, o plano de fabrico prevê a produção nos EUA, Europa e China, sendo obviamente este último mercado de extrema importância para atingir o volume de vendas pretendido. Sucede que, conforme já aqui noticiámos, a procura pelo ID.4 na China – país em que o SUV alemão está disponível em duas versões – tem ficado muito aquém das estimativas da marca. Surgiram agora duas explicações para esse relativo “desaire” comercial, que surpreendem por nada terem a ver com o veículo em si.

Seria de supor que, quando alguém equaciona a compra de um veículo eléctrico, se preocupa em compatibilizar a carroçaria preferida com o espaço necessário, juntando-lhes requisitos como a autonomia, a velocidade de carregamento, a potência e o tipo de tracção. Pois bem, ao que parece, nada disto explica o facto de nos dois primeiros meses após o seu lançamento na China, o Volkswagen ID.4 se ter ficado apenas por pouco mais de 1200 matrículas, quando o Tesla Model Y (exactamente nas mesmas circunstâncias, isto é, em igual período pós- lançamento) vendeu cinco vezes mais, com um registo superior a 6000 unidades. Isto apesar de ser mais caro, o que compensa com o facto de poder oferecer dois motores e sete lugares em vez de apenas cinco, entre outros argumentos mediante a versão escolhida.

Vendas do VW ID.4 arrancam devagar na China

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Quando surgiram os primeiros dados relativos ao desempenho comercial do ID.4 na China, claramente em contraste com a excelente receptividade do SUV na Europa, aventou-se a possibilidade de tal ficar a dever-se a uma concorrência mais feroz a Oriente. Mas não será essa a explicação, segundo um estudo realizado por uma entidade externa à Volkswagen, o Stifel Bank. Diz o analista Daniel Schwarz que a fraca aceitação dos ID.4 Crozz e X pode dever-se ao dress code dos funcionários. Ou seja, como os empregados dos stands da Volkswagen optam por uma indumentária mais formal, acabam por afugentar potenciais clientes – é a teoria. Extrapolando a tese, dir-se-ia que um chinês interessado em adquirir um ID.4 não pode sequer ver uma gravata à frente, que fica logo sem vontade de comprar o SUV alemão. Isto em contraposição com o êxito comercial de marcas como a Tesla e a Nio, cujos colaboradores vestem e agem de forma mais descontraída. E isso, de acordo com o referido estudo, estimula a apetência por parte do comprador.

A conclusão resulta de um trabalho de pesquisa com clientes-mistério que visitaram os espaços da Tesla, Nio e Volkswagen, tendo reportado que a interacção entre o vendedor e o potencial cliente foi muito mais assertiva e jovial nos dois primeiros casos. “Claramente, os concessionários da Volkswagen parecem mais velhos”, conclui o analista com base no que lhe relataram os clientes-mistério.

Há ainda a questão da pronúncia do nome do modelo em mandarim. É que a designação soa muito semelhante a “quatro” e “morte” na primeira sílaba: 四 (Sì) e 死亡 (Sǐwáng). Culturalmente, isso pode afastar os mais supersticiosos – os mesmos que apreciam a Audi, a marca dos quatro anéis, por qualquer um dos seus modelos somar oito (quatro à frente mais quatro atrás), o que por aquelas bandas é sinónimo de sorte.