O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, insurgiu-se esta quarta-feira contra o despedimento de 130 trabalhadores da Saint-Goban Sekurit, defendendo que “são muito diversos os défices na sociedade portuguesa”, mas apenas o “défice produtivo” interessa ao país.

“Vivemos uns tempos muito difíceis, em que os défices são muito diversos na sociedade portuguesa, mas há um défice decisivo. É o défice produtivo. Um país que não produz é um país sem futuro. É um país que está condenado quando podia produzir cá dentro o que tem de ir comprar lá fora”, disse o secretário-geral do PCP, durante uma ação de pré-campanha da CDU para as eleições autárquicas, em Loures, no distrito de Lisboa.

O dirigente comunista referia-se ao encerramento e despedimento de 130 funcionários da produtora de vidro Saint-Goban Sekurit e criticou o “silêncio do Governo do PS”.

Para o membro do Comité Central, a decisão de encerramento é “mais um atentado à capacidade produtiva nacional e aos direitos dos trabalhadores”, razão pela qual se impõe “uma intervenção enérgica em sua defesa”.

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“Podíamos dizer que a Saint-Goban é mais uma empresa. Não, meus amigos, era a única empresa produtora de vidro. Os vidros vão continuar a ser necessários, com certeza, para a produção diversa, porque se partem. Mas então o que é que leva uma multinacional, que teve 1.200 milhões de euros de lucros e dividendos, a decidir fechar esta empresa“, questionou.

A hipótese de resposta surgiu imediatamente. Jerónimo de Sousa advogou que a empresa vai fechar “já na perspetiva de abrir uma coisa parecida lá para o Norte”.

“Vamos a ver se esta mesma multinacional, que está a despedir e quer despedir trabalhadores, não está à espera do tal fundo do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para, noutro sítio, sacar mais umas centenas de milhares ou milhões de euros“, completou.

A Saint-Gobain Sekurit vai cessar a atividade produtiva em Portugal “devido aos prejuízos acumulados nos últimos anos”, tendo já iniciado o processo de despedimento coletivo dos 130 trabalhadores, anunciou na terça-feira a empresa do Grupo Saint-Gobain.

“A Saint-Gobain Sekurit Portugal vai cessar a sua atividade produtiva devido aos prejuízos acumulados nos últimos anos, causados pela crise do setor automóvel e agravados pela baixa competitividade dos produtos da empresa face aos seus concorrentes no mercado internacional”, refere em comunicado.

Segundo adianta, foi já iniciado o processo de despedimento coletivo dos 130 trabalhadores, através de comunicação formal à Comissão de Trabalhadores e à Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).

De acordo com a empresa, e “face à situação que ao longo dos últimos anos tem penalizado os trabalhadores, que viram os seus salários congelados, a Saint-Gobain Sekurit Portugal irá propor indemnizações superiores às previstas legalmente, além de benefícios complementares ao valor da indemnização que, de algum modo, ajudem a compensar a perda dos postos de trabalho”.

Entre 2018 e 2020, a fabricante de vidro automóvel — implantada em Santa Iria da Azoia, no município de Loures — diz ter acumulado um prejuízo de 8,5 milhões de euros, cobertos pelo acionista “através de financiamentos sucessivos”.

Em 2019, registou “um decréscimo no volume de negócios de 18%, correspondente a uma quebra de 10 milhões de euros, que se acentuou em 2020 com uma diminuição de 37%, cerca de menos 17 milhões de euros”, acrescenta a empresa.

“Todos os indicadores financeiros da empresa são negativos e não se vislumbra que nos próximos anos possam ser invertidos, colocando pressão sobre outras unidades do grupo, que estão a suportar os prejuízos da Saint-Gobain Sekurit Portugal”, sustenta.

Em Portugal, o Grupo Saint-Gobain emprega atualmente cerca de 800 colaboradores distribuídos por 11 empresas e oito fábricas, somando um volume de faturação na ordem dos 180 milhões de euros.

O grupo recorda ter iniciado na Maia a construção de uma nova fábrica para a Saint-Gobain Abrasivos, com 9.000 metros quadrados, e atualizado o parque industrial e o forno para transformação de vidro da unidade de produção da Covipor, em Santo Tirso.