Há uma ideia quase universal de que toda a gente gosta de brindes, coisas grátis ou pelo menos baratas. Na última década, no mínimo, muito se tem ouvido falar do low cost, seja o ginásio ou a refeição. Mas e se existissem, e vamos imaginar só pela lógica deste pensamento, jogadores low cost no futebol mundial? Agora deixemos de imaginar e passemos à realidade, porque a janela de transferências de verão que fechou hoje fica, não descurando a ida de Cristiano Ronaldo para o Manchester United, marcada pelo jogador “bom e barato”. “Não há almoços grátis” e o “barato sai caro”, também se diz, é verdade, mas nada como analisar e, ainda, perspetivar o que pode ser o futuro.

Voltando a Cristiano Ronaldo. É verdade que o United pagou “poucos” milhões de euros pelo seu passe. É craque, mas tem 36 anos. Ainda tem muito futebol, mas não é, como seria em qualquer outra época “normal”, a bomba do mercado. E, quase ironicamente, aquele que o mundo inteiro sempre colocou como seu rival, Leo Messi, leva o prémio de transferência do ano (da década? do século?), ao sair de borla – ponto importante – do Barcelona.

Messi ia para ali, ia para aqui, acabou sem muita surpresa em Paris, no PSG, ao lado de Neymar, Mbappé (pelo menos por agora), Di María, Verratti… Donnarumma, Sergio Ramos e Wijnaldum, estes últimos três companheiros do jogador “grátis”. Ou seja, e vamos esclarecer com termos menos corriqueiros, um jogador livre que terminou contrato e mudou de clube. Acontece todos os anos, mas nunca como este e com a qualidade dos rapazes e homens envolvidos.

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Contava o As há algumas semanas que, na última extensão de contrato em Barcelona, Messi ficou a receber entre 70 a 90 milhões de euros por ano. Quando rebentou o caso do número 10 (agora 30 em Paris) na Catalunha, este já tinha admitido cortar para metade o seu salário de modo a conseguir ficar em Espanha. Não aconteceu, mas foi isso que foi ganhar para França, aproximadamente 35 milhões de euros por ano, mais do que Neymar (30 milhões), por exemplo. Apesar do endinheirado PSG ter por trás Nasser Al-Khelaifi, o próprio disse, entre risos, que esperava que Messi não pedisse mais dinheiro, e também que o mundo ficaria “chocado” pelas receitas. Reza a lenda (que não passou disso mesmo) que o PSG vendeu cerca de 150 mil camisolas de Messi em poucos minutos. A uma média de 80 euros por camisola, temos 13,2 milhões de euros, que podem ajudar e muito a pagar o salário de Messi. O negócio pode ser rentável monetariamente, veremos se o será desportivamente, mas nem todos os casos são, claro, como os de Leo.

Fiquemos pelo PSG e continuemos com o melhor jogador do Euro 2020, vencido pela Itália. O guarda-redes da azzurra, Donnarumma, foi aos 22 anos do AC Milan, onde se estreou aos 16, para a Cidade Luz, onde aufere 12 milhões de euros, tirando bónus. Pode discutir-se se é o melhor do mundo ou um dos melhores do planeta, mas não há dúvida que o PSG investiu muito dinheiro na sua contratação. Não venderá tantas camisolas como Messi, seguramente, e, acima de tudo, o retorno desportivo ainda não é visível porque é… suplente. Keylor Navas tem sido nos últimos anos o dono da baliza parisiense e o treinador Mauricio Pochettino disse “não, senhor”, pelo menos para já, à chegada do italiano. Portanto, e até agora, dinheiro muito – jogo nada. E Navas, a menos que seja chutado para “patinho feito” como aconteceu no Real Madrid, ainda tem algum fulgor para proteger as importantes redes parisienses.

O 30, o número que Messi escolhe quando quer mudar o mundo

E por falar nos madrilenos, como não falar de Sergio Ramos, que ao fim de 16 anos deixou o Real para ir também para Paris, onde parece que toda a gente quer “à força” ganhar uma Liga dos Campeões a partir de França. Em Paris, o espanhol ganhará algo como 21 milhões de euros, ou seja, 42 milhões de euros de encargos para o clube. Mesmo que arredondemos para 20, fica a ganhar um pouco mais do que Mbappé, o tal que ia sair e cujo contrato acaba para o ano (já lá vamos). Ramos quer certamente ser patrão da defesa e chegou também livre o holandês Georginio Wijnaldum, que em Liverpool era um autêntico motor no meio-campo de Klopp e muito se tem sentido a sua ausência no processo defensivo dos reds neste início de época. Wijnaldum vai receber 10 milhões de euros limpos por época, o que o coloca à frente de outros do plantel como Icardi ou Kimpembe (que é campeão do mundo de seleções), por exemplo. Como ficará o balneário de Pochettino com estas opções? Não se conhecem grandes valores sobre os prémios de assinatura, mas não é de menos dizer que em Paris ou há Champions ou há Champions. Não há outra hipótese. A aposta é grande a nível económico e a nível desportivo a qualidade (já falámos de um tal de Messi?) é gigante.

Até este ponto só falamos de Paris e do PSG e já vamos em muito dinheiro, é verdade, mas em várias transferências das tais grátis, que toda a gente gosta. Se é low cost? Os troféus e as camisolas vendidas com o nome Messi decidirão isso mas há aqui uma poupança que é certa: mais de 170 milhões de euros, segundo o Transfermarkt, tendo em base apenas os valores de mercado de Messi (80), Donnarumma (60) e Wijnaldum (30).

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Já que falamos novamente no argentino, é importante chamar a atenção para a atitude da sua antiga equipa, o Barcelona, no mercado de transferências. O fair play financeiro da liga espanhola aperta e os catalães, ao contrário do que podem ter feito estes últimos anos, apostaram também nas possíveis “borlas”: Agüero (o filho é afilhado de Messi…) e Éric Garcia, vindos do Manchester City, e Depay, vindo do Lyon.

As regras apertaram tanto na Catalunha e na equipa de Ronald Koeman que lendas e capitães tiveram de reduzir salários para que os três reforços pudessem ser inscritos. Neste caso, foram Piqué, Jordi Alba e Busquets a dar o exemplo, algo forçado, para a equipa conseguir reforços. Aqui, portanto, o low cost talvez tenha características diferentes devido à “gincana” que os blaugrana estão a fazer para poder dar condições à Koeman para devolver o título espanhol ao clube. Era, sem muitas reservas, inevitável que assim fosse.

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Em Espanha, não foi só o Barcelona a aproveitar os almoços grátis (vamos questioná-los de qualquer forma) vindos do mercado do jogador livre. O rival Real Madrid, que também teve uma prestação “esquisita” no mercado, conseguiu o austríaco David Alaba, que acabara contrato com o Bayern Munique e é, sem dúvida, aos 29 anos, um defesa/médio de topo mundial. Também em fim de contrato com o Bayern, o campeão do mundo Jerôme Boateng está em vias de assinar pelo Lyon, quando ainda tinha provavelmente qualidade para outros voos, não menosprezando a equipa francesa que teve uma excelente prestação na Liga dos Campeões ainda há dois anos.

Outros destaques no mercado livre foram, por exemplo a contratação pelo campeão italiano Inter do turco Hakan Calhanoglu, que estava no rival AC Milan, ou o negócio que o Sevilha conseguiu por Bryan Gil, que saiu para o Tottenham de Nuno Espírito Santo por 25 milhões de euros e com Erik Lamela a vir a custo zero para a Andaluzia. Para se ter noção, Lamela, argentino de 29 anos, tinha custado 30 milhões aos spurs. A Lazio poupou 13 milhões de euros ao aproveitar a saída do albanês Hysaj do Nápoles e o Eintracht Frankfurt, que perdeu André Silva para o Leipzig, não gastou 17 milhões de euros, o que valeria o colombiano Rafael Borré, que estava no River Plate.

E claro que há um português para fechar esta lista: o guarda-redes Rui Silva, que saiu o Granada e assinou pelo Betis.

O caso Mbappé, que deverá ser o maior ativo do futebol mundial atualmente, é bastante especial, mas tendo-o em conta para esta lista, em 2022 a lista low cost seria composta por ele e ainda por jogadores como Pedri, Goretzka, Pogba, Ansu Fati, Dybala, Insigne, Pellegrini, Brozovic, ou até Corona, do FC Porto, entre outros, muitos e bons…