Os três sindicatos dos trabalhadores bancários afetos à central sindical UGT vão pedir esta sexta-feira a intervenção do Governo contra os processos de despedimentos coletivos no BCP e Santander, em reunião com ministros do Trabalho e da Economia.

A dirigente do Mais Sindicato, Cristina Damião, disse à Lusa que estes sindicatos já se reuniram com grupos parlamentares e com a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) e que agora se segue a reunião com o executivo, no fim da qual esperam que atue “para impedir que se concretizem despedimentos”.

“Os bancos têm lucro, não tem cabimento enveredar por estes mecanismos”, afirmou.

Também Mário Mourão, do SBN, considerou que é “o momento de o Governo intervir neste processo” e “impedir que aconteça em empresas que não estão em dificuldades”. Além disso, afirmou, ao mesmo tempo que despedem, os bancos contratam pessoal em “outsourcing” (externo) e não pagam horas extra, o que prova que afinal precisam dos empregados.

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Na semana passada, o BCP anunciou que vai avançar com despedimento coletivo de até 100 trabalhadores, após ter acordado com quase 800 funcionários a saída por acordo (reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo).

Também para despedimento irá avançar o Santander Tota. O banco não chegou a acordo para a saída de 350 trabalhadores, de um total de 685 inicialmente previstos, tendo dito em meados de agosto que vai avançar com um “processo unilateral e formal” a partir de setembro, segundo uma nota interna da Comissão Executiva a que a Lusa teve acesso.

O BCP registou lucros de 12,3 milhões de euros no primeiro semestre deste ano (menos 84% do que no mesmo período de 2020) e o Santander Totta 81,4 milhões de euros (menos 52,9%).

Segundo a dirigente do Mais Sindicato, mesmo sendo entidades privadas, o Governo tem de intervir pelas consequências que estes processos têm para os trabalhadores, mas também para o país no seu todo.

“Haverá uma sobrecarga na Segurança Social, os trabalhadores deixam de descontar, e também para o Sistema de Saúde, pois hoje estes trabalhadores têm o apoio na saúde pelos sindicatos [SAMS]. Compete ao Governo ter algum tipo de intervenção que faça com que estes processos parem”, vincou Cristina Damião.

“A ministra é do Trabalho, dos trabalhadores, não das empresas, e o ministro da Economia tem uma pasta muito ligada ao setor financeiro, que desenvolva a sua influência junto das administrações dos bancos”, disse, por seu lado, Mário Mourão.

O presidente do SBN avisou ainda que, se não houver um travão nos processos, podem mesmo os trabalhadores ir para greve. Dia 07 há uma reunião de todos os sindicatos e a greve estará em cima da mesa para discussão.

A reunião dos três sindicatos afetos à UGT com os ministros do Trabalho, Ana Mendes Godinho, e da Economia, Siza Vieira, acontece na sexta-feira pelas 15h em Lisboa.

Outros sindicatos bancários também têm reunido com as forças políticas e parlamentares e pedido que o Governo intervenha, mas para já ainda não há conhecimento público de que tal tenha acontecido.

Segundo um documento do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQT), disponível no seu ‘site’, o BCP pretende reduzir 14% da sua força de trabalho de junho a agosto deste ano e o Santander reduzir 24% da força de trabalho entre outubro de 2020 a agosto de 2021, isto quando são bancos rentáveis e têm um “desempenho melhor que o sistema bancário português e europeu” em vários indicadores.

Refere ainda o SNQTB que os processos destes bancos têm sido “violentos, sobredimensionados, executados num curto período de tempo (e em tempo de pandemia e férias)” e que a digitalização “não é justificação suficiente”. Afirma ainda que, em Espanha, a redução de bancários tem levado a “fortes declarações dos responsáveis políticos”, o que contribuiu para reduzir o impacto.

O SNQTB já entregou um pré-aviso de greve junto do Santander e o BCP e criou um fundo para apoiar trabalhadores que queiram impugnar o despedimento coletivo.

Já o SINTAF (sindicato afeto à CGTP), num memorando de 19 de agosto, a que a Lusa teve acesso, pede ao Governo, entre outras medidas, “ação imediata para travar os processos já em desenvolvimento” e que sejam promovidas medidas na legislação que “limitem e reduzam o recurso à figura do despedimento coletivo, para evitar que no futuro se replique o aproveitamento que agora está a ser feito deste mecanismo”.

O SINTAF diz ainda que, nestes processos de reestruturação dos bancos, é o “Estado a pagar os custos da salvação dos banqueiros”, enquanto os trabalhadores “perdem direitos, nomeadamente o direito ao trabalho” e recorda o apoio dos portugueses ao setor financeiro desde a crise de 2008, devido à “gestão ruinosa” desses bancos, que anteriormente tinham distribuído pelos acionistas elevados lucros.

O SINTAF acusa os bancos de repressão laboral ao colocarem como únicas alternativas a rescisão ‘amigável’ ou o despedimento coletivo” e ainda de colocar sem funções trabalhadores que querem despedir ou contratarem trabalhadores externos para realizarem esses trabalhos, situações que “violam os mais elementares direitos dos trabalhadores” e que exigem a “intervenção pronta e implacável da ACT”.