Pouco mais de dois quilómetros separam o Café Império e a esquadra da PSP da Rua da Palma. A primeira bem próxima da Alameda, em plena Avenida Almirante Reis, e a segunda mesmo a chegar ao Largo do Martim Moniz. Mas esta tarde houve muito mais do que dois quilómetros a separar estes pontos: de um lado a coligação de direita encabeçada por Carlos Moedas, que contou com a presença dos líderes do PSD e CDS, e do outro a Nuno Graciano, acompanhado por André Ventura.

Se a escolha do lugar foi a mesma, as razões apresentadas são distantes. Enquanto Moedas lembra a sua história de vida e o facto de ter vivido em várias cidades para mostrar a importância da “multiculturalidade para o projeto”, Ventura alerta para a “excessiva islamização das capitais europeias”. Não quer que a visita seja vista como “provocação”, mas insiste na necessidade de se “parar isto a tempo”. E nega que o Chega não queira solidariedade, ao dizer que é preciso “escrutínio e capacidade de filtro em relação a quem vem” para Portugal.

As ruas não estavam propriamente cheias, nem numa nem noutra arruada. Carlos Moedas entrou em algumas lojas, deixou cartazes e tirou selfies ao lado de Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos. Queixou-se da ciclovia que já foi paga “quatro vezes” — e na qual Rui Rio recusou vir, mesmo quando se queixou do trânsito para justificar o atraso de dez minutos —, mas rejeitou ter o futuro do líder do PSD nas mãos pela importância da autarquia.

“Não tenho ninguém na mão, só me tenho a mim, tenho a responsabilidade de uma coligação com cinco partidos, que trouxe muitos independentes e essa é a responsabilidade que eu sinto, perante os lisboetas, de mudar Lisboa”, assegurou o líder da coligação Novos Tempos. E foi isso mesmo que quis mostrar às pessoas com quem se cruzou na rua, que é uma alternativa para pôr fim à liderança do PS na Câmara Municipal de Lisboa.

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Rui Rio está em sintonia com Moedas: “Nem o meu futuro está nas mãos de Carlos Moedas, nem o dele está nas minhas mãos.”

Ao descer a Almirante Reis, sempre com Rui Rio e Rodrigues dos Santos lado a lado e com uma comitiva de perto de 100 pessoas atrás, Moedas não teve imprevistos. O contacto com as pessoas foi praticamente nulo, as poucas pessoas que estavam na rua não deram azo a grandes conversas. “São tempos difíceis”, atirava o candidato à Câmara de Lisboa, que prometia olhar mais para as gentes da cidade.

Ventura no Martim Moniz para alertar contra a “excessiva islamização”

André Ventura, Nuno Graciano e as cerca de 50 pessoas que os acompanhavam tiveram mais contacto com as pessoas, ainda que a zona tenha facilitado. Dos insultos às promessas de voto, Ventura ouviu de tudo. Ao contrário da calma com que Moedas, Rio e Rodrigues dos Santos foram recebidos, o líder do Chega ouviu gritos de força e até promessas de “pode não ser agora, mas nas legislativas tem o meu voto de certeza”.

Por outro lado, nem tudo foram rosas no passeio do Chega pelas ruas de Lisboa. “Não, obrigado”, ouviu várias vezes o líder do Chega ao entregar flyers. “Nem pensar”, dizia uma jovem ao passar na Praça da Figueira. Mas os insultos foram de “racista”, a “nazi” e a “fascista”.

E entre as pessoas que falavam com o líder do Chega, muitos deles alertavam para a dificuldade que era conseguir a nacionalidade portuguesa. “Há quantos anos está em Portugal?”, questionava o líder do partido. “Há mais de 40”, respondeu o cidadão angolano. “E depois vê pessoas que chegaram o ano passado a consegui-la”, argumentava Ventura, que prometia fazer melhor para as pessoas que estão nesta situação.

Entre pedidos de salas de chuto no Intendente — que Ventura admitiu não estar no programa, mas que prometeu não esquecer — e pedidos de ajuda com questões de advogados e bancos — que o líder do partido deixou o contacto e prometeu ajudar —, houve um ponto alto em que Nuno Graciano tomou a palavra: a mesquita que a Câmara Municipal de Lisboa quer construir na Rua Benformoso.

António Barroso, proprietário, estava a 50 metros do local e quis ir contar a história que diz ser “ilegal” e “até quem sabe inconstitucional”. Viu a autarquia a expropriar-lhe dois prédios para construir a mesquita naquela zona e promete lutar até ao fim por algo que é dele há 40 anos. “Não estou contra ninguém, estou contra a forma como eles fizeram”, disse, admitindo que nem se importa de ter outros prédios, mas não perder.

Ventura ouvia atentamente António Barroso e, no final, deixava uma promessa: “Se o nosso candidato for eleito, nem que seja no dia 26, nem que seja como vereador, vai questionar a câmara sobre isso.” “Vou seguramente”, apontava Graciano, que atirou ainda: “Estamos num bairro histórico de Lisboa, a câmara prevê gastar aqui três milhões de euros dos contribuintes, além do choque paisagístico. Não é ser contra a mesquita, mas façam a mesquita onde quiserem, desde que a paguem e não seja aqui. Há tantos terrenos da câmara que podem ser aproveitados, porquê aqui?”

O candidato pelo Chega diz ainda que se reuniu com o Sheik Munir que disse que “é contra o islão moderado construir seja o que for que prejudique terceiros. Aqui prejudica, portanto tememos que haja aqui um Islão radical”.