Pode uma derrota trazer aspetos positivos? Não deixando de ser uma derrota, sim. E foi isso que aconteceu com Portugal na estreia no Campeonato da Europa de voleibol, perdendo por 3-1 com a bicampeã mundial Polónia num encontro em que conseguiu vencer um set e teve alguns períodos de maior consistência em que não ficou atrás dos anfitriões. Era essa mesma consistência que aparecia como base para o segundo encontro, igualmente complicado mas com uma maior janela de oportunidade para comprovar os pontos conseguidos depois da estreia. Ainda assim, a Bélgica prometia ser tudo menos o adversário ideal nesta fase.

David desafiou Golias mas caiu perante o mais forte: Portugal vence um set mas perde com Polónia na festa de Hugo Gaspar

“Os momentos que acabaram por nos penalizar mais foram as sequências de serviços da Polónia, que são ataques dos nove metros. No segundo set servimos bem e segurámos o serviço deles. Faltou um pouco de consistência mas não nos podemos esquecer que estamos a falar do campeão do mundo. Foi positivo e não é por termos ganho um set, mostrámos durante os sets que fomos buscar ali uma ou outra situação que nos dá indicação que é possível. E atenção que a Polónia não é a única equipa favorita. Há quatro equipas favoritas. Amanhã [sexta-feira] defrontamos a Bélgica, que apostou forte na preparação, e eu em oito anos de seleção não me recordo de lhes ganhar. Mostra bem o patamar onde está. E nós vimos a Grécia, as dores de cabeça que deu à Ucrânia [2-3]”, comentou após a partida com os polacos o técnico Hugo Silva.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ia ser tudo menos uma tarefa fácil. Mais uma vez. Poucos recordam mas Portugal chegou a ser quarto num Europeu de voleibol no longínquo ano de 1948, com duas vitórias em cinco jogos, a primeira contra os Países Baixos, a segunda contra a Bélgica. Daí para cá, excetuando a sétima posição em 1951, a Seleção conseguiu somente três participações e já no século XXI, ganhando um jogo em 2005 (3-2, Ucrânia), nenhum em 2011 e um na última edição de 2019 (3-1, Grécia). Agora, o objetivo passava por contrariar o maior favoritismo dos belgas no plano teórico, tendo em vista também os jogos seguintes com Ucrânia e Grécia (com Sérvia pelo meio, um adversário que é o atual campeão europeu e que se junta à Polónia como favorito no grupo A).

No final, Portugal voltou a mostrar que as cinco semanas de trabalho intenso na preparação deste Europeu, que foi antecedido por uma torneio olímpico com quatro equipas do Velho Continente em 12 qualificadas (todas apuradas para os quartos, com a França a ganhar depois ao Comité Olímpico Russo no jogo decisivo), colocaram a equipa a um grande nível de jogo. Voltou a faltar depois a tal consistência para fechar o encontro após ganhar os dois primeiros sets, vacilou até à “negra” depois de uma decisão errada determinante por parte do VAR que abanou e muito com a confiança da equipa no quarto parcial mas, mesmo depois de ter estado a perder por três pontos, conseguiu virar e conseguiu uma fantástica vitória por 3-2.

Desta forma, meio caminho para o feito histórico que seria passar à fase a eliminar está cumprido, tudo apontando para que mais um triunfo, diante Ucrânia, Sérvia ou Grécia, seja suficiente para obter esse marco.

Portugal teve uma entrada melhor no jogo com uma vantagem de 4-1 a que os belgas ainda conseguiram, empatando a sete e a oito antes de três pontos consecutivos da Seleção que passou o resultado para 15-10, um avanço que mesmo não seria determinante após nova igualdade a 20 antes de uma ponta final melhor do conjunto nacional que fechou o primeiro set com 25-23. No segundo parcial, a Bélgica foi superior no início, beneficiou de quatro pontos de vantagem (9-5) mas Portugal voltou a ser capaz de reentrar no jogo, passar para a frente na parte final e somar mais um triunfo por 25-22, ficando apenas a um da vitória.

Quase de forma inevitável, a Bélgica, nona classificada no último Campeonato da Europa há dois anos, teve uma reação forte à desvantagem, voltando aos níveis de jogo que permitiram que desse uma grande réplica na véspera frente à Sérvia (1-3) e fechando o terceiro set com uma vantagem de 25-20 até ao momento que acabou por marcar o jogo: com Portugal na frente por 11-10 no quarto parcial e a jogar com uma enorme confiança em termos ofensivos, os árbitros nem com a revisão do VAR conseguiram ver uma bola que passou claramente por fora da vareta, deram o empate à Bélgica e atiraram a Seleção Nacional para uma espiral de jogo bem diferente, aproveitada da melhor forma pelo adversário para levar tudo para a “negra” (25-18). Aí, depois de um arranque equilibrado, os belgas chegaram a ter três pontos de avanço feitos de forma consecutiva mas Portugal teve uma reação fabulosa e conseguiu fechar o quinto set com 15-13.