Três candidatos às eleições municipais com nomes idênticos e fotografias parecidas no boletim de voto. É o que se passa num município da região de São Petersburgo, na Rússia, país onde já é normal que políticos enfrentem opositores com sobrenomes idênticos, mas não que alterem os seus rostos de forma a confundir ainda mais os eleitores.

Boris Vishnevsky, um membro de longa data do partido liberal Yabloko, foi surpreendido com as fotografias de dois homens com cabeça calva, cabelo cinzento e barba curta, tal como ele, conta o jornal The Guardian. Mesmo o primeiro nome e o apelido são iguais, só mudando o nome de família (que no boletim aparece como último nome, mas que legalmente e na Rússia é o nome do meio).

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A tática de nomear um “duplo” para dividir os votos e entregar a vitória a outro candidato é comum nas eleições russas. Pode mesmo causar efeito numa altura em que cresce o apoio ao Partido Comunista da Federação Russa, o maior rival do partido apoiante de Vladimir Putin — Rússia Unida –, pelo que, cada vez mais, cada voto conta. Com receio de perder a maioria na Duma (o parlamento russo), o Rússia Unida, aparentemente, aposta em sósias para extorquir os votos.

Para Vishnevsky, esta tática é uma “fraude política”. O membro do Yabloko, partido que não tem sequer representação na Duma, diz “nunca ter visto nada assim”. O seu caso distingue-se pela mudança de visual a que se submeteram os outros candidatos, tendo deixado crescer as barbas e os bigodes para as fotografias, e tendo possivelmente enviado imagens alteradas digitalmente para a comissão eleitoral, acredita Vishnevsky. Além disto, a campanha contra este político sobressai porque os nomes foram mesmo alterados a nível legal.

Como conta o jornal britânico, citando também investigações jornalísticas russas, um dos homens terá mudado a sua aparência de forma considerável para a ocasião e trocado o nome de Viktor Bykov para Boris Vishnevsky em julho. Numa imagem oficial usada no site do executivo de São Petersburgo, Bykov aparenta ser bastante mais novo do que na fotografia de agora — será o candidato do meio. Já do outro oponente pouco se sabe. O seu nome anterior é Alexei Shmelev e seria gerente de vendas numa empresa da região.

Nenhum destes homens está a fazer campanha nem apresentações públicas e continua pouco percetível como é que era a sua aparência antes desta semana. O ‘verdadeiro’ Vishnevsky admite não saber qual a sua motivação, mas diz: “Não me parece que eles concordariam em envergonhar-se desta forma de graça.”