A “maior unidade de produção de microalgas da Europa” situa-se às portas de Lisboa, implica um investimento superior a 20 milhões de euros e é liderada pelo grupo empresarial português GreenAqua, explicou na Rádio Observador o administrador Luís Vieira da Silva. O projeto ocupa 10 hectares junto ao parque industrial da HyChem (antiga Solvay Portugal), na Póvoa de Santa Iria. A produção atual é de poucas dezenas de toneladas, mas a capacidade instalada aponta para 270 toneladas anuais.

Convidado do programa O Regresso da Indústria, Luís Vieira da Silva sublinhou que “as microalgas têm neste momento aplicações muito diversas”, podendo ser usadas na alimentação humana, na cosmética, na suplementação ou na alimentação animal. Mas para que isso aconteça, defendeu o empresário, “é preciso que sejam produzidas a uma escala industrial, suficientemente grande para que faça sentido a sua aplicação noutras indústrias”.

No quarto episódio de O Regresso da Indústria interveio também Nuno Coelho, presidente da Algae 4 Future, empresa de biotecnologia com sede em Lisboa, à qual pertence a ideia original da unidade de produção de microalgas — nomeadamente na fase de investigação e desenvolvimento, anterior à fase industrial do projeto, cujo investimento cabe em parte à GreenAqua. Nuno Coelho referiu-se às microalgas como “as mais fantásticas e eficientes máquinas biológicas que se possa imaginar”, capazes de produzir “mais oxigénio do que todas as outras plantas terrestres”.

Explicou ainda que se trata de algas invisíveis a olho nu, compostas por uma só célula e provavelmente existentes no nosso planeta desde há 2,5 mil milhões de anos. São “plantas aquáticas mil vezes mais pequenas que um milímetro”, precisou o presidente da Algae 4 Future. Como qualquer planta verde, as microalgas fazem fotossíntese, isto é, consomem dióxido de carbono (CO2) e libertam oxigénio (O2). “Fazem-no de uma forma muito mais eficiente e portanto têm muito interesse em estar ao pé destas indústrias mais tradicionais”, acrescentou Nuno Coelho. São consideradas “bio-remediadoras”, úteis para equilibrar a qualidade do ar nas imediações de grandes indústrias.

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“Era preciso criar uma disrupção”

A unidade de microalgas da Póvoa de Santa Iria arrancou como conceito há mais de uma década, à época apenas com o apoio de um programa de financiamento da Comissão Europeia. Durante cinco anos foi feita a prova de conceito, um estudo de mercado e o plano de negócios. “O business plan indicava que a esta escala em que estamos a implementar o projeto, tínhamos rentabilidades bastante interessantes. Com uma nuance: o mercado não cresce porque não há oferta e a oferta não aparece porque o mercado não cresce”, contextualizou Luís Vieira da Silva. “Era preciso criar uma disrupção neste ciclo pouco virtuoso e a Green Aqua e os seus acionistas decidiram em 2016 que era o momento para o fazer”, apontou.

O investimento tem tido origem neste grupo empresarial e também no programa Portugal 2020. “Estamos na fase de pôr os equipamentos a funcionar e a fazer os testes no terreno. Estamos a iniciar a nossa operação industrial e comercial neste segundo semestre, achando nós que vamos entrar em velocidade cruzeiro em 2023”, rematou o administrador da GreenAqua.

De resto, desde 2008 que a Algae 4 Future tem colaborado com as indústrias cimenteira, de refinação de petróleo e química — e são também estes os potenciais clientes do projeto. “Com alguma imodéstia: na Europa somos considerados um case study, na forma de transformar investimento público em investigação e desenvolvimento e em negócio”, referiu o Nuno Coelho.

O Regresso da Indústria é uma série de programas que resulta de uma parceria entre a Rádio Observador e a COTEC Portugal – Associação Empresarial para a Inovação, num projecto co-financiado pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Cada episódio é transmitido de 15 em 15 dias, às quartas-feiras, na Rádio Observador (nas frequências 93.7 e 98.7 em Lisboa, 98.4 no Porto e 88.1 em Aveiro) e pode depois ser escutado como podcast. Também às quartas-feiras é publicado quinzenalmente um artigo no Observador com o essencial do programa da semana anterior.