Nos anos 70 e 80, Gianni De Biasi jogou no Inter Milão, no Brescia e no Palermo, entre outros clubes italianos. Em 1990, começou a carreira de treinador nas camadas jovens do Bassano Virtus 55, a última equipa que representou, e de lá para cá orientou a SPAL, o Brescia, o Torino, o Levante, a Udinese e o Alavés. O sucesso, esse, De Biasi só encontrou na primeira experiência enquanto selecionador. E foi também aí que o nome do técnico italiano ficou para sempre ligado à história da Seleção Nacional.

Em dezembro de 2011, De Biasi aceitou o desafio de treinar a seleção da Albânia. Ao longo de quase seis anos, tornou-se o selecionador mais bem sucedido da história do país, levando a Albânia pela primeira vez a uma fase final de uma grande competição ao alcançar o apuramento para o Euro 2016. A conquista valeu-lhe a Ordem da Honra da Nação das mãos do presidente albanês e o italiano só deixou a seleção em 2017, para ir treinar o Alavés. A aventura durou pouco mais de dois meses, De Biasi esteve cerca de dois anos e meio sem trabalho e em julho do ano passado aceitou então o convite do Azerbaijão. Foi ainda com a Albânia, contudo, que se cruzou com Portugal.

Ficha de jogo

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Azerbaijão-Portugal, 0-3

Apuramento para o Campeonato do Mundo 2022

Estádio Olímpico de Baku, em Baku (Azerbaijão)

Árbitro: Marco Guida (Itália)

Azerbaijão: Magomedallyev, Badalov, Hagverdi, Salahli (Sadikhov, 76′), Huseynov, Makhudov, Garayev (Nuriyev, 45′), Khalilzade (Ghorbani, 45′), Alaskarov, Emreli (Bayramov, 62′), Ozobic (Mustafayev, 62′)

Suplentes não utilizados: Dzhenetov, Bayramov, Mustafazade, Sheydaev, Tashgin, Aliyev, Ibrahimli

Treinador: Gianni de Biasi

Portugal: Rui Patrício, João Cancelo, Pepe, Rúben Dias, Raphael Guerreiro (Nuno Mendes, 71′), Bernardo Silva (Otávio, 77′), João Moutinho (João Mário, 77′), João Palhinha (Rúben Neves, 45′), Bruno Fernandes, André Silva, Diogo Jota (Gonçalo Guedes, 77′)

Suplentes não utilizados: Anthony Lopes, Diogo Costa, Nélson Semedo, Trincão, Danilo, Domingos Duarte, Rafa

Treinador: Fernando Santos

Golos: Bernardo Silva (26′), André Silva (31′), Diogo Jota (75′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a João Palhinha (15′), a Alaskarov (16′), a Ghorbani (60′), a Haghverdi (77′), a Nuno Mendes (85′)

Ora, Gianni de Biasi era o selecionador quando a equipa albanesa venceu Portugal, no primeiro jogo da qualificação para o Euro 2016. Na altura, a 7 de setembro de 2014 e há precisamente sete anos, um golo solitário de Bekim Balaj chegou para gelar o Estádio Municipal de Aveiro e derrotar uma equipa portuguesa que contava com João Moutinho, André Gomes, Nani e o ainda não herói Éder. Paulo Bento, ainda a tentar controlar os danos da eliminação na fase de grupos do Mundial do Brasil, não resistiu — deixou o comando da Seleção Nacional e foi substituído por Fernando Santos, que acabou por carimbar o apuramento para o Euro 2016 com sete vitórias nos restantes sete jogos e foi a França conquistar aquele que foi o primeiro troféu da história portuguesa. Os portugueses, com toda a certeza, não se esqueceram. Mas Gianni de Biasi, ao que parece, também não.

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“Gostaria de lembrar que Fernando Santos ainda me deve uma garrafa de vinho do Porto, porque se tornou selecionador de Portugal graças a mim e depois foi campeão europeu em 2016. Esse jogo, o Portugal-Albânia, foi no dia 7 de setembro de 2014”, disse o selecionador azeri na antevisão da partida desta terça-feira contra Portugal, deixando claro que não se esqueceu do dia em que surpreendeu a Seleção e garantiu uma das vitórias mais importantes da história da Albânia. Ora, agora ao comando do Azerbaijão e em Baku, De Biasi voltava a cruzar-se com Portugal, desta feita no apuramento para o Mundial 2022.

Sem Cristiano Ronaldo, que cumpria um jogo de castigo depois de ter visto o segundo amarelo da qualificação contra a Irlanda, Portugal apresentava-se com apenas duas alterações face a essa última partida oficial: João Moutinho e André Silva entravam para os lugares de Rafa e Ronaldo, com Pepe e João Palhinha a recuperarem a titularidade depois de terem sofrido problemas físicos. Na sequência da vitória tirada a ferros contra os irlandeses e da exibição pouco vistosa no particular contra o Qatar, a equipa de Fernando Santos precisava de vencer o Azerbaijão para garantir que se mantinha no segundo lugar do Grupo A e colada à Sérvia — podendo ainda esperar por uma eventual escorregadela dos sérvios em Dublin, contra a Irlanda e também esta terça-feira, para saltar para a liderança.

Em Baku, os primeiros minutos de jogo permitiram perceber que Portugal atuava num 4x3x3 que era quase um 4x1x2x3, já que Palhinha ficava claramente na zona mais recuada do meio-campo e logo à frente da defesa e Bruno Fernandes e Moutinho formavam o pivô intermédio. À frente, André Silva era naturalmente a referência ofensiva, com Bernardo a abrir na esquerda e Jota a dar largura na direita. A Seleção Nacional assumiu o comando da partida desde o início, controlando por completo a posse de bola e não permitindo grandes espaços ao Azerbaijão. A equipa de Fernando Santos atacava principalmente pelo corredor direito, onde João Cancelo ia demonstrando que está efetivamente num grande momento de forma, mas tinha muitas dificuldades para criar verdadeiros desequilíbrios e romper a compacta defesa azeri.

Até perto da meia-hora, o lance mais perigoso de Portugal tinha sido um remate de Diogo Jota contra um defesa adversário depois de um envolvimento de Cancelo (8′). A partir do primeiro quarto de hora, altura em que João Palhinha viu um cartão amarelo e ficou algo limitado para o restava da partida, o jogo entrou numa fase mais morna e lenta, com a Seleção a manter o domínio mas sem conseguir fazer praticamente nada com essa superioridade. Até que, de repente, Bruno Fernandes e Bernardo Silva tiraram um coelho da cartola: o primeiro cruzou para o poste mais distante a partir da esquerda, praticamente no vértice da grande área, e o segundo apareceu em velocidade nas costas do adversário, finalizando com um toque delicioso com a parte exterior do pé esquerdo (26′). Portugal abria o marcador com um lance de entendimento brilhante entre os dois jogadores que atuam na Premier League e colocava-se a vencer através da primeira oportunidade que havia criado.

Depois do golo, o jogo abriu ligeiramente e Portugal passou a permitir mais espaços ao Azerbaijão, até porque retirou alguma intensidade à pressão ao portador da bola. A equipa azeri ficou muito perto de empatar num lance em que a Seleção perdeu a posse numa zona ainda muito recuada, com Salahli a atirar ao lado já na pequena área (29′), mas Portugal acabou por precisar apenas de outra oportunidade para aumentar a vantagem e descansar um pouco mais. Bruno Fernandes voltou a cruzar para o segundo poste, desta feita a partir da direita, e foi Diogo Jota a surgir nas costas do adversário para cruzar atrasado e rasteiro para o remate de André Silva, que estava totalmente sozinho e só precisou e encostar para a baliza (31′).

Até ao intervalo, a equipa de Fernando Santos ainda ficou perto do terceiro golo, com André Silva a atirar ao lado na cara do guarda-redes depois de mais um passe de Bruno Fernandes (35′), e também o Azerbaijão esteve quase a reduzir, com Ozobic a falhar a finalização num lance em que a defesa portuguesa foi demasiado passiva (45+1′). No fim da primeira parte, com Portugal a ganhar de forma confortável, o grande desafio para o segundo tempo passava por não adormecer e não permitir uma resposta do Azerbaijão. Além disso, destacavam-se as exibições de Bruno Fernandes e Bernardo, que eram os grandes dinamizadores do ataque português, e a importância que a presença de Moutinho tem para as funções de Palhinha, que não precisava de se preocupar com toda a largura do campo porque o médio do Wolverhampton encurtava distâncias na hora de defender.

No arranque da segunda parte, Fernando Santos decidiu tirar João Palhinha, muito provavelmente devido ao cartão amarelo que o médio do Sporting já tinha, e lançar Rúben Neves. Portugal ficou novamente perto do terceiro golo nos minutos iniciais do segundo tempo, com Jota a atirar ao lado depois de um cruzamento letal de Bruno Fernandes (48′), e o Azerbaijão continuava sem conseguir responder à superioridade portuguesa apesar de também ter feito duas alterações ao intervalo. A Seleção Nacional jogava praticamente sem pressão, trocava a bola durante longos minutos já no meio-campo adversário e ia depois procurando chegar a finalizações, com Bruno Fernandes e Bernardo a terem oportunidades para marcar com dois remates que o guarda-redes azeri defendeu (55′ e 58′).

A dinâmica da partida não se alterava e o selecionador do Azerbaijão voltou a mexer com duas substituições de uma vez. O grande objetivo da seleção azeri passava principalmente pelos cruzamentos para a área e pelas bolas paradas, onde os jogadores de maior estatura procuravam surpreender a defensiva portuguesa, mas a ajuda de elementos como André Silva e João Cancelo a Pepe e Rúben Dias na hora de defender lances como pontapés de canto ia afastando o perigo da baliza de Rui Patrício.

Portugal acabou por chegar naturalmente ao terceiro golo, com João Cancelo a desequilibrar novamente no corredor direito para depois cruzar para o coração da grande área, onde Diogo Jota apareceu a cabecear sem qualquer oposição (75′). Fernando Santos aproveitou o alargar da vantagem para fazer três substituições de uma vez, lançando Otávio, João Mário e Gonçalo Guedes para refrescar o meio-campo e dar outra velocidade ao ataque.

Até ao fim, já pouco aconteceu. Portugal venceu o Azerbaijão em Baku num jogo em que Rui Patrício praticamente não teve trabalho e a equipa de Fernando Santos acabou por realizar a exibição mais completa deste triplo compromisso, com três golos dos três avançados titulares, mantendo-se no topo do Grupo A da qualificação para o Mundial 2022 e ficando à espera do resultado da Sérvia contra a Irlanda. Bernardo e Bruno Fernandes, responsáveis por um golo e duas assistências, foram os elementos mais inspirados da Seleção Nacional e mostraram que nunca serão um plano B na ausência de Cristiano Ronaldo — são, serão sempre, parte do plano A.