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O debate quente entre o "camaleão moderninho" e o "diretor de marketing"

Este artigo tem mais de 2 anos

Pouco corajoso, cata-vento, baixo, desconhecedor da realidade. Arrogante, propagandista, incompetente, conivente com a falta de ética. O debate a dois entre Medina e Moedas foi aceso até ao fim.

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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Arrancou a ferver o frente-a-frente, na TVI, entre Fernando Medina e Carlos Moedas, que combatem pela Câmara de Lisboa nestas autárquicas. Logo pelos casos de corrupção e a investigação do Ministério Público a Manuel Salgado, o ex-vereador do urbanismo de vários executivos socialistas e que continua como conselheiro próximo de Medina. “Temas muito sérios”, denunciava Moedas, juntando o caso recente que envolve o vereador de Ricardo Veludo e a escolha de Inês Lobo, número dois da lista de Medina. O social-democrata tentava marcar o ritmo, mas Medina crescia do lado de lá: “Não faço campanha como o Carlos com base nas primeiras páginas do Correio da Manhã“. A primeira imagem foi mesmo a imagem do debate que foi de bate-boca em bate-boca, sempre em ambiente crispado entre Fernando e Carlos.

No início foi assim, pelo nome próprio, que se foram logo tratando, com o socialista a acusar o social-democrata de ser “um camaleão” e mudar de discurso (e de promessas) consoante o auditório, de não ter propostas para a cidade e, acima de tudo, de “aproveitar politicamente” casos de justiça para fazer campanha. Minando até o terreno futuro de Moedas, Medina atirou mesmo que o candidato do PSD “está a marcar muito bem o que vai ser o futuro da sua trajetória política que, com o que tem demonstrado, não será longo“.

Perante este metralhar de ataques, Carlos Moedas insistia que “as pessoas estão cansadas” de Medina, tentando atingir o autarca na sua área-bandeira, a Habitação: “O Fernando é um ótimo diretor de marketing“. Seguiu sempre assim o debate entre os dois principais candidatos a Lisboa — o incumbente que o social-democrata apelida de “arrogante” e que é acusado de  ser “camaleão” –, numa tensão irritada de parte a parte em todas as área de governação camarária abordadas.

Corrupção. Não foi só Moedas a trazer casos

Foi o tema de entrada no debate e Fernando Medina jurou duas coisas, nesta matéria, quando confrontado pela moderadora e, depois, pelo adversário: que a CML está a ter a “postura institucional correta” no caso Salgado e que a sua número dois e trunfo para o urbanismo, a arquiteta Inês Lobo, não vai manter qualquer ligação ao atelier de arquitetura que tem projetos da Câmara — atribuídos por concurso público.

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“Deixará de ter qualquer atividade de natureza privada e não terá o seu gabinete de anterior de arquitetura não terá relação com os projetos” da CML, garantiu Medina em resposta às suspeições atiradas por Moedas em torno dos serviços de Urbanismo na Câmara de Lisboa. “Eticamente os lisboetas precisam de uma resposta. Não são casos e casinhos. Estamos a falar de 28 mandatos de busca e 12 processos. São temas muito sérios e as pessoas estão cansadas.”

“Inês Lobo ainda não foi eleita, quando for e antes de tomar posse obviamente não terá essa ligação”, cortou Medina,  aplicando uma farpa ao adversário: “Mas uma coisa é certa, não vai passar as quotas da sociedade de arquitetura para o marido“.

Carlos Moedas encaixou. Pediu a palavra para dar nota disso mesmo, que tinha de responder. Medina tinha acabado de ressuscitar um velho fantasma: quando Moedas foi para o Governo de Passos, em 2011, teve de desfazer-se das suas participações na promotora imobiliária Crimson Investment Management que transformou numa sociedade unipessoal mas em nome da sua mulher. Afinal também Medina trazia casos para passar ao ataque.

Transportes. “Moderninho” para lisboeta ver

“Mais uma bola e Natal”. Já não é de hoje a acusação de Medina a Moedas de estar a “prometer tudo a todos” e apareceu outra vez no tema da mobilidade urbana, quando o socialista atacou a ideia do social-democrata de criar parques dissuasores à entrada da cidade para retirar transporte individual da circulação urbana. “300 mil carros são 300 parques de estacionamento que metemos no Marquês, à porta de Lisboa?”. Do outro lado, Moedas dizia que essa ideia era de Medina em 2017 ao mesmo tempo que o responsabilizava por ter transformado a rede de transportes de Lisboa “na pior da Europa”.

“Não é verdade”, retorquia Medina do lado de lá da mesa, visivelmente irritado já depois de ter apontado a “chocante” ausência no programa do adversário: “Não tem uma palavra sobre a redução de emissões dos transportes que é a maior fonte de emissão na cidade de Lisboa”.

A partir daí, o socialista foi picando Moedas com uma única pergunta enquanto o social-democrata insistia na defesa de transportes gratuitos para jovens até 23 anos e para pessoas com mais de 65 anos, sem aplicar qualquer condição de recurso: “Qual o valor do passe social dos idosos, diga lá?”

Não obteve resposta e embandeirou em arco com isso mesmo, ao aconselhar Moedas a informar-se e a agitar que os idosos “pagam hoje 15 euros por mês, 50 cêntimos por dia” para andar de transportes na cidade.

Na recarga, Moedas pegou no controverso temas das ciclovias, voltou a prometer que vai acabar com a polémica via para ciclista na Almirante Reis e a apontar os “problemas de segurança” na rede: “Alguém em Lisboa põe um filho de 14 anos a ir para a escola com estas condições de segurança?”.

Medina aproveitou a deixa para o acusar de “querer parecer moderninho” mas de acabar na defesa do automóvel e saltou da cadeira quando ouviu Moedas dizer que “em 2019, morreram 26 pessoas nas ciclovias“. Medina rematou aconselhando o adversário a confirmar os números que levou para o debate.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Habitação. Rico, eu?

Foi um dos momentos mais divisivos do debate até porque é um dos calcanhares de Aquiles de Fernando Medina: das 6 mil casas de renda acessível em Lisboa prometidas por Medina, só foram entregues 700 casas.

Moedas apareceu em jogo disposto a explorar esse flanco e defendeu que a “habitação era um dos maiores falhanços” do adversário. Insistiu nos problemas crónicos da cidade, denunciou as situações “indignas” em que vivem muitos lisboetas (chegou mesmo a mostrar uma fotografia de uma dessas habitações), garantiu que vai avançar, entre outras coisas, com a criação de 2 mil fogos de rendas acessíveis e insistiu na defesa da isenção do IMT para jovens na aquisição de primeira habitação até 250 mil euros.

Medina usou a força do adversário (a habitação, e é Medina a reconhecê-lo, continua a ser uma dor de cabeça para a autarquia) contra Moedas: as propostas do social-democrata, defendeu o presidente da Câmara, nunca resolverão o problema e são próprias de quem tem um “desconhecimento muito grande do que é a cidade e o tecido social de Lisboa”.

Argumento de Medina: qualquer isenção do IMT (“um pequeno descontinho”, nas palavras do socialista) é irrelevante uma vez que dificilmente um jovem em condições normais terá capacidade de reunir cerca de 50 mil euros para dar de entrada na compra de um imóvel por esses valores.

A discussão guinou depois para um debate sobre o que é ser rico (com Medina, para dar força ao seu argumento, a assumir que sim, quando “comparado com a média dos lisboetas”), sem que os dois recuassem nos ataques: Medina sacou da “Lei Cristas” para tentar corresponsabilizar o social-democrata pela expulsão dos mais velhos dos centros urbanos; e Moedas a acusar o socialista de se comportar como um “diretor de marketing”, vendendo uma realidade que não existe e um currículo de presidente que não tem.

Impostos. Direita vs. esquerda e (a outra) bancarrota

É uma bandeira de Carlos Moedas nesta campanha (até como forma de se afirmar no campo ideológico que o patrocina): a Câmara de Lisboa tem de reduzir impostos, “taxas e taxinhas”, e devolver 32 milhões de IRS aos lisboetas retidos pela autarquia.

Se o debate sobre carga fiscal — aplicado à realidade concreta — poderia, em teoria, mimetizar a discussão entre os blocos da direita e da esquerda, a verdade é que, no caso de Lisboa, os papéis invertem-se: foi António Costa, quando herdou a autarquia de oito anos de governação social-democrata, quem iniciou a trajetória de redução da dívida da autarquia.

Medina não resistiu ao usar o argumento da “bancarrota” para tentar justificar as cautelas redobradas nessa matéria. “A Câmara de Lisboa é a autarquia na AML que paga os impostos mais baixos. Não se deve avançar mais neste caminho. É preciso assegurar as contas certas”, disse o socialista.

O social-democrata manteve a sua posição, contestou os méritos do governo socialista — o negócio da venda dos terrenos do aeroporto da Portela, desenhado entre o Governo de Pedro Passos Coelho e António Costa, permitiu à autarquia encaixar 286 milhões de euros e reduzir então a dívida em 43% — e insistiu na necessidade de baixar os impostos. “As pessoas estão fartas de pagar impostos”, insistiu Moedas.

Medina apareceu ao ataque, apostado em demonstrar por ‘a+b’ a fragilidade das propostas do social-democrata, tentando que as suas próprias debilidades ficassem pouco evidentes; Moedas tentou marcar pontos em todas as áreas caras ao seu eleitorado (alegada corrupção na autarquia, trânsito, falta de habitação, excesso de impostos), sem fugir ao bate-boca com o socialista. Se dúvidas houvesse que os dois estão numa evidente e incorrígivel rota de colisão, este debate a dois dissipou-as por completo.

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