A necessidade de cumprir os limites de emissões de dióxido de carbono (CO2) determinados pela União Europeia vai levar os construtores a apostar fortemente nos veículos eléctricos, o que implica investimentos avultados com que só os mais fortes, financeiramente, conseguem lidar. Mas há construtores e construtores, pois se o Grupo Volkswagen vende mais de 9 milhões de veículos/ano (em todo o mundo), há outros que ficam abaixo das 10.000 unidades. Daí que Itália peça que a UE faça “vista grossa” em relações a fabricantes icónicos como a Ferrari, Lamborghini e Pagani.

Bruxelas decidiu que 2035 marcará o fim dos motores térmicos para os modelos comercializados na União, o que coloca as marcas desportivas italianas num aperto. Daí que, segundo a Bloomberg, Roberto Cingolani, o ministro italiano para a Transição Ecológica do Governo de Mario Draghi, tenha pedido à UE leniência, não para os fabricantes de volume transalpinos, como a Fiat e a Alfa Romeo, mas sobretudo para a Ferrari e a Lamborghini, que em 2020 venderam apenas 9100 e 7400 unidades, respectivamente.

Cingolani, que está a promover a construção no seu país de uma gigafábrica de baterias, admitiu inicialmente que não esperava grandes dificuldades em convencer Bruxelas a condescender em relação aos seus pequenos construtores de luxo. Mas depois deixou claro que é necessário que também estas marcas desportivas façam a evolução rumo à electromobilidade.

Itália conta com o apoio do presidente da Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA), Oliver Zipse, que também é CEO da BMW. Zipse afirmou que “para construtores muito pequenos, que dificilmente representam um papel importante no conjunto global das emissões, há bons argumentos para considerar esta isenção”.

Porém, para quebrar esta harmonia, eis que surge a Porsche, que hoje é um construtor generalista quando comparada com a Ferrari e Lamborghini, vendendo maioritariamente SUV e não coupés superdesportivos. Apesar de pertencer à Volkswagen AG, tal como a Lamborghini, a Porsche está contra a possibilidade de as referidas marcas italianas continuarem a utilizar os seus motores V8 e V12. Durante o Salão de Munique, o seu CEO, Oliver Blume, defendeu que as facilidades que Bruxelas poderá estender aos construtores de nicho italianos “não seriam razoáveis” e que “todos os fabricantes devem participar na luta contra as alterações climáticas”.

Não deixa de ser curiosa esta postura da Porsche, decididamente pró-ambiente, bem diferente da sua conduta durante o Dieselgate, em que visaram defraudar esse mesmo ambiente, o que levou ao afastamento e prisão de alguns dos seus quadros e ex-quadros. A indústria não pára e mesmo que a Ferrari, Lamborghini e Pagani continuem a fabricar as suas “pérolas” a gasolina para os clientes tradicionais, certamente electrificadas, vão surgir cada vez mais clientes jovens e mais sensíveis às novas tecnologias que vão preferir os superdesportivos eléctricos. Tanto mais que são mais rápidos, velozes e não necessariamente mais caros.

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