Os movimentos independentistas catalães vão testar a sua capacidade de mobilização durante uma manifestação marcada para sábado em Barcelona para comemorar o Dia da Catalunha, conhecido por “Diada”.

A mobilização tem lugar poucos dias antes do reinício previsto das negociações com o Governo central espanhol sobre as relações entre esta comunidade autónoma e o Estado central.

As tensões entre as duas partes voltaram a subir esta semana com o anúncio surpresa feito por Madrid, na quarta-feira, de que suspendia um projeto controverso de expansão do aeroporto de Barcelona, devido à “perda de confiança” no governo regional separatista.

O projeto, denunciado por ambientalistas e envolvendo um investimento de 1,7 mil milhões de euros, tinha sido objeto de um acordo no início de agosto entre as duas partes.

“O governo mostrou que não tem qualquer desejo de diálogo”, disse na quinta-feira o presidente regional catalão, o separatista moderado Pere Aragonès, que foi eleito para o cargo em maio.

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Esta nova frente no conflito entre Madrid e Barcelona foi iniciada dois dias antes da “Diada”, que se tornou palco de grandes manifestações pró-independência durante a última década, e, sobretudo, uma semana antes do reinício previsto das negociações para encontrar uma solução para a crise catalã.

Com o slogan “Vamos lutar para conquistar a independência”, os apoiantes pró-independência esperam tomar as ruas de Barcelona no sábado à tarde não se esperando que consigam mobilizar tantas pessoas como os cerca de 1,8 milhões que conseguiram em 2014.

O Dia da Catalunha (“Diada”) assinala a conquista de Barcelona pelo rei de Espanha Filipe V em 1714, depois de um cerco de 14 meses, mas o dia tem sido utilizado nos últimos anos para defender a causa da independência, com imagens, que passam em televisões de todo o mundo, de uma concentração ordeira e de grandes dimensões.

A última concentração, em 2020, não teve a mesma importância da de anos anteriores, devido às medidas em vigor de luta contra a Covid-19.

A “Diada” de 2020 foi marcada também por vários atos de vandalismo que afetaram sobretudo a circulação ferroviária na Catalunha.

O ex-presidente catalão Carles Puigdemont, que está fugido à Justiça espanhola, defendeu na quinta-feira, nas celebrações da “Diada” em Bruxelas, organizadas pela delegação do Governo regional junto da União Europeia, o direito dos catalães a “serem independentes a fim de preservar a [sua] nação”.

No entanto, o contexto mudou radicalmente desde a tentativa falhada de independência feita em outubro de 2017.

A principal exigência do movimento pró-independência é a realização de um referendo sobre a autodeterminação da Catalunha, que tem uma população de 7,8 milhões de habitantes num total de cerca de 47,4 milhões em Espanha.

Em outubro de 2017, o governo regional separatista, liderado então por Carles Puigdemont, realizou um referendo, apesar da oposição do Governo central e da sua proibição pelos tribunais, que foi seguido, algumas semanas mais tarde, por uma declaração unilateral de independência.

O Governo espanhol, na altura nas mãos do Partido Popular (direita), dissolveu o parlamento regional, o que precipitou a queda do Governo catalão, e marcou novas eleições, que foram novamente ganhas pelos partidos separatistas.

Essa tentativa de independência frustrada marcou uma das piores crises políticas em Espanha desde o fim da ditadura de Franco em 1975.

Três anos e meio após a tentativa fracassada de independência, os partidos pró-independência reforçaram novamente, nas eleições regionais de 14 de fevereiro último, a sua maioria absoluta, com 74 dos 135 assentos do parlamento regional.

Num gesto de “reconciliação”, o atual Governo de Pedro Sánchez indultou em junho passado os nove líderes pró-independência que tinham sido condenados a penas entre nove e 13 anos de prisão pelo seu papel na tentativa de secessão.

O movimento pró-independência também sofreu um revés no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que esta semana confirmou que tinha rejeitado as queixas de duas pessoas que afirmavam ter sido vítimas de violência policial durante o referendo de 2017.