Vinícius Júnior chegou ao Real Madrid em julho de 2018. O negócio com o Flamengo tinha ficado fechado um ano antes e até era suposto que o jogador regressasse ao Brasil, por empréstimo, depois de ser apresentado nos merengues. Algo que nunca aconteceu — até porque nesse mesmo verão de 2018, logo depois do Mundial da Rússia, Cristiano Ronaldo mudou-se para a Juventus e deixou vago um lugar no ataque dos espanhóis. Vinícius, na altura com apenas 18 anos, era a primeira peça de um xadrez que tinha a responsabilidade de fazer esquecer Ronaldo.

De lá para cá, porém, Vinícius nunca conquistou por completo os adeptos do Real Madrid. Ou era pouco eficaz ou era pouco intenso ou era pouco eficaz. Nunca era o ideal. A lesão grave que sofreu logo na temporada de estreia, num jogo da Liga dos Campeões contra o Ajax, encerrou em março a época do jovem jogador brasileiro e deixou todas as concretizações adiadas para o ano seguinte. Mas a verdade é que Vinícius nunca se escondeu. Com Lopetegui, com Zidane e com Solari, mesmo não sendo frequentemente a opção inicial e primordial, estava sempre pronto para saltar do banco e ser uma solução.

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E é precisamente isso que explica os números do brasileiro. Sem ser sempre parte do onze inicial, Vinícius participou em mais de 30 jogos nas três temporadas completas que já cumpriu no Real Madrid e na última, em 2020/21, atingiu até um máximo de golos pelos merengues, tendo apontado seis ao longo de toda a época. Chegado a 2021/22, em boa forma física e com a certeza de que é uma das grandes apostas de Carlo Ancelotti, Vinícius parece estar pronto para explodir e provou-o no último jogo, no primeiro regresso ao Santiago Bernabéu desde 2020, onde marcou um golo e assinou uma exibição brilhante na goleada imposta ao Celta Vigo.

“Foi tudo muito especial. Sabíamos que os adeptos iam estar connosco e iam apoiar-nos em todos os momentos. De claro, a perder 1-2 ao intervalo tínhamos a certeza de que o apoio dos adeptos seria a chave se quiséssemos dar a volta. Esse alento que nos deram foi fundamental. Esse apoio sente-se e torna tudo mais fácil”, conta Vinícius numa longa entrevista ao AS onde passa por vários temas e confirma o facto de estar num dos melhores períodos da ainda curta carreira. Para o brasileiro, jogar durante mais de um ano à porta fechada em Valdebebas, no centro de treinos do Real Madrid e devido às obras de renovação do Santiago Bernabéu, foi “muito difícil”. “Sobretudo para mim, que gosto de jogar para os adeptos, estou habituado à paixão com que se vive o futebol no Brasil. Reparar no alento das pessoas quando estás ali em baixo é algo único. Por isso, acreditamos que o regresso do público será mais fácil lutar pelo maior número de títulos”, acrescenta.

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Muitas vezes criticado pela falta de eficácia, Vinícius explica que o facto de estar a melhorar é “o produto de muito trabalho”. São muitas horas a treinar em Valdebebas e a lutar para melhorar a definição. Desde que cheguei a Madrid que sempre disse que chegaria a hora em que marcaria muitos golos seguidos. Desde que começou a temporada que me sinto muito bem. Tenho a confiança que o mister me dá, assim como toda a equipa técnica. Essa confiança faz-me pensar que posso falhar e que, se acontecer, volto a tentar outra vez”, afirma, adiantando depois que “trabalhou muito” com Ancelotti e que o treinador italiano o tem “ajudado a melhorar”.

Durante a janela de transferências, o nome de Vinícius chegou a ser colocado na porta de saída do Real Madrid — nunca a título definitivo mas por empréstimo, para poder ser titular com maior regularidade e jogar mais. O brasileiro, de forma clara, rejeita a ideia. “Eu só quero triunfar em Madrid, pelo meu presidente e pelos adeptos que sempre me apoiaram sem reservas. A minha família e eu queremos estar muito anos em Madrid e não quero viver outra experiência. Há aqui jogadores que já levam muitas temporadas e já ganharam muitas coisas. Eu quero ser como eles”, explica, referindo que é muito próximo dos brasileiros Casemiro, Éder Militão e Rodrygo mas também dos jovens Fede Valverde, Miguel Gutiérrez e Eduardo Camavinga, o francês que acabou de chegar do Rennes.

Questionado sobre o facto de ter estado no seio de uma conversa entre Benzema e Mendy gravada no túnel de acesso ao relvado, em que o primeiro dizia ao segundo para não passar a bola ao brasileiro, Vinícius garante que tudo está sanado e que agora tem uma boa relação com o avançado francês. “Jogar com o Karim é incrível, sempre fui fã dele desde criança. É um prazer jogar ao seu lado e ele ajuda-me sempre. É um dos melhores jogadores da história e gosto muito de jogar com ele. Fala sempre comigo em campo e fora dele também. Ajudou-me, aliás, quando eu não sabia se ia conseguir triunfar. Falamos mesmo muito dentro de campo. Antes do jogo contra o Celta Vigo, disse-me que eu ia ajudá-lo a marcar um golo e fi-lo com o penálti que sofri e que ele marcou. Por isso é que olhei para ele quando caí. Sabia que ele ia marcar”, revela o jovem jogador, que termina a entrevista com a assunção de que é um admirador de Mbappé e de que vai adquirir a nacionalidade espanhola.