A ameaça pairava há várias semana e consumou-se esta quarta-feira. O primeiro-ministro britânico avançou mesmo com uma remodelação governamental, e foi chamando um a um ao n.º 10 de Downing Street grande parte dos seus ministros, sucedendo-se uma autêntica dança de cadeiras, em que alguns ministros foram afastados e outros foram promovidos.
Boris Johnson prepara-se para a segunda metade do seu mandato e a remodelação governamental foi uma forma de afastar alguns dos ministros menos populares e, por outro, revigorar a imagem do governo, que tem acumulado algum desgaste nos últimos meses e que terá pela frente a difícil recuperar uma economia fortemente abalada pela pandemia de Covid-19.
The Cabinet I have appointed today will work tirelessly to unite and level up the whole country.
We will build back better from the pandemic and deliver on your priorities.
Now let’s get on with the job.
— Boris Johnson (@BorisJohnson) September 15, 2021
“O governo que indiquei hoje trabalhará incansavelmente para unir e nivelar todo o país. Vamos recuperar melhor da pandemia e cumpriremos as vossas prioridades Agora vamos ao trabalho”, afirmou Boris Johnson numa publicação na rede social Twitter.
A primeira baixa anunciada, e que já era esperada, foi Gavin Williamson, que até aqui desempenhava o cargo de ministro da Educação. Williamson, recorda a BBC, enfrentou duras críticas pela forma como geriu as interrupções no calendário escolar e os exames para a universidade durante a pandemia de Covid-19, e estava bastante fragilizado. Para o lugar Williamson, entrou o até então secretário de Estado para as Vacinas, Nadhim Zahawi.
It has been a privilege to serve as Education Secretary since 2019. Despite the challenges of the global pandemic, I’m particularly proud of the transformational reforms I’ve led in Post 16 education: in further education colleges, our Skills agenda, apprenticeships and more.
— Gavin Williamson (@GavinWilliamson) September 15, 2021
Outra saída que estava iminente era a do ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, muito criticado no último mês pela forma como geriu a crise no Afeganistão, agravada pelo facto de ter estado de férias enquanto os talibãs conquistavam Cabul, precisamente há um mês. Raab deixa a pasta da política externa britânica e torna-se vice-primeio-ministro e ministro da Justiça, substituindo Robert Buckland, que abandona o executivo.
1/2 It has been a privilege to serve as Foreign Secretary,overseeing a merger of departments, publication of the Integrated Review & the UK’s Indo-Pacific tilt. Global Britain ???????? is a force for good in the world served by the finest cadre of diplomats & development experts.
— Dominic Raab (@DominicRaab) September 15, 2021
A nova ministra dos Negócios Estrangeiros passa a ser Liz Truss, que até agora chefiava a pasta do Comércio Externo. Liz Truss acumula ainda a pasta das Mulheres e da Igualdade, enquanto para o seu lugar no Comércio entra Anne-MarieTrevelyan.
It’s been a huge privilege to serve as Secretary of State @mhclg. Thank you to everyone at the department for their hard work, dedication and friendship. I’m deeply proud of all we achieved.
I will continue to support the Prime Minister and the Government in every way I can.
— Robert Jenrick (@RobertJenrick) September 15, 2021
Também o ministro da Habitação, Robert Jenrick, deixa o governo de Boris Johnson, e é substituído por Michael Gove, que até então era ministro de Estado. O responsável pela pasta deixada vaga por Gove passa a ser Stephen Barclay.
Por fim, o até então ministro da Cultura Oliver Dowden passa a ser ministro sem pasta, e é substituído no cargo por Nadine Dorries.
A escolha dos ministros que saíram ou mudaram de pasta não foi feita por acaso. Conforme notou o jornalista Jim Pickard, do Financial Times, Boris Johnson afastou, precisamente os quatro ministros menos populares do governo.
fascinating correlation between 1] who got demoted/sacked and 2] who is unpopular with @ConHome readers pic.twitter.com/zrXHxA0vzG
— Jim Pickard (@PickardJE) September 15, 2021
Por outro lado, entre os ministros que se mantêm no cargo, destaque para a ministra da Administração Interna, Priti Patel, que resistiu apesar de ter sido um nomes apontados pela imprensa britânica nas últimas semanas à porta de saída. Rishi Sunak, ministro das Finanças — um dos políticos mais populares do Reino Unido e apontado, até, como hipotético sucessor de Boris Johnson no futuro — também mantém o cargo.
A huge privilege to continue serving as Home Secretary under our Prime Minister Boris Johnson.
There is still so much more to do to deliver for the British people. Tackling illegal migration, cutting crime and continuing to keep our great country safe.
????????
— Priti Patel (@pritipatel) September 15, 2021
Desde que ganhou as eleições em 2019, Boris Johnson, que tem a seu favor uma confortável maioria no parlamento britânico, tem mantido praticamente intacto o seu executivo. A maior mudança, até esta remodelação, deu-se em fevereiro de 2020, quando o então ministro das Finanças, Sajid Javid, se demitiu, sendo substituído por Rishi Sunak. Javid, no entanto, voltaria ao executivo em julho deste ano, substituindo Matt Hancock, envolto em vários polémicas, na pasta da Saúde.
Nos últimos meses, no entanto, o governo de Boris Johnson tem vindo a acusar desgaste, com os problemas nas cadeias de abastecimento a fazerem mossa. Além disso, perante a crise no Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês), o primeiro-ministro britânico anunciou, na semana passada, o maior aumento de impostos dos últimos 70 anos, o que lhe valeu críticas inclusive dentro do próprio partido.