A ameaça pairava há várias semana e consumou-se esta quarta-feira. O primeiro-ministro britânico avançou mesmo com uma remodelação governamental, e foi chamando um a um ao n.º 10 de Downing Street grande parte dos seus ministros, sucedendo-se uma autêntica dança de cadeiras, em que alguns ministros foram afastados e outros foram promovidos.

Boris Johnson prepara-se para a segunda metade do seu mandato e a remodelação governamental foi uma forma de afastar alguns dos ministros menos populares e, por outro, revigorar a imagem do governo, que tem acumulado algum desgaste nos últimos meses e que terá pela frente a difícil recuperar uma economia fortemente abalada pela pandemia de Covid-19.

“O governo que indiquei hoje trabalhará incansavelmente para unir e nivelar todo o país. Vamos recuperar melhor da pandemia e cumpriremos as vossas prioridades Agora vamos ao trabalho”, afirmou Boris Johnson numa publicação na rede social Twitter.

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A primeira baixa anunciada, e que já era esperada, foi Gavin Williamson, que até aqui desempenhava o cargo de ministro da Educação. Williamson, recorda a BBC, enfrentou duras críticas pela forma como geriu as interrupções no calendário escolar e os exames para a universidade durante a pandemia de Covid-19, e estava bastante fragilizado. Para o lugar Williamson, entrou o até então secretário de Estado para as Vacinas, Nadhim Zahawi. 

Outra saída que estava iminente era a do ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, muito criticado no último mês pela forma como geriu a crise no Afeganistão, agravada pelo facto de ter estado de férias enquanto os talibãs conquistavam Cabul, precisamente há um mês. Raab deixa a pasta da política externa britânica e torna-se vice-primeio-ministro e ministro da Justiça, substituindo Robert Buckland, que abandona o executivo.

A nova ministra dos Negócios Estrangeiros passa a ser Liz Truss, que até agora chefiava a pasta do Comércio Externo. Liz Truss acumula ainda a pasta das Mulheres e da Igualdade, enquanto para o seu lugar no Comércio entra Anne-MarieTrevelyan.

Também o ministro da Habitação, Robert Jenrick, deixa o governo de Boris Johnson, e é substituído por Michael Gove, que até então era ministro de Estado. O responsável pela pasta deixada vaga por Gove passa a ser Stephen Barclay.

Por fim, o até então ministro da Cultura Oliver Dowden passa a ser ministro sem pasta, e é substituído no cargo por Nadine Dorries.

A escolha dos ministros que saíram ou mudaram de pasta não foi feita por acaso. Conforme notou o jornalista Jim Pickard, do Financial Times, Boris Johnson afastou, precisamente os quatro ministros menos populares do governo.

Por outro lado, entre os ministros que se mantêm no cargo, destaque para a ministra da Administração Interna, Priti Patel, que resistiu apesar de ter sido um nomes apontados pela imprensa britânica nas últimas semanas à porta de saída. Rishi Sunak, ministro das Finanças — um dos políticos mais populares do Reino Unido e apontado, até, como hipotético sucessor de Boris Johnson no futuro — também mantém o cargo.

Desde que ganhou as eleições em 2019, Boris Johnson, que tem a seu favor uma confortável maioria no parlamento britânico, tem mantido praticamente intacto o seu executivo. A maior mudança, até esta remodelação, deu-se em fevereiro de 2020, quando o então ministro das Finanças, Sajid Javid, se demitiu, sendo substituído por Rishi Sunak. Javid, no entanto, voltaria ao executivo em julho deste ano, substituindo Matt Hancock, envolto em vários polémicas, na pasta da Saúde.

O aumento de impostos, as prateleiras vazias nos supermercados e a queda nas sondagens. Boris Johnson está a perder o controlo?

Nos últimos meses, no entanto, o governo de Boris Johnson tem vindo a acusar desgaste, com os problemas nas cadeias de abastecimento a fazerem mossa. Além disso, perante a crise no Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês), o primeiro-ministro britânico anunciou, na semana passada, o maior aumento de impostos dos últimos 70 anos, o que lhe valeu críticas inclusive dentro do próprio partido.