Já vem de alguns anos uma característica muito especial do Borussia Dortmund relativamente à Liga dos Campeões, visto que no campeonato, por mais que lute todos os anos, o Bayern Munique, com mais ou menos dificuldade, parece conseguir sempre o caneco doméstico. Foram precisamente os bávaros que ganharam uma final da competição ao Dortmund, então treinado por Klopp, em 2012/2013, numa temporada fantástica para uma equipa que vinha de um bicampeonato alemão, sendo aliás a última equipa a ganhar a Bundesliga antes de começar a senda de triunfos do Bayern.

Mas, em relação à Liga dos Campeões, a característica principal do Dortmund, e com a qual o Sporting terá de ter cuidado, é que qualquer resultado é aceitável e possível — digamos. Claro que a equipa de Marc Rose até é a favorita neste grupo e se não passar poderá ser surpreendente, mas, tal como nos últimos anos, o B. Dortmund é um candidato dissimulado, mesmo que não pareça. Tanto pode ficar pelos oitavos como chegar às meias-finais e isso faz do conjunto alemão uma equipa sempre perigosa e com hipótese em tudo o que é jogo, tudo o que é competição. É assim na Alemanha, é assim na Europa. Se depois consegue ou não, é outra história.

Apesar de ter vendido Jadon Sancho ao Manchester United, o Borussia Dortmund é uma equipa muito, muito jovem. Mas podendo falar-se de Bellingham, Reyna ou Moukoko, a conversa (e a bola) vai quase sempre parar ao mesmo homem: o fenómeno Erling Haaland, que aos 21 anos já se estabeleceu como um dos avançados de referência do futebol mundial, sendo constantemente associado a outros grandes clubes do futebol europeu. O norueguês leva oito golos e três assistências em seis jogos e a coisa promete não parar por aqui, tal como o técnico Marc Rose diz: “É um jogador excelente, todos sabemos. E sabemos que tem potencial para se desenvolver. A nível do jogo de cabeça ele mostrou frente ao Leverkusen que está a trabalhar nisso também e marcou um belo golo de cabeça. Acho que é um jovem que, claro, ainda está a ganhar experiência ao nível mais alto, e tem de aprender a lidar com certas coisas”.

Mas apesar da boa equipa do B. Dortmund, não se esperava vida fácil esta quarta-feira, nem um passeio à Turquia, porque o Besiktas, principalmente em casa com os seus adeptos, é muito complicado de bater. Além disso, a equipa orientada pelo turco Sergen Ylaçin tinha do seu lado o facto de estar a demonstrar solidez defensiva, não tendo sofrido golos nos três jogos até agora disputados no campeonato do seu país. Ao contrário do B. Dortmund (que acrescenta à juventude jogadores experientes como Reus ou Witsel), o Besiktas é uma equipa muito experiente, esta época reforçada com jogadores como Pjanic, vindo do Barcelona, ou Michy Batshuayi, do Chelsea e tem dois golos em três jogos. Há experiência internacional, há experiência de idade, e outra coisa que a equipa de Istambul podia aproveitar: o Dortmund, exceção feita ao encontro com uma equipa de divisões inferiores para a Taça da Alemanha, sofreu sempre golos, com destaque para o último encontro, frente ao Bayer Leverkusen, que venceu por 4-3.

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Com um estádio cheio de adeptos aos gritos, aos pulos e a apoiar com uma intensidade fervorosa, foi o Besiktas a criar perigo pela primeira vez logo aos 6′, com Michy Batshuayi a receber um grande, grande, passe de Pjanic e a rematar forte após bom trabalho para o que parecia um golo certo. Kobel, guarda-redes suíço do Dortmund, tinha outras ideias e negou o golo com uma defesa absolutamente fantástica. A equipa alemã assumia o jogo, como era de esperar, mas o Besiktas parecia mais intenso junto da área adversária, num jogo que durante quase toda a primeira parte ficou marcado por passes errados. No entanto, mais que demérito das equipas, os passes falhados vinham da tentativas de atacar, sair rápido, disparar para o golo. Principalmente para a equipa turca, não havia jogo lento.

Os alemães tentavam muito a profundidade com Haaland e no meio de um jogo rápido, acabou por ser de ataque organizacional o golo do Dortmund, que jogou bem, rodou a bola da esquerda à direita e Meunier descobriu Bellingham dentro da área que, quase sem ângulo, rematou e fez o 1-0. O jovem jogador inglês já foi um dos mais jovens a jogar um Europeu de seleções e esta quarta-feira tornou-se o futebolista mais novo, com 18 anos e 78 dias, a marcar em dois jogos consecutivos. O anterior dono do recorde era Kylian Mbappé, que conseguiu o feito quando era uma semana mais velho.

Já quando todos esperavam o intervalo, o inevitável aconteceu. De novo Bellingham com uma grande jogada, desta vez pela esquerda, quando chegou perto da baliza serviu Haaland, melhor marcador da última edição da Liga dos Campeões (10 golos), e o noruguês encostou para o golo. Mais um na conta do craque de 21 anos. O B. Dortmund já tinha falhado oportunidades antes do 2-0, mas era a eficácia alemã a marcar o jogo até então, muito contra a tal intensidade e vontade dos turcos, que não foi suficiente para um melhor resultado na ida para o descanso.

O segundo tempo manteve-se na toada dos passes falhados porque toda a gente queria jogar ao ataque. O Besiktas parecia muito atrapalhado sempre que o Dortmund acelerava, mas a equipa alemã não conseguia e ficava a um ou dois passes de matar completamente o jogo. Com Bellingham a ser o melhor em campo com alguma tranquilidade (mesmo não tendo jogado a última hora de jogo), foi o inglês a estar perto do golo quando faltavam 25 minutos para o final, já depois de Kobel ter negado um golo a Batshuayi. Para o guarda-redes suíço era um jogo importante, visto nunca ter jogado a competição e muitos questionavam se o atleta iria mostrar-se em forma se fosse chamado. Pois bem, mostrou-se. Apesar deste susto, o Borussia Dortmund controlava o jogo, mesmo sem bola, e estava mais perto do 3-0 do que sofrer o 2-1. Haaland esteve perto de fazer mais um, mas faltou o tal “último passe”. A quatro minutos este passe teria sido decisivo porque Montero, na sequência de um pontapé de canto marcado por Pjanic, o melhor do Besiktas, reduziu para 2-1, e de repente toda a gente no estádio acreditou que ainda podia surgir um plot twist no filme do jogo. Mas este acabou por terminar de uma forma que era previsível há muito tempo.

O conjunto alemão, com uma exibição segura de Raphaël Guerreiro, saiu de um campo complicado e barulhento com uma vitória tranquila, confirmando o favoritismo mas, acima de tudo e para preocupar os adversários, deixou no ar a ideia de que ainda pode melhorar e muito.