A pandemia Covid-19 acelerou o processo de renovação e reinvenção do setor da ourivesaria em Portugal, forçando empresas tradicionais de produção a criar as próprias marcas de joalharia e a investir nos canais digitais e na internacionalização.

É o caso da Fiordy Studio, que vai aproveitar uma ação de promoção à margem da Semana da Moda de Londres, no sábado, para lançar uma nova página de Internet com plataforma de venda direta.

O evento coletivo é organizado pela Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP), que também vai incluir as marcas Arte Nova Jewellery, Cinco, Joana Mota Capitão Jewellery, Mesh Jewellery e Museu da Filigrana.

A presença num evento como este em Londres é importante porque é um mercado mais diversificado do que o resto da Europa. Aqui as pessoas procuram coisas mais diferentes e a nossa marca não segue muito as tendências de mercado”, disse à Agência Lusa a diretora criativa da Fiordy Studio, Fernanda Abrusio.

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A marca é um projeto da Farilu, uma fábrica em Guimarães com mais de 50 anos de história e agora gerida por João e Bruno Faria, filhos do fundador, Joaquim Faria.

Do total da produção da Farilu, 90% destina-se ao estrangeiro, por encomenda de marcas internacionais, tendo em 2020 facturado 1,2 milhões de euros.

No primeiro ano de atividade, o objetivo é realizar vendas no valor de 250 mil euros, adiantou a responsável da Fiordy.

Este projeto ilustra o rumo atual na indústria da ourivesaria em Portugal, que até há poucos anos estava demasiado dedicada ao mercado nacional, disse à Lusa a secretária-geral da AORP, Fátima Santos.

Durante os últimos dois anos nós tivemos um aumento exponencial de pedidos de novas licenças para comércio ‘online’. Em 2020 foram 166 e em 2021 já vão em 350. O setor já se estava a encaminhar para o digital, mas a pandemia forçou esta tendência de forma drástica”, salientou.

A renovação do setor e a aposta na internacionalização têm sido acompanhadas por um crescimento acelerado das exportações, que aumentaram 50%, para 100 milhões de euros, entre 2015 e 2020.

A expectativa da AORP é atingir 150 milhões de euros em vendas para o estrangeiro em 2025.

Os principais mercados são Espanha, França, Hong Kong, Estados Unidos, Itália e Bélgica, mas estão a ser trabalhadas oportunidades na Ásia e Médio Oriente.

Embora a maioria das empresas de ourivesaria portuguesas seja “micro”, com uma média de 2,3 trabalhadores, a sua competência é reconhecida por marcas como Cartier, Tiffany, Chanel, Louis Vuitton ou Rolex, que fazem em Portugal muitas das suas peças.

É este conhecimento acumulado e reputação que vão procurar projetar no evento à margem da Semana da Moda de Londres, realizado na Embaixada de Portugal.

As empresas querem captar a atenção de marcas que queiram produzir as suas joias em Portugal numa lógica de co-criação, mas também afirmar-se como criadores.

“Obviamente que temos plena consciência que não vai ser chegar, ver e vencer. Vamos apalpar terreno”, admitiu Fátima Santos.

Para João Barbosa, co-fundador da Mesh Jewellery, o mercado britânico tem potencial porque “possui uma estética parecida com a nossa” e já representa 10% das vendas graças ao “passa palavra” da Internet.

Lançada em 2016, a marca é um conceito criado por uma terceira geração de joalheiros, Tiago e João Barbosa, que tem duas lojas próprias, no Porto, e pontos de venda em Itália.

A aposta no digital, sobretudo nas redes sociais, tem recompensado, disse João Barbosa à Lusa, revelando que um site renovado vai ter mais funcionalidades incluindo preços em várias moedas.

As vendas pela Internet já representam 60% dos 250 mil euros de faturação em 2020.

“Quando a pandemia começou estávamos com receio. Mas acabou por correr bem, as pessoas começaram a oferecer presentes e as encomendas dispararam”, explicou.