A elite política de Hong Kong designou este domingo um poderoso comité que escolherá o próximo líder da cidade e quase metade do corpo legislativo, no quadro de um novo sistema “reservado aos patriotas” imposto por Pequim. “Trata-se de uma eleição importante ainda que o número de pessoas que podem participar não seja elevado”, declarou à imprensa a atual dirigente de Hong Kong, Carrie Lam, adiantando que o novo sistema garantirá que os “criadores de problemas anti-chineses” não possam “criar obstáculos” ao governo.

Cerca de 4.800 cidadãos de Hong Kong estavam autorizados a votar para o comité eleitoral, cerca de 0,06% dos 7,5 milhões de habitantes da cidade e menos que os 6.000 polícias destacados para evitar manifestações ou perturbações durante a votação. Segundo as autoridades, votaram 86% dos eleitores.

Em 2016, antes da reforma, cerca de 233.000 cidadãos de Hong Kong puderam votar.

Este é o primeiro escrutínio no quadro de um novo sistema em que todas as pessoas que concorrem a um cargo público devem ser verificadas quanto à lealdade política e certificadas de que não representam uma ameaça à segurança nacional. Em dezembro, o comité designará 40 dos 90 lugares do conselho legislativo da cidade — 30 serão escolhidos por grupos de interesses especiais e apenas 20 dão eleitos diretamente.

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No próximo ano, escolherá o novo dirigente de Hong Kong, aprovado pela China. Pequim insiste que o novo sistema político é mais representativo e que permitirá evitar que elementos “anti-chineses” acedam ao poder. Os seus críticos afirmam que não deixa espaço à oposição pró-democrática e que faz de Hong Kong “um espelho” da China continental autoritária liderada pelo Partido Comunista.

Apesar das promessas de que Hong Kong conservaria as suas principais liberdades e autonomia durante 50 anos depois da transferência da soberania pelo Reino Unido em 1997, a China começou a apertar o controlo sobre a cidade após os protestos de 2019. Além do novo sistema político, Pequim impôs uma ampla lei de segurança nacional que criminalizou grande parte da dissidência.

Numerosas personalidades da oposição foram detidas, o jornal mais popular da cidade foi obrigado a fechar e dezenas de milhares de cidadãos partiram para o estrangeiro. Último recuo: a Confederação dos Sindicatos, a mais importante organização sindical pró-democracia do território com 140.000 membros, anunciou hoje a sua dissolução no próximo mês.