Se a programação de verão do Centro Cultural de Belém (CCB) teve como palavra de ordem “destemporada”, assinalando a apresentação de propostas que a pandemia não tinha permitido ver nos meses anteriores, os espetáculos para os próximos meses surgem agora sob outra palavra adaptada: “mundar”. “Precisamos de um verbo novo. Mundar, por exemplo, como se disséssemos: fazer mundos e com eles mudar”, escreveu no novo programa o curador e programador Delfim Sardo, que é também administrador do CCB desde março do ano passado.

Nesta terça-feira de manhã ficaram a conhecer-se as novidades de setembro a junho. “Entre Mundos” é o título genérico. Na área da dança, regressam nomes consagradas como Paulo Ribeiro (outubro), Olga Roriz (janeiro de 2022) e Clara Andermatt (março de 2022) e acontece a estreia lisboeta da companhia de dança contemporânea de Marcos Morau (janeiro). No teatro há muito para ver: Carlos Pimenta monta O Duelo no Grande Auditório (novembro), Sara Barros Leitão estreia Monólogo de Uma Mulher Chamada Maria Com a Sua Patroa (novembro), Tónan Quito apresenta Ensaio de Orquestra (março) e Miguel Loureiro estreia uma adaptação de Tennessee Williams (abril).

Em resumo, segundo Delfim Sardo, que coordena pela segunda vez uma temporada do CCB, trata-se de uma programação “arrojada e muito cuidada, que traz momentos muito intensos de utilização do Grande Auditório e inclui artistas internacionais muito importantes e uma forte aposta na criação portuguesa”. Marcada ainda por algumas apresentações que tinham estado em agenda desde 2020 e não puderam concretizar-se devido à pandemia, a programação tem já uma perspetiva pós-pandémica.

Ao Observador, Delfim Sardo sublinhou: “Partimos do princípio, auspicioso mas que esperamos que se concretize, de um certo regresso à normalidade. Nem podia deixar de ser assim. Foi preciso tanta resiliência para ultrapassarmos os contratempos, foi preciso ajudar os artistas e os nossos interlocutores para sobreviverem aos tempos difíceis que vivemos, que o regresso só podia ser sob o signo de um certo otimismo.” Destacou as parcerias com o Teatro Nacional São João, o Teatro Rivoli ou os festivais Alkantara e Temps d’Images, entre outras, e fez notar que as novas propostas “reforçam o CCB como entidade produtora ou coprodutora”.

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Delfim Sardo tomou posse como administrador do CCB em março do ano passado

“Um estudo sobre o feminino e o masculino”

A Companhia Paulo Ribeiro apresenta nos dias 29 e 30 de outubro, um espetáculo intitulado Segunda 2, revisitação de Sábado 2, que se estreou em meados dos anos 90. “A dança continua num lugar confinado, mas isso não nos interessa, na próxima segunda tudo vai mudar, se não for na próxima será na outra, ou na seguinte, e para isso acontecer, vamos continuar a desafiarmo-nos, a brincar, a provocar e exorcizar a falha. Vamos ser singulares e coletivos. Vamos reencontrar a festa. Vamos reencontrar o corpo. Vamos continuar a dançar”, escreve Paulo Ribeiro na sinopse.

Olga Roriz, com uma renovação dos intérpretes que costumam acompanhá-la, leva ao Grande Auditório Insónia, a 13 e 14 de janeiro, peça que teve estreia absoluta em maio último no Teatro Municipal de Bragança — é exemplo de uma coprodução do CCB, neste caso com o Teatro Aveirense e o Município de Viana do Castelo. “Um estudo sobre o feminino e o masculino, o macho e a fêmea, sem sexo definido, sem género”, lê-se na folha de sala.

Vinda de Barcelona, a companhia de dança contemporânea La Veronal, de Marcos Morau, apresenta-se pela primeira vez em Lisboa a 11 e 12 de janeiro no Grande Auditório, com Pasionaria, através da qual “questiona o desapego emocional dos nossos dias e propõe uma reflexão sobre a ideia de progresso que nos é imposta”. A 19 e 20 de março, ainda no Grande Auditório, Clara Andermatt e João Lucas propõem uma homenagem ao música cabo-verdiano Orlando “Pantera” Barreto (1967-2001), que marcou o percurso da Companhia Clara Andermatt.

“A redenção, o erotismo, o misticismo, a doença…”

Ao nível do teatro, Carlos Pimenta apresenta a 25 e 26 de novembro O Duelo. “Peça sobre o cálculo e o acaso, o fracasso e o sucesso, é regida pela vertigem de uma justiça poética e conduzida pela voz e corpo do ator Miguel Loureiro”, lê-se no programa. Sara Barros Leitão vai estrear um espetáculo feminista em que tem vindo a trabalhar desde o ano passado: Monólogo de Uma Mulher Chamada Maria Com a Sua Patroa, de 4 a 7 de Novembro, acerca do trabalho doméstico e dos movimentos sindicais. Ensaio de Orquestra, de Tónan Quito, surge a 4 e 5 de março, com a participação do músico Filipe Melo, enquanto Boom! (título provisório) se apresenta de 8 a 10 de abril. É uma adaptação de Tennessee Williams: “Cenário e galeria bizarros de uma peça sobre a redenção, o erotismo, o misticismo, a doença e o fim dos caminhos. Os velhos temas. Tudo num quadro de excessivo camp, de estranheza e desajustamento.”

O Festival Big Bang Lx21, dirigido ao público infantil, está de regresso (22 e 23 de outubro). Na música erudita Philip Glass apresenta a ópera de 1991 Orphée, baseada em Jean Cocteau (27, 29 e 20 janeiro) e André e. Teodósio e José Maria Vieira Mendes levam à Black Box (10 a 14 de fevereiro) Info Maníaco, “um one-man-show com um humano a repensar a sua entidade figurativa num dia que contém todos os dias e todos os tempos”. Ainda do grupo Teatro Praga, revisitação de A Sagração da Primavera de Stravinsky, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa (17 e 18 de junho).

Sara Barros leitão em novembro com “Monólogo de Uma Mulher Chamada Maria Com a Sua Patroa”

Raquel Varela, Raquel Henriques da Silva, António Victorino d’Almeida

Na música experimental destaca-se Jonathan Uliel Saldanha, um dos nomes mais falado das artes contemporâneas. De 29 janeiro a 6 agosto tem “carta branca” para programar e começa no Pequeno Auditório com a eletrónica dos projetos HHY & The Kampala Unit + Flo + Sekelembele. Na área das conversas e debates, merece referência o regresso de Conversas com História, com a historiadora Raquel Varela: a 30 de outubro com a bióloga Maria Manuel Mota; a 20 de novembro com a coreógrafa e bailarina Olga Roriz; e a 18 de dezembro com o maestro António Victorino d’Almeida. E ainda o Ciclo História de Arte, que decorre no átrio junto ao Grande Auditório de 2 de outubro a 18 de dezembro, com o presidente da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa Fernando António Baptista Pereira e as professoras Raquel Henriques da Silva e Joana Cunha Leal.

Num documento distribuído à imprensa nesta terça-feira, o CCB incluiu como destaques da nova temporada, entre outros, as exposições At Play: Arquitetura & Jogo, com curadoria de David Malaud (de 28 de setembro a 30 de janeiro), que aproxima as ideias de criança e arquiteto, e também Rádio Antecâmara, com curadoria de Alessia Allegri e Pedro Campos Costa (de 22 fevereiro a 4 setembro), acerca da relação entre som e arquitetura.