Afinal, o que são os FabLab? “São fábricas digitais onde se enquadra a transformação de ideias inovadoras e criatividade, reunindo ferramentas, máquinas e pessoas”, resumiu Horácio Pina Prata, presidente da Associação FabLabs Portugal e um dos convidados do quinto episódio do programa O Regresso da Indústria, da Rádio Observador.

O tema do programa, emitido na quarta-feira, dia 15, era o papel dos FabLab enquanto aceleradores do ciclo de inovação que permite introduzir produtos no mercado com maior rapidez e qualidade. Segundo Horácio Pina Prata, Portugal tem hoje 25 FabLabs “criados ou em fase de criação” de norte a sul e nas ilhas, os quais integram uma rede mundial de cerca de 1.800 em 100 países. Por sua vez, a Associação FabLabs Portugal tem 32 membros, incluindo autarquias e instituições do ensino superior.

O primeiro FabLab português foi criado pela EDP, em fevereiro de 2011, e logo a seguir surgiu o FabLab da Universidade Nova de Lisboa, em outubro de 2016. “Fablab” é a abreviatura de fabrication laboratory, ou fabulous laboratory — um laboratório digital de criação de protótipos através de máquinas de corte a laser e de corte de vinil, fresas de pequeno e grande porte e impressoras 3D. A ideia original nasceu há exatamente 20 anos nos EUA, dentro do MIT (Massachusetts Institute of Technology).

Durante a pandemia, os FabLab tiveram um “papel determinante”, porque permitiram fazer nascer “inovações, criatividade e ferramentas” que serviram para apoiar alguns agentes que deram resposta à crise de saúde, destacou Horácio Pina Prata. Por isso, o presidente Associação FabLabs Portugal deixou um apelo no programa da Rádio Observador no sentido de maior financiamento público a estes laboratórios. “Lanço o repto ao Governo e ao Plano de Recuperação e Resiliência: este será um grande projeto mobilizador, uma força motriz de conhecimento e partilha”, afirmou.

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“Diálogo, interação, aprendizagem mútua”

Os outros dois convidados do quinto episódio de O Regresso da Indústria foram José Melo, investigador do LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia, e Paulo Teixeira, manager do FabLab da EDP. José Melo atestou que os FabLab permitem criar protótipos em “menos de metade do tempo” do que os métodos tradicionais e “com graus de rigor muitos superiores”.

Na área da hidráulica, a que está ligado o investigador do LNEC, a “validação do comportamento de obras” de grande envergadura ainda é feita com recurso à “modelação física”, ou seja, maquetes tradicionais — e não através de simulação no ecrã do computador, como sucede noutras áreas da engenharia. Daí a importância dos protótipos criados pelos FabLab. “A modelação numérica [digital] tem vindo a substituir a modelação física”, explicou.

“Há um diálogo, uma interação, uma aprendizagem mútua que não encontrámos com facilidade em mais nenhum tipo de contacto que tínhamos feito”, disse José Melo, referindo-se a experiências anteriores de prototipagem a que o LNEC recorreu, com menos êxito.

Paulo Teixeira, da EDP, desmitificou a ideia de que um FabLab seja um “armazém de máquinas”. “Somos um espaço com recursos e o recurso mais importante são as pessoas, com o seu conhecimento, que fazem uso das máquinas de fabrico digital”, sintetizou, dando especial ênfase ao facto de o atual paradigma das indústrias ser a digitalização. “Somos embrião da indústria 4.0”, defendeu. Se os ciclos de desenvolvimento de produtos são hoje “cada vez mais reduzidos”, os FabLab contribuem para abreviar esses ciclos, apontou.

A partir de 2011, o FabLab da EDP começou por acolher ideias de empreendedores, engenheiros, arquitetos e investigadores, explicou Paulo Teixeira, e mais recentemente apostou na “vertente de serviços”. “Já passámos a fase dos visitantes com projetos avulso, ainda que tenhamos parcerias com universidades e visitante mais antigos. Estamos voltados para a ótica dos serviços, porque os FabLab têm um potencial imenso”, referiu. O LNEC é hoje um dos clientes, ou parceiros, do FabLab da EDP.

Questionado sobre um exemplo concreto de utilização do FabLab da EDP, Paulo Teixeira destacou um projeto interno que “obrigava a encontrar um dispositivo para selos dos contadores de energia” — selos que impedem a violação dos contadores da eletricidade. “Foi-nos pedido que fizéssemos esse dispositivo e, com ferramentas open source [software gratuito], conseguimos em poucos dias criar um protótipo, que está em aplicação desde o primeiro instante”, explicou.

Horácio Pina Prata fez ainda menção à troca de experiências que a rede mundial de FabLabs permite, o que contribui para a “economia digital da partilha”. Sublinhou que há FabLabs em zona do interior do país que auxiliam projetos ligados à saúde ou à sustentabilidade ambiental, ao turismo ou à gastronomia, em muitos casos com implicação nas economias locais.

O Regresso da Indústria é uma série de programas que resulta de uma parceria entre a Rádio Observador e a COTEC Portugal – Associação Empresarial para a Inovação, num projecto co-financiado pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Cada episódio é transmitido de 15 em 15 dias, às quartas-feiras, na Rádio Observador (nas frequências 93.7 e 98.7 em Lisboa, 98.4 no Porto e 88.1 em Aveiro) e pode depois ser escutado como podcast. Também às quartas-feiras é publicado quinzenalmente um artigo no Observador com o essencial do programa da semana anterior.