A UEFA discorda da metodologia adotada pela FIFA na questão relativa à organização de um Campeonato do Mundo de futebol de dois em dois anos, apontando para os “perigos reais” do projeto.

O organismo que rege o futebol europeu disse esta quarta-feira, em comunicado, que a “viabilidade” de tal cenário mexe com inúmeras questões que têm que ser esclarecidas, nomeadamente, o calendário e o formato da competição, as fases de qualificação, o impacto nas competições de clubes e seleções existentes, as oportunidades desportivas e comerciais, o impacto na saúde física e mental dos futebolistas, adeptos e a sustentabilidade das suas viagens.

Também o impacto sobre o desenvolvimento do futebol feminino deve ser tido em conta, alertou a UEFA, pedindo “espaços de exclusividade” para as provas femininas.

Paralelamente, o organismo liderado por Aleksander Ceferin apontou para a necessidade de apostar nos torneios de futebol juvenis, que, apesar do pouco impacto comercial, são vitais para o desenvolvimento dos atletas.

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Ainda à espera de conhecer os resultados do estudo de todas estas envolventes, a UEFA admitiu que a FIFA “apresentou uma proposta que implica a duplicação dos torneios finais do Mundial a partir de 2028, assim como das fases finais dos torneios das confederações a partir de 2025″, combinada com uma reestruturação profunda das datas reservadas para os jogos das seleções.

Agradecendo a “atenção reservada” ao Europeu, “com a proposta de dobrar a frequência do seu torneio final”, a UEFA especificou que prefere “abordar um assunto tão sensível com um enfoque global e não especulativo”.

E realçou: “A UEFA está dececionada com a metodologia adotada, que até agora tem levado a que se comuniquem e promovam abertamente os projetos de reforma radical, antes de ter tido, juntamente com as outras partes interessadas, a oportunidade de participar em nenhuma reunião de consulta”.

Por isso, a UEFA vincou que “este plano contempla perigos reais”, com a “diminuição do valor do principal acontecimento futebolístico mundial, cuja celebração a cada quatro anos lhe confere uma mística com que cresceram gerações de adeptos”.

Mais, a UEFA frisou que a ideia que reduz as “oportunidades desportivas das seleções mais frágeis, ao substituir os jogos normais por fases finais”, representando ainda um “risco para a sustentabilidade dos jogadores, obrigados a participar em competições de alta intensidade” no final de cada temporada.

E salientou que também há um risco para o futuro dos torneios femininos, que ficariam privados de espaços exclusivos e eclipsados pela proximidade dos principais eventos masculinos.

“Estas são apenas algumas das sérias preocupações que a proposta da FIFA provoca à primeira vista, e não podem ser dissipadas simplesmente com ‘slogans’ promocionais, sem fundamento, sobre os supostos benefícios de um calendário mais carregado pelas fases finais”, rematou, pedindo que o futuro calendário internacional seja objeto de uma “autêntica consulta” com todas as partes interessadas.

De resto, a UEFA solicitou em 14 de setembro uma reunião especial à FIFA para “poder expressar as suas preocupações” face a este projeto, mas até agora ainda não recebeu nenhuma resposta.