Prestes a completar mil dias de Governo, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse numa entrevista à revista Veja divulgada esta sexta-feira que a possibilidade de organizar um golpe de Estado é nula.

“Daqui para lá, a chance de um golpe é zero. De lá para cá, a gente vê que sempre existe essa possibilidade”, afirmou Bolsonaro, ao ser questionado sobre avaliações de que várias de suas ações, incluindo a convocação de protestos em seu apoio em 07 de setembro, e algumas declarações polémicas que faz seriam uma preparação para um golpe de Estado.

Confrontado sobre quem seria o “lado de lá”, o governante brasileiro explicou que são os membros da oposição.

“Existem 100 pedidos de ‘impeachment’ [destituição] dentro do Congresso. Não tem golpe sem vice e sem povo. O vice é que renegocia a divisão dos ministérios. E o povo que dá a tranquilidade para o político voltar. Agora, eu te pergunto: qual é a acusação contra mim? O que eu deixei, em que eu me omiti? O que eu deixei de fazer? Então, não tem cabimento uma questão dessas”, afirmou Jair Bolsonaro.

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Quando você passa a ter o povo do teu lado, como eu tenho, bota por terra essa possibilidade. A não ser que tenha algo de concreto, pegou uma conta minha na Suíça, aí é diferente. Não tenho nada. Desligo o aquecimento da piscina, não uso cartão corporativo, não pedi aposentadoria na Câmara [dos Deputados], não dou motivo. Estamos há dois anos e meio sem um caso de corrupção”, acrescentou.

Crítico das urnas eletrónicas usadas desde 1996 no país cuja confiança colocou em causa inúmeras vezes nos últimos meses, Bolsonaro declarou que “vai ter eleição”: “Não vou melar, fique tranquilo, vai ter eleição”.

Falando sobre denúncias de corrupção no Ministério da Saúde, nomeadamente na compra de vacinas contra a Covid-19 que estão a ser investigadas pela comissão parlamentar de inquérito (CPI) da pandemia no Senado brasileiro, Bolsonaro alegou ser alvo de calúnia.

“Tem gente que não pensa no seu país, ao invés de mostrar seu valor, ele quer caluniar o próximo. Vejo na CPI os senadores Omar Aziz e Renan Calheiros falando: ‘O Governo Bolsonaro é corrupto’. Pois aponte quem porventura pegou dinheiro. Com todo o respeito à PM [Polícia Militar] de Minas Gerais, um cabo da PM negociando 400 milhões de doses a 1 dólar, se encontrando fortuitamente num restaurante? É coisa de maluco”, declarou o chefe Estado.

O Presidente brasileiro referia-se a uma negociação suspeita de 400 milhões de doses vacinas da AstraZeneca iniciada por supostos representantes da empresa norte-americana Davati Medical Supply com o Governo do Brasil que não se concretizou.

Em depoimento à CPI da pandemia, o policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira contou que iniciou tentativas para venda do medicamento com o Governo brasileiro, mas o negócio não evoluiu porque teria recebido um pedido de suborno de 1 dólar por dose dos funcionários do Ministério da Saúde que se negou a pagar.

Esta negociação está a ser investigada pela CPI.

Em relação à gestão da pandemia, Bolsonaro afirmou não ter errado em nada e voltou a defender medicamentos sem eficácia contra a Covid-19 como a cloroquina.

“Continuo defendendo a cloroquina. Eu mesmo tomei quando fui infetado e fiquei bom. A hidroxicloroquina nunca matou ninguém”, destacou.

À Veja, Bolsonaro também confirmou que pretende disputar as presidenciais em 2022, disse não saber quem será candidato consigo na vice-presidência nem o partido que deverá ingressar para participar da disputa, e criticou o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, que provavelmente será seu adversário na próxima eleição e aparece, no momento, liderando as sondagens de intenção de voto.