O ministro da Defesa português considerou esta sexta-feira que o pacto AUKUS para o Indo-Pacífico feito entre Estados Unidos da América, Reino Unido e Austrália evidenciou uma “falha ao nível do diálogo entre Aliados” e “alterações geoestratégicas de fundo“.

João Gomes Cravinho prestava declarações à agência Lusa depois de ter participado na 4ª edição da Iniciativa Europeia de Intervenção – lançada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em 2018 – que decorreu em Estocolmo, na Suécia, e contou com a presença de vários ministros da Defesa europeus ou representantes, entre eles, da França e do Reino Unido.

Questionado sobre o pacto trilateral de defesa assinado este mês entre Estados Unidos da América, Reino Unido e Austrália para a região do Indo-Pacífico, denominado AUKUS, que levou ao cancelamento por parte da Austrália de um contrato com a França para o fornecimento de submarinos, Gomes Cravinho adiantou que o mesmo não foi falado na reunião mas deixou algumas considerações sobre o assunto.

“São evidentes vários aspetos, em primeiro lugar, que houve uma falha a nível do diálogo entre aliados, o que vindo na sequência daquilo que se passou em relação ao Afeganistão, é evidente que lamentamos”, começou por responder.

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Para Gomes Cravinho é igualmente evidente que “numa perspetiva mais geoestratégica, este pacto evidencia alterações geoestratégicas de fundo, cujo alcance ainda é algo cedo para poder definir com clareza”.

Julgo que o AUKUS, que ainda estamos para ver exatamente qual será a sua consequência prática durante os próximos anos, mas julgo que terá um impacto em termos do raciocínio europeu, ajudando a compreender aquilo que são as realidades do mundo atual e ajudando também a que consigamos pensar a Europa em termos mais globais e não exclusivamente em termos da região em que estamos inseridos”, considerou.

O governante vincou ainda a solidariedade de Portugal com a França no que toca “à quebra de um acordo comercial que era mais do que um acordo comercial”.

“Era um acordo comercial com uma forte componente estratégica e lamentamos que tenha sido quebrado desta forma pouco elegante e diria também, sem grande reflexão por parte da Austrália”, rematou.

A crise diplomática deve-se ao facto de os Estados Unidos, Reino unido e Austrália terem assinado o pacto AUKUS (iniciais em inglês dos três países anglo-saxónicos), que visa reforçar a cooperação trilateral em tecnologias avançadas de defesa, como a inteligência artificial, sistemas submarinos e vigilância a longa distância.

Uma primeira consequência foi o cancelamento, pela Austrália, de um contrato com a França para o fornecimento de submarinos convencionais e a intenção de comprar submarinos nucleares aos Estados Unidos, o que originou fortes protestos e críticas de Paris.

A França tinha um contrato para a entrega à Austrália de 12 submarinos com propulsão convencional no valor de 56 mil milhões de euros, que foi cancelado por Camberra, tendo o Governo australiano decidido comprar submarinos nucleares aos Estados Unidos.

Os dois presidentes desavindos, dos Estados Unidos e de França, conversaram na quarta-feira, por telefone, e concordaram reunir-se em outubro para reduzir a tensão diplomática provocada pelo caso dos submarinos australianos.