Os condutores dos veículos da Tesla tendem a desviar a atenção da estrada de forma mais frequente (e potencialmente perigosa) quando usam o “AutoPilot“, no fundo tomando este sistema avançado de ajuda à condução como aquilo que ele não é, ou seja, um sistema de condução autónoma. O alerta está num estudo científico feito pelo MIT que, ao longo de mais de um ano, analisou a forma como vários condutores utilizam o veículo e a quantidade de vezes que tiram os olhos do trânsito (e, muito importante, durante quando tempo de cada vez) e surge numa altura delicada para Elon Musk.

A pesquisa académica do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que pode ser consultada aqui, analisou os dados relativos a 290 momentos em que os condutores desviaram a atenção do trânsito e concluiu que quando o “Autopilot” está ativado as pessoas têm uma maior tendência para ignorar o que se passa à sua volta, apesar de todos os alertas que são feitos ao iniciar o sistema – indicando que o condutor não deixa de ser responsável pelo que está a acontecer e deve manter a atenção.

Os veículos analisados pertenciam a habitantes da zona de Boston, cidade norte-americana onde fica a universidade, que se voluntariaram para que fosse instalado nos seus carros – modelos S e X – um complexo sistema de câmaras e sensores que monitorizaram a sua condução diária, a postura corporal, o rosto e os olhos, entre outros parâmetros. Foi tudo analisado, ao longo de um total equivalente a 800 mil quilómetros de rodagem.

A conclusão foi que “os padrões de comportamento visual alteram-se, antes e depois do momento em que se dá o disengagement“, isto é, o momento em que o condutor deixa de estar totalmente “sintonizado” com a atividade de condução. Em concreto, o estudo assinala que os condutores olham menos para a estrada e concentram mais a sua atenção em pontos não relacionados com a condução, quando têm o AutoPilot ligado – normalmente para virar a atenção para os seus telemóveis ou para a consola central.

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A deslocação da atenção, ao abrigo do AutoPilot, levou a um forte aumento dos olhares para fora da estrada que são atípicos quando a condução é manual”, alerta o estudo.

“Embora as perdas de atenção, com AutoPilot ligado, detetadas neste estudo não possam ser consideradas críticas, a quebra do nível geral de atenção relativamente à condução poderá colocar em causa a reação dos condutores a um perigo, seja detetando esse perigo ou reagindo a ele”, pode ler-se no estudo. Os condutores têm uma maior tendência para tirar os olhos da estrada, de uma forma que revela “complacência”, acrescenta o estudo.

Como assinalam os académicos, o sistema AutoPilot não inclui nenhum mecanismo de análise ao estado de atenção do condutor. Este sistema, que opera de forma muito mais permissiva nos EUA do que, por exemplo, na Europa, devia estar preparado para detetar os comportamentos e apresentar feedback sobre isso ao condutor, quando for evidente que ele não está a usar o sistema como é recomendado.

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O estudo surgiu a poucos dias de, como anunciou o CEO da Tesla (Elon Musk), a versão beta (10.0.1) do novo sistema “Full Self-Driving” chegar a boa parte dos condutores da Tesla. Visivelmente incomodada, a líder do National Transportation Safety Board, Jennifer Homendy, deu uma entrevista onde afirmou que a Tesla deve lidar com “questões básicas de segurança” antes de aumentar a disponibilidade de tecnologias como o Autopilot e o Full Self-Driving.

No início deste mês, a Agência de Segurança no Trânsito dos EUA revelou que está a investigar um décimo acidente fatal relacionado com sistemas de piloto automático que já causaram 12 mortos, sendo que nove dos sinistros são com carros Tesla.

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