A “economia [da zona euro] afastou-se do abismo, mas ainda não está totalmente a salvo“, disse esta terça-feira a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, no discurso de abertura do Fórum anual do BCE – que, se não fosse a pandemia, seria em Sintra. Sobre o tema que está na ordem do dia nos mercados, o risco de inflação, Lagarde garante que a subida da inflação é “apenas uma fase”, “temporária” e relacionada com a “reabertura das economias” – embora possa “continuar a subir nos próximos meses”, depois dos 3% de agosto.

“Depois de uma recessão fora do vulgar, a zona euro está a ter uma retoma atípica”, afirmou Lagarde, num discurso emitido através da Internet que pode ser lido na íntegra (em inglês) nesta ligação. Nessa “retoma atípica”, Lagarde reconhece que estão a surgir “constrangimentos ao nível da oferta” que, ao contrário do que seria normal, estão a surgir já no início da recuperação. A expressão usada por Lagarde, na gíria económica, é “bottlenecks“, ou seja, um aperto que torna mais lento o movimento de bens como o gargalo de uma garrafa.

A presidente do BCE garante que é apenas devido a esse fenómeno que a zona euro (e não só) está a registar uma “recuperação rápida da inflação, à medida que as economias reabrem”. Porém, Lagarde reconhece que estão em jogo possíveis efeitos que não são apenas temporários, quando se fala em inflação: a retoma pós-pandemia “está a contribuir para acelerar tendências que já existiam e a trazer novas mudanças estruturais que podem ter implicações para a dinâmica da inflação no futuro”.

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Ainda assim, garante Lagarde, “aquilo que estamos a ver agora é apenas uma fase de inflação temporária relacionada com a reabertura das economias”. Daqui para a frente, “mudanças estruturais poderão criar pressões sobre os preços, tanto positivas como negativas”, diz a presidente do BCE, notando que “por essa razão, ainda precisamos de ter uma política monetária acomodatícia para sair da pandemia em segurança e garantir que a inflação regressa, de forma sustentável, aos 2%”, que é o objetivo do banco central.

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A taxa de inflação anual da zona euro acelerou, em agosto, para os 3,0%, face aos 2,2% de julho e aos -0,2% do mesmo mês de 2020. E Lagarde admite, no seu discurso desta terça-feira, que “é previsível que a inflação suba ainda mais nos próximos meses“. Porém, “temos de assegurar que não exageramos na reação a choques de oferta transitórios que não terão qualquer impacto no médio prazo”, sublinha a presidente do BCE.

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O Fórum BCE de política monetária, que acontece esta terça-feira e termina na quarta-feira, pode ser ouvido nesta ligação (no programa todas as indicações de hora dizem respeito à hora da Europa Central, mais uma hora do que em Lisboa).