A Ucrânia prometeu esta terça-feira responder à Hungria pelo “golpe dado às relações” entre os dois países ao assinar um contrato de gás com a Rússia que não prevê a passagem do combustível por território ucraniano.

Temos um país, a Hungria, que é membro da União Europeia e da NATO, embora tenha uma relação especial com a Rússia, e que deu um golpe nas relações Ucrânia-Hungria ao excluir o gasoduto ucraniano do plano de fornecimento de gás da Rússia”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba.

Em declarações ao canal ucraniano ICTV, citadas pela agência espanhola EFE, Kuleba anunciou o cancelamento da reunião da comissão intergovernamental mista sobre cooperação económica, que estava prevista para quarta e quinta-feira.

A reunião foi cancelada mesmo antes da assinatura do acordo entre a Hungria e a Rússia, disse Kuleba.

“Sabíamos que a delegação russa já estava a caminho e que o acordo seria assinado. E quando o assinaram, sabiam a nossa posição”, afirmou.

O ministro disse que o cancelamento da reunião do principal órgão de cooperação bilateral é apenas uma das medidas que a Ucrânia tomará para “proteger os seus interesses nacionais”.

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A Ucrânia já tinha anunciado que vai pedir à Comissão Europeia (CE) que avalie a conformidade do novo acordo de gás entre a Hungria e a Rússia com a legislação europeia em matéria de energia.

A Hungria assinou um acordo com a Gazprom, na segunda-feira, para receber 4,5 mil milhões de metros cúbicos de gás russo anualmente, contra 8,6 mil milhões de metros cúbicos em 2020, mas ainda assim quase metade do consumo daquele país da Europa Central.

Segundo o portal económico, as compras de gás da Hungria à companhia estatal russa caíram de 8,6 mil milhões de metros cúbicos de gás em 2020, para 6,2 mil milhões este ano, noticiou a EFE.

Nos termos do novo acordo, o gás chegará através de duas rotas: 3,5 mil milhões de metros cúbicos da Sérvia e o restante da Áustria.

O Governo de Kiev considera que a iniciativa de Budapeste “não respeita os princípios do Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação entre a Ucrânia e a Hungria de 06 de dezembro de 1991”.

Argumenta também que “é ainda mais rentável” para a Hungria receber gás através do gasoduto da Ucrânia, que “permite um abastecimento ininterrupto o mais curto possível aos países europeus”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Péter Szijjártó, que visitou Kiev em julho, rejeitou as críticas da Ucrânia de que o acordo com a Gazprom tem motivações políticas e irá prejudicar as relações entre os dois países.

Szijjártó acusou Kiev – que perde os direitos de trânsito económico porque o gás não passa pelo seu território – de se imiscuir na segurança energética da Hungria, que disse ser uma questão de soberania nacional e não um assunto político.