As berlinas eléctricas topo de gama, repletas de equipamento e com comprimentos em redor dos 5 metros, constituem um exemplo curioso de como os veículos eléctricos já se conseguiram equiparar e até superar os seus rivais directos com motores de combustão. Veja-se o caso do novo Mercedes EQS, parente próximo do Classe S da Mercedes, que na versão eléctrica a bateria, o 580 4Matic, oferece 523 cv por 149 mil euros, enquanto o menos possante S 500 4Matic a gasolina se fica pelos 435 cv, mas um preço de 147 mil euros. A Porsche fornece-nos um exemplo ainda mais gritante, pois o Panamera Turbo S a gasolina disponibiliza 630 cv ao seu condutor, exigindo 241 mil euros em troca, um valor incomparável com os 158 mil euros do Taycan Turbo, com 680 cv.

O mais recente membro desta família de berlinas eléctricas com bons níveis de espaço no habitáculo e mala – uns mais que outros –, motores possantes e grande capacidade de aceleração é o Mercedes EQS, essencialmente um Classe S a bateria, com níveis de qualidade ímpares, como é tradicional na marca. É ligeiramente maior do que os seus rivais de comparativo (cerca de 21 cm), mas à falta do EQE, ainda não disponível, é a berlina eléctrica mais potente da Mercedes. A versão do EQS escolhida para enfrentar os rivais da Porsche e da Tesla, apontados como as referências do segmento, foi a AMG EQS 53 4Matic+, por ser a única das três já conhecidas que monta dois motores que totalizam 658 cv (em linha com os advsersários) e uma bateria com uma capacidade de 107,8 kWh úteis.

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O representante do Porsche Taycan eleito para este confronto foi o Turbo, por ser aquele que disponibiliza uma potência similar aos rivais, no caso 680 cv já com a função overboost no arranque, com os dois motores a serem alimentados por uma bateria com 83,7 kWh úteis. Pela Tesla está presente o Model S Long Range, com 670 cv e uma bateria com 100 kWh.

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Qual é o mais rápido e veloz?

Apesar de todos os modelos presentes anunciarem mais de seis centenas de cavalos, nenhum deles se assume como o mais desportivo das respectivas gamas (o EQS espera um AMG mais potente, o Taycan tem o Turbo S e o Model S o Plaid). Contudo, anunciam capacidades de aceleração de fazer crescer água na boca e velocidades máximas muito respeitáveis.

O Mercedes-AMG EQS 53 4Matic+ reivindica 3,8 segundos para ir de 0 a 100 km/h, um valor impressionante para esta marca alemã. Basta recordar que o Classe S com motor de combustão mais possante é o S580 4Matic, que necessita de 4,4 segundos para ultrapassar a mesma fasquia. A velocidade máxima está limitada a 220 km/h, numa tentativa de estender a autonomia.

Curiosamente, há um grande equilíbrio entre o Taycan Turbo e o Model S Long Range, com ambos a anunciarem 3,2 segundos para atingir 100 km/h, isto apesar de o Porsche ser 10 cv mais possante (680 contra 670 cv), o que acaba por compensar o facto de ser mais pesado, uma vez que colocados sobre a balança, o ponteiro aponta 2380 kg para o eléctrico alemão e 2069 kg para o americano. Em termos de velocidade máxima, o Taycan avança até aos 260 km/h, com o Tesla a ficar-se pelos 250 km/h.

Em resumo, o Mercedes é o maior por fora e por dentro (excepto na mala, que com 610 litros bate os 447 litros do Porsche, mas perde para os 793 litros do Tesla), o que justifica o peso mais elevado (2655 kg) que o prejudica nas acelerações. O Taycan e o Model S são os mais rápidos, com o Porsche a ser ligeiramente mais veloz.

Quem vai mais longe entre recargas?

A Mercedes deu nas vistas ao anunciar uma autonomia de 770 km (730 km, segundo o configurador português do construtor) para o seu EQS. Só que o construtor germânico refere-se neste caso ao EQS 450+, com apenas um motor no eixo traseiro de 333 cv e a bateria mais generosa (107,8 kWh), precisamente a mesma da versão que considerámos para este comparativo. À medida que o EQS se aproxima da potência dos seus rivais a autonomia vai ficando inferior, como se confirma com os 668 km do EQS 580 4Matic, com 523 cv, ou os 580 km entre recargas do AMG EQS 53 4Matic.

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O Porsche Taycan nunca foi conhecido pela sua autonomia generosa, antes pelo contrário. A versão Turbo da berlina desportiva alemã, que monta uma bateria com 83,7 kWh – a mais pequena dos três rivais –, anuncia 453 km entre visitas ao posto de carga, perdendo para o EQS 127 km por ciclo de carga.

O Model S Long Range, que monta um acumulador com 100 kWh, é o mais generoso, com 652 km entre recargas, ultrapassando o Mercedes e, claro está, o Porsche. O acto de recarregar a bateria promete ainda ser mais célere no Taycan e no Model S, o primeiro aceitando potências de 270 kW e 250 kW, respectivamente, com o Mercedes a estar limitado a 200 kW, ainda assim um valor que se pode considerar elevado.

Qual o mais eficiente e o mais acessível?

Para o utilizador de um veículo eléctrico, é determinante a autonomia, ou seja, a distância que é possível percorrer entre visitas ao posto de carga, pois isto permite-lhe uma maior liberdade de movimentos ao gerir a quantidade de energia que tem a bordo. Sobretudo porque, tal como acontece nos modelos com motores de combustão, também os eléctricos registam autonomias em condições reais muito inferiores ao anunciado, com variações que facilmente atingem 100 a 150 km, consoante o ritmo de condução. Mas do ponto de vista tecnológico, não é menos importante a eficiência de um veículo, pois obrigará a carregar menos peso em baterias para percorrer a mesma distância, potencialmente melhorando o comportamento e o prazer de condução, além de reduzir os custos de utilização e o impacto ambiental.

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Considerando a capacidade útil da bateria e a autonomia, o Mercedes-AMG EQS 53 4Matic, com 107,8 kWh e 580 km, atinge uma média teórica de 18,6 kWh/100 km, valor que praticamente não destoa dos 18,5 kWh/100 km do Porsche Taycan Turbo (83,7 kWh e 453 km). Contudo, aqui é preciso ter presente as maiores dimensões e peso do EQS, o que deixa antever uma eficiência potencialmente melhor do eléctrico da marca da estrela prateada. O mais eficiente acaba por ser o Tesla Model S Long Range, com 100 kWh e 652 km, o que lhe garante 15,3 kWh/100 km.

Proposto por apenas 100 mil euros, o Model S é folgadamente o mais acessível dos seus rivais, mesmo antes de considerar o equipamento que disponibiliza de série, face ao dos seus concorrentes, sendo que Porsche e Mercedes oferecem uma lista de opcionais tão extensa quanto dispendiosa. O Taycan Turbo vê a sua oferta arrancar nos 158 mil euros, com o AMG EQS 53 4Matic, ainda sem preço definido, a dever conseguir posicionar-se abaixo dos 170 mil euros, uma vez que já o menos potente e sofisticado EQS 580 4Matic é proposto por 149 mil euros.

A estes três rivais há que juntar o Audi e-tron GT, uma espécie de Taycan, mas mais habitável e com mais mala, a que se juntará em breve o Lucid Air, berlina eléctrica que aponta aos clientes que visam um habitáculo mais espaço e luxuoso, similar ao EQS.