O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, abriu a porta a uma melhoria de relações com a Coreia do Sul ao mesmo tempo que acusou os Estados Unidos de terem uma “política hostil” em relação a Pyongyang, recusando os pedidos de diálogo feitos por Washington.

Numa declaração perante o parlamento norte-coreano na quarta-feira, Kim Jong-un rejeitou os pedidos da Administração Biden para que Estados Unidos e Coreia do Norte iniciem negociações com vista à desnuclearização do país. Para o líder supremo norte-coreano, citado pelo The Guardian, estes apelos ao diálogo são uma “fachada” e um “truque mesquinho” para “enganar a comunidade internacional, esconder atos hostis e estender a política hostil seguida pelas sucessivas administrações dos Estados Unidos”.

“A ameaça militar dos Estados Unidos e a política hostil contra nós não mudaram, só se tornaram mais astutas”, disse Kim Jong-Un, que não viu mudanças na política externa norte-americana em relação à Coreia do Norte com a chegada de Joe Biden à Casa Branca.

Coreia do Norte diz ter testado míssil hipersónico

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As conversações entre Pyongyang e Washington estão suspensas desde fevereiro de 2019, quando Kim Jong-un e o então Presidente norte-americano Donald Trump se reuniram numa cimeira em Hanói, no Vietname. Desde então, também as relações entre Coreia do Norte e Coreia do Sul pioraram, e os dois países, que no final da Guerra da Coreia (1950-53) declararam uma trégua mas não um acordo de paz, cortaram as vias de diálogo.

Coreia do Norte disparou dois mísseis balísticos na costa leste. Seul respondeu aos testes com outro míssil

Nas últimas semanas, a tensão aumentou significativamente na península coreana, sobretudo devido aos vários testes balísticos realizados pela Coreia do Norte, que na quarta-feira anunciou ter testado um míssil hipersónico. A Coreia do Sul, por seu lado, tem vindo a aumentar o orçamento para a defesa e na semana passada realizou um teste balístico lançado a partir de um submarino.

Apesar da escalada de tensão, tanto Pyongyang como Seul parecem estar a dar alguns sinais de apaziguamento. O Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que vai abandonar a presidência no próximo ano, propôs uma declaração de paz simbólica entre os dois países, ao que o seu homólogo norte-coreano respondeu, perante o parlamento, que as linhas de comunicação com o Seul deveriam ser restabelecidas para “promover a paz”.

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No entanto, Kim Jong-un diz que a Coreia do Sul “continua a seguir os Estados Unidos” e que o “respeito mútuo deve ser garantido” antes de os dois países terminarem oficialmente a guerra. Nesse sentido, o líder supremo da Coreia do Norte admitiu restabelecer as linhas de contacto por telefone e fax em outubro, exortando a Coreia do Sul a abandonar a sua “atitude de duplo padrão”, uma vez que as as relações entre os dois países estão numa “encruzilhada entre a reconciliação e um ciclo vicioso de confronto”.

Ao mesmo tempo que Kim Jong-un deixava sinais sobre os próximos passos da Coreia do Norte, era também noticiado pela KCNA, a agência oficial note-coreana, que a irmã do líder supremo, Kim Yo Jong, acaba de ser nomeada membro da Comissão de Assuntos de Estado, o mais alto órgão de governo do país.
Kim Yo Jong, conhecida pelas suas declarações contra os Estados Unidos, tem vindo a subir na hierarquia do regime e há vários meses que é apontada como uma possível sucessora de Kim Jong-un.