Os trabalhadores da Saint-Gobain de Santa Iria da Azoia, Loures, decidiram esta quinta-feira pedir novas reuniões ao Governo, para discutir alternativas concretas ao despedimento coletivo em curso na fábrica de vidro, antes de que este seja consumado.

“No plenário de hoje, que foi muito participado, os trabalhadores decidiram que, apesar do encerramento das negociações pela empresa, continuam disponíveis para continuar a lutar pelos seus empregos e, por isso, deve-se insistir junto do Governo para ver quais as propostas concretas para encontrar alternativas ao despedimento“, disse à agência Lusa Fátima Messias, coordenadora da Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro (FEVICCOM).

A negociação do despedimento coletivo da Saint-Gobain de Santa Iria da Azoia terminou na terça-feira sem acordo entre as partes, mas os trabalhadores viram a sua compensação majorada e alguns benefícios sociais prorrogados.

“Todos temos a noção de que os próximos dias serão cruciais para desenvolver novas ações de pressão, antes que a empresa formalize o despedimento”, afirmou a sindicalista.

Trabalhadores da Saint-Gobain pedem ao Governo soluções para despedimento coletivo

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Os representantes dos trabalhadores da Saint-Gobain reuniram-se na segunda-feira, no Ministério do Trabalho, com os secretários de Estado do Emprego e Adjunto do ministro da Economia para tentar que o Governo tomasse medidas antes de a empresa formalizar o despedimento coletivo.

No sábado, os trabalhadores manifestaram-se junto à residência oficial do primeiro-ministro, António Costa, em Lisboa, para pedir a sua intervenção.

No plenário desta quinta-feira foi decidido pedir nova reunião aos dois ministérios, para saber se entretanto encontraram algumas “alternativas concretas” ao encerramento da fábrica e ao despedimento coletivo.

“Pretendemos também apresentar ao Governo propostas para aproveitar as potencialidades das instalações e dos equipamentos da fábrica de Santa Iria, aproveitando o conhecimento e experiência destes trabalhadores”, explicou Fátima Messias.

Segundo a sindicalista, os trabalhadores também não se conformam com o facto de o grupo Saint-Gobain nada ter feito para impedir o encerramento da empresa, e vão tentar fazer pressão na estrutura europeia do grupo, através do Comité Europeu de Empresa, onde está um representante dos trabalhadores portugueses.

Os representantes dos trabalhadores vão também pedir reuniões aos grupos parlamentares, “para lhes dar conhecimento de que os trabalhadores não desistiram e perguntar o que cada um vai fazer para os ajudar a encontrar uma alternativa ao despedimento”.

“Pedimos a intervenção do Governo e vamos pedir aos grupos parlamentares para que travem o encerramento da fábrica e defendam os interesses do país e o aparelho produtivo nacional, dado que é a única fábrica do país que produz vidro para automóveis”, disse Fátima Messias.

Da reunião de terça-feira resultou que a empresa vai duplicar o valor das indemnizações relativamente ao que é obrigatório por lei e vai manter alguns benefícios ao longo do próximo ano, nomeadamente seguros de saúde e de vida.

Dos 130 trabalhadores da fábrica, seis vão ser recolocados num armazém da Saint-Gobain em Palmela e os restantes deverão começar a receber as cartas de aviso prévio de despedimento e, tendo em conta os prazos legais em função da antiguidade, deverão perder o vínculo laboral em novembro e dezembro.

A empresa tinha contratado os serviços de uma consultora para ajudar a encontrar novos empregos para os trabalhadores a despedir e comprometeu-se a manter esse apoio até ao início do próximo ano.

Segundo a empresa, os problemas da Saint-Gobain Sekurit Portugal têm mais de uma década, mas “a pandemia da Covid-19 agravou uma situação já de si frágil, aumentando substancialmente a retração do mercado automóvel (a empresa transforma vidro para os automóveis, sendo essa a sua única atividade), sem possibilidades de recuperação a curto, médio e longo prazo”.

Em Portugal, o Grupo Saint-Gobain emprega cerca de 800 trabalhadores distribuídos por 11 empresas e oito fábricas e totaliza um volume de faturação correspondente a 180 milhões de euros.

A decisão de encerramento da atividade produtiva da empresa e o consequente despedimento coletivo dos 130 trabalhadores foi anunciada no dia 24 de agosto.