O jogo só começava à noite mas, para os adeptos do Barcelona, o dia começou bem cedo. Numa declaração enviada à comunicação social espanhola, Joan Laporta segurou Ronald Koeman, garantiu que o treinador ia continuar no comando técnico da equipa independentemente do resultado contra o Atl. Madrid e lembrou que o holandês merece “o benefício da dúvida”.

“Koeman vai continuar como treinador do Barcelona. Tem o benefício da dúvida independentemente do resultado de hoje. Entendemos que merece essa margem por várias razões: é um adepto do Barcelona e é uma lenda para adeptos no mundo inteiro. Vai continuar e merece a nossa confiança. Ele adora o Barça e decidiu vir para cá num momento muito difícil tanto desportiva como institucionalmente. Depois de falar com ele, percebi que tem fé na equipa. Falámos e não é verdade que tenhamos uma relação tensa, é uma relação boa e honesta. Pensamos o mesmo e queremos ambos dar a volta à situação”, disse este sábado o presidente dos catalães.

Ora, a verdade é que a decisão de Laporta está mais relacionada com o facto de a direção do Barcelona ainda não ter encontrado uma solução imediata do que a alegada fé que diz ter em Ronald Koeman. Os catalães gostam de Roberto Martínez, que está na seleção da Bélgica, gostam de Erik ten Hag, que está no Ajax, e gostam de Andrea Pirlo, que está livre — contudo, acreditam que só os primeiros dois têm a capacidade de desenhar, construir e implementar um projeto a longo prazo e que o terceiro seria apenas uma solução rápida que não é aquilo que a direção pretende. Além disso, despedir Koeman custa 13 milhões de euros: dinheiro que o clube não tem.

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Neste contexto e logo depois da derrota a meio da semana na Luz, contra o Benfica e na Liga dos Campeões, o Barcelona visitava o Atl. Madrid no Wanda Metropolitano no primeiro jogo com lotação total do estádio em Espanha. No reencontro com os catalães, Griezmann começava no banco e João Félix voltava ao onze depois de ter cumprido dois jogos de castigo, juntando-se a Suárez, Lemar, Marcos Llorente, Ferreira Carrasco e De Paul na zona mais adiantada. Do outro lado, Koeman — que não estava no banco por estar castigado — deixava Ansu Fati e Luuk de Jong no banco e apostava no jovem Gavi, um médio de apenas 17 anos, Nico González, outro médio de apenas 19, e ainda Mingueza, um central adaptado a lateral direito que era titular quando Jordi Alba era suplente.

Sem ser brilhante, o Atl. Madrid foi para o intervalo a vencer confortavelmente. A equipa de Diego Simeone abriu o marcador por intermédio de Thomas Lemar, num lance que começou com uma receção orientada de João Félix e teve depois assistência de Suárez (23′), e aumentou a vantagem através do mesmo Suárez (44′), que finalizou um contra-ataque perfeito que também teve a intervenção de Félix e Lemar e não festejou, juntando apenas as mãos para pedir desculpa aos adeptos do Barcelona. Os catalães até dividiram a partida, tiveram alguma presença no meio-campo ofensivo mas não têm soluções no ataque e são altamente frágeis na defesa, com os passes em profundidade do Atl. Madrid a desmontarem o posicionamento de Piqué e Ronald Araújo como um castelo de cartas. Na ida para o intervalo, destacava-se ainda a exibição de João Félix, que ia sendo um dos melhores elementos dos colchoneros no regresso à competição.

Ao intervalo, Simeone trocou De Paul por Trippier e Koeman tirou Nico González para lançar Sergi Roberto. O Barcelona continuava a ter bola, continuava a trocá-la no meio-campo adversário durante longos períodos mas raramente encontrava espaços para desequilibrar, colocando cinco elementos ofensivos praticamente em linha e sem permutas de posição. Por volta da hora de jogo, Gavi aproveitou dois ressaltos para criar a melhor oportunidade dos catalães na partida e Philippe Coutinho atirou para uma boa defesa de Oblak (60′), naquele que foi o primeiro remate enquadrado da equipa de Koeman desde o apito inicial contra o Benfica.

O Atl. Madrid estava confortável na partida, com as linhas mais recuadas e os setores mais encaixados, e só soltava o ataque em transição rápida — João Félix ficou muito perto de acabar com o jogo, com um remate rasteiro depois de uma combinação de Suárez, mas Ter Stegen encaixou (66′). Ansu Fati entrou para o lugar de Coutinho e, embora sempre muito sozinho, o jovem avançado trouxe ao Barcelona aquilo que tem faltado aos catalães, entre a vertigem, o desequilíbrio e as mudanças de velocidade. Simeone respondeu à entrada do internacional espanhol e refrescou a frente de ataque, lançando Correa e Griezmann.

Até ao fim, já pouco aconteceu (para lá das imagens extraordinárias de Simeone a pedir o apoio dos adeptos). O Atl. Madrid venceu o Barcelona no Wanda Metropolitano e igualou o Real Madrid na liderança da liga espanhola, ainda que os merengues só entrem em campo este domingo. Já os catalães sofreram a primeira derrota no campeonato, somaram o quinto jogo sem vencer nos últimos seis disputados e estão já na 9.ª posição da classificação. Joan Laporta segurou Ronald Koeman mas este Barcelona está preso por arames — resta saber o que acontece depois da paragem para os compromissos das seleções.