Durante seis anos, até ser capturado na Síria em 2019, o canadiano Mohammed Khalifa foi a voz em língua inglesa para os vídeos de propaganda do autodesignado Estado Islâmico. Na próxima semana, vai enfrentar a justiça norte-americano e pode ser condenado a prisão perpétua por conspiração para ajudar uma organização terrorista, de acordo com o The Washington Post.

Nascido na Arábia Saudita, Mohammed Khalifa, de 38 anos, saiu de Toronto, no Canadá, em 2013 rumo à Síria para se juntar às fileiras do Daesh. Khalifa começou como um combatente, mas, aos poucos, pelo domínio tanto da língua árabe como da língua inglesa, tornou-se numa das figuras chave nas ações de propaganda do grupo terrorista.

Através dessas ações, sobretudo vídeos onde se viam execuções de prisioneiros ou outras atrocidades, o Daesh incentivou os seus apoiantes a juntarem-se ao grupo na Síria e no Iraque. E, segundo a acusação. as traduções para inglês feitas por Mohammed Khalifa foram fundamentais para recrutar militantes no Ocidente. Além disso, nos vídeos a que dá a voz, Mohammed Khalifa incentivou aqueles que não se podiam juntar ao grupo no estrangeiro a perpetrarem atentados terroristas nos próprios países.

“Khalifa promoveu o grupo terrorista, intensificou os seus esforços de recrutamento em todo o mundo e expandiu o alcance dos vídeos que glorificavam os horríveis assassinatos e a crueldade indiscriminada do Daesh”, afirmou em comunicado o procurador Raj Parekh, da Virgínia, onde o cidadão canadiano vai ser julgado.

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“Mohammed Khalifa não só lutou pelo Daesh no campo de batalha na Síria, como também foi a voz por trás da violência”, lê-se ainda no mesmo documento.

O tradutor do Daesh foi capturado no nordeste da Síria em janeiro de 2019, durante combates entre militantes jihadistas e membros das Forças Democráticas da Síria, uma milícia curda apoiada pelos Estados Unidos. Depois de ter sido identificado, foi entregue ao FBI.

Desde então, Mohammed Khalifa deu várias entrevistas em que admite ser a sua voz que aparece nos vídeos de propaganda do Daesh. No entanto, rejeita as acusações de que está a ser alvo, alegando que nunca participou em atos de violência, limitando-se a traduzir.

Antes de viajar para a Síria, em 2013, Khalifa era técnico de informática. Foi radicalizado para o Daesh através de vídeos de propaganda e, num e-mail enviado para um familiar antes de se juntar às fileiras do grupo terrorista, , citado pelo Washington Post, anunciou ir para a Síria “combater pela jihad, não apenas para defender os sírios, mas também porque é uma obrigação lutar contra os tiranos, retirá-los do poder e estabelecer a sharia [lei islâmica], com o objetivo de restabelecer o califado islâmico”.