Depois do dececionante 20.º lugar no Grande Prémio de São Marino, condicionado também por um toque involuntário de Iker Lecuona que arrancou a asa lateral da sua KTM, Miguel Oliveira encontrava nos dois dias de testes em Misano a luz ao fundo do túnel para inverter a espiral de resultados desde a corrida na Estíria que ficou marcada por uma queda que provocou uma lesão no pulso do português. As palavras no final, essas, quase que soavam a alívio. Depois de cinco provas onde somou apenas dois pontos e daquele que tinha sido o pior resultado em Grandes Prémios terminados no MotoGP, havia por fim esperança.

Miguel Oliveira esteve quase nos dez primeiros, não ficou. Caiu, levantou-se, e vai arrancar do 18.º posto no GP das Américas

“Fomos mais competitivos no tempo por volta. Conseguimos fazer muito trabalho. Tentámos perceber a afinação que melhor se adapta a mim para ser rápido, testámos algumas peças de aerodinâmica. Espero traduzir isto num bom pacote para o resto da época. Se não encontrássemos [o que estava mal] seríamos amadores”, assumiu, antes de colocar ainda assim algumas reservas em relação ao que poderia ser uma semana e meia depois o Grande Prémio das Américas num “fim de semana de descoberta” para o piloto. Assim assim, sobravam também as palavras de Iker Lecuona, na Tech3, sobre o desempenho recente das KTM. “Temos uma mota que à mínima alteração das condições fica completamente diferente, seja a temperatura, piso… Assim é difícil trabalhar, a mota é irregular”, comentara o espanhol.

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Miguel Oliveira, resultados falhados e as coisas que estavam realmente mal: “Se não encontrássemos seríamos amadores”

Foi isso que acabou por se verificar nos dias de sessões de treinos livres e qualificação, que até tiveram um início que prometia quando Miguel Oliveira estava em terceiro a 15 minutos do final do FP1 antes de sofrer a primeira de duas quedas no circuito e que lhe valeram uma queda abrupta de posição antes de um 11.º lugar no FP3, falhando a Q2 pela última volta do companheiro Brad Binder. Depois, na Q1, mais uma saída de pista e um 18.º posto na linha da grelha entre vários pontos que não traziam boas sensações.

“Foi uma qualificação muito difícil, depois dos bons ritmos que tivemos. Ainda temos muito trabalho pela frente. A nossa mota é bastante nervosa e não nos permite ir mais rápido. Para já, é da 18.ª posição que teremos de sair. O nosso ritmo é bastante melhor. Por isso, o objetivo é recuperar algumas posições e terminar dentro do top 10, que acredito que é o nosso lugar”, assumiu Miguel Oliveira à sua assessoria de imprensa, colocando a fasquia bem acima daquilo que conseguia nas provas onde só queria “pontuar”.

Se havia circuito que não se adaptava a uma moto instável era mesmo o de Austin, no Texas, considerada por vários pilotos a pista mais perigosa de todas incluindo o próprio Pecco Bagnaia, italiano da Ducati que ganhou as duas últimas provas saindo na frente e que conseguira a terceira pole position consecutiva à frente do líder do Mundial, Fabio Quartararo (Yamaha), e do “regressado” Marc Márquez, da Honda. Ou seja, com grande imprevisibilidade na frente até pelos bons tempos que motos de diferentes marcas iam fazendo, esta seria sempre uma corrida de paciência, de calculismo e de sangue frio nas decisões.

Acabou por ser isso a fazer a diferença, num arranque onde Marc Márquez conseguiu saltar para a frente para não mais perder o primeiro lugar e Miguel Oliveira conseguiu subir duas posições para o 16.º posto, aproveitando depois as contingências próprias da corrida para manter o ritmo e ir escalando mais alguns lugares na classificação aproveitando algumas quedas como as de Nakagami, que conciliada com as passagens por Franco Morbidelli e Luca Marini valiam a ascensão a 13.º antes de nova saída de pista agora de Zarco e a ultrapassagem a Aleix Espargaró (que também viria a desistir pouco depois).

A dez voltas do final, Miguel Oliveira ocupava ao 11.º lugar lutando para reduzir a desvantagem de pouco mais de um segundo para Pol Espargaró na tentativa de subir ao top 10 nas Américas. Lá na frente, Marc Márquez ganhava terreno a Fabio Quartararo enquanto a Ducati de Jorge Martín fechava o pódio à frente dos companheiros de marca Jack Miller e Pecco Bagnaia, seguidos pelas Suzuki de Álex Rins e Joan Mir e a KTM de Brad Binder, companheiro de equipa do português que seguia na oitava posição. Uma travagem falhada acabou por impedir o Falcão de lutar por mais mas, ainda assim, o piloto da KTM fez o melhor resultado desde Assen, no final de junho. Lá na frente, o grande derrotado acabou por ser Jorge Martín, que devido a uma long lap acabou por perder a posição no terceiro lugar para Pecco Bagnaia.