Os campeões do mundo de futsal aterraram em Lisboa, reuniram-se com alguns elementos das respetivas famílias no meio da multidão que os esperava no Aeroporto Humberto Delgado e seguiram para a Cidade do Futebol, em Oeiras, onde foram recebidos por vários elementos da Federação Portuguesa de Futebol, incluindo Fernando Santos. Depois de almoço, já sem os cachecóis na cabeça e com as camisolas mais aprumadas, o conjunto de Jorge Braz foi até ao Palácio de Belém para ser condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa.

Na cerimónia, o Presidente da República deixou uma palavra inicial a Fernando Gomes, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol. “Está quase a atingir 10 anos de serviço a Portugal nesta missão. E, para feliz coincidência, fomos sucessivamente ganhando tudo ou quase tudo. O difícil é saber o que não ganhámos e o difícil é continuarmos a ganhar a este ritmo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, dirigindo-se depois aos jogadores. “Alguns já cá estiveram em 2018, aquando da vitória na Europa. Éramos os melhores da Europa, faltava sermos os melhores do mundo. Hoje, somos os melhores do mundo. E sabem como repito isso insistentemente, porque há sempre falta de auto-estima em alguns dos nossos compatriotas. Fiquei muito impressionado porque foi mais ou menos isso que Jorge Braz disse antes da final. Disse que merecíamos vencer porque somos dos melhores do mundo. Disse uma evidência. Merecíamos. Merecemos e ganhámos”, acrescentou, destacando depois as características do futsal que Portugal explorou.

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“O futsal é uma modalidade muito popular. Não no sentido de quem assiste mas no sentido de quem a pratica. Tornou-se muito popular em pouco tempo porque não tem 100 anos de história. Em todo o mundo há miúdas e miúdos, crianças e jovens a praticarem o futsal e há pais e avós a apoiarem e amigos e clubes e autarquias. Cada português sente que há uma motivação adicional para praticar esta modalidade. Sente que tem uma oportunidade e que não a pode perder. Isto é fazer pelo exemplo, não é teoria, não é dar aulas, é praticar. As vossas vitórias são motivadoras para as nossas crianças e jovens. Depois, há a segunda característica, que é a criatividade. Esta é uma modalidade que apela à criatividade e a criatividade aprende-se mas ou se tem ou não se tem. Naquele espaço limitado, com os limites físicos, com os limites que o próprio conjunto de regras impõe, a criatividade é decisiva. Mais do que noutras modalidades, faz a diferença num segundo, num minuto. E nós somos criativos, somos talentosos”, continuou o Presidente da República, que deixou ainda palavras de elogio ao trabalho de João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, e Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação.

Mais à frente, Marcelo saudou os estudantes portugueses que estão na Lituânia sob o Programa Erasmus e que marcaram presença de forma constante nas bancadas dos jogos da Seleção Nacional. “Não foi fácil, nem nos prolongamentos nem nos penáltis. E aí se vê a fibra. Mas esse é também um retrato da nossa história. Preparámo-nos para vencer os desafios mas depois eles foram vencidos nos minutos ou segundos decisivos. Sem a preparação não era possível mas só a preparação podia não chegar. Aí é que se vê a capacidade de resistência psicológica. O que é facto é que fizemos história. Cada português e cada portuguesa sabiam os vossos nomes um por um e vibravam com o vosso estado de espírito, a vossa intervenção, cada lance, cada entrada mais forte de um jogador adversário. E ganhámos”, afirmou o Presidente da República, que ainda deixou palavras ao selecionador Jorge Braz antes de dedicar largos minutos exclusivamente a Ricardinho.

“Todos merecem mas o Ricardinho merece porque já era história. Já estava na história e decidiu sair da história para ainda fazer história uma última vez. Já tinha ganho tantas vezes o lugar de melhor do mundo que a carreira estava feita. O tendão não ajudava e todos nós passámos a discutir o tendão do Ricardinho como um problema nacional. Ele é teimoso, não vai perder esse momento. E não perdeu. Para ele, vai um abraço especial que não é uma despedida, é um até logo. Ele continua presente porque esse é outro espírito fundamental da Federação e desta equipa: ninguém é esquecido, ninguém é deitado fora. Todos continuam presentes. Podem não estar no campo mas estão na bancada, estão na equipa técnica, pertencem àquilo que é um mesmo todo e isso é uma grande lição para Portugal”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, abrindo a porta a uma continuidade da carreira do capitão português que ele próprio ainda não confirmou nem rejeitou.

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Já depois do Presidente da República e já depois do momento em que todos, entre equipa técnica e jogadores, receberam as respetivas condecorações, Ricardinho também subiu ao palanque enquanto porta-voz do grupo. Sem cábula, depois de se dirigir a Marcelo Rebelo de Sousa e pedir desculpa por dedicar por inteiro o discurso aos colegas, proferiu frases curtas mas muito emotivas. “Não tenho o dom da palavra mas, mais do que nunca, vou ser o porta-voz desta equipa. É com enorme orgulho que estamos aqui novamente a ser condecorados depois de conquistar o mundo. Obrigado por tudo o que dão ao nosso país. É um orgulho ser o vosso capitão mas, como todos vêem, a liderança reparte-se por todos, somos todos capitães. Vocês são e vão ser o exemplo de milhares de crianças. Já fomos aqui apelidados de geniais e, para mim, escrevemos com letras douradas o nome de Portugal na página mais bonita da história do futsal. Vocês são históricos”, atirou Ricardinho.

Antes de Marcelo Rebelo de Sousa e de Ricardinho, no início da cerimónia, também Fernando Gomes tomou a palavra. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol anunciou que a fase 3 da Cidade do Futebol, onde vai nascer o pavilhão das seleções nacionais de futsal, vai arrancar no início de 2022 e sublinhou a dimensão do feito alcançado na Lituânia. “Costumamos dizer que nada do que conquistámos é mais importante do que aquilo que ainda falta conquistar. Todos trabalhamos com este lema. Ganhar um Mundial verdadeiramente global, numa modalidade com mais de 150 países que a praticam, é um feito de uma dimensão que vamos demorar tempo a entender. É um feito que começa nas mães e nos pais que incentivam os filhos a praticar desporto. Segue nos clubes, que mantêm as luzes acesas até altas horas da noite para rapazes e raparigas praticarem desporto. Este país só viverá mais momentos como o de ontem se tiver a humildade de, em vez de olhar para o céu quando ganha, olhar antes para como alargar a nossa base”, atirou Fernando Gomes.

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“Senhor Presidente, já lhe trouxe aqui os campeões da Europa de futebol de praia, os campeões do mundo de futebol de praia, os campeões da Europa de futebol, os campeões da Europa de futsal, os campeões da Liga das Nações de futebol. Agora, são os campeões do mundo de futsal. Este grupo de campeões construiu um dos maiores feitos alguma vez alcançados por um desporto coletivo português. Conheço-os, um a um, assim como aos seus treinadores e a muitos dos dirigentes dos clubes. Sei que, ao lado do orgulho que cada um sente, está a responsabilidade de serem embaixadores eternos para cada rapaz e cada rapariga que ontem pediram aos pais para praticarem este desporto”, terminou o presidente da Federação.