O presidente eleito da câmara municipal de Lisboa, o social-democrata Carlos Moedas, está convicto de que a sua experiência europeia de diálogo com a esquerda o ajudará a evitar que a capital caia na ingovernabilidade.

Em declarações a uma reportagem do jornal espanhol El País sobre os resultados surpreendentes das eleições autárquicas portuguesas, Moedas salientou que já conversou com todos os partidos eleitos para a câmara de Lisboa.

“Já falei com todos por telefone. Os sinais que recebo da oposição são de que estamos aqui para fazer o melhor para a cidade, muitas das minhas medidas não são ideológicas e podem ter apoio”, disse Moedas.

O ex-comissário europeu foi eleito presidente da câmara de Lisboa depois da a coligação Novos Tempos (PSD, CDS, Aliança, MPT e PPM) ter vencido as eleições com 34,26% dos votos em Lisboa, apenas mais 2.294 votos do que Fernando Medina, que terminou com 33,31%.

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Os resultados deram origem a um executivo autárquico dividido e dominado pela esquerda, embora a lei eleitoral autárquica determine que deve ser nomeado presidente da câmara o candidato do partido mais votado — mesmo que esteja em minoria.

No caso da câmara de Lisboa, Moedas tem sete dos 17 membros do executivo, exatamente o mesmo número de vereadores do PS. A CDU elegeu dois vereadores e o Bloco de Esquerda um — o que significa que a esquerda tem uma maioria de 10 vereadores que poderá funcionar como força de bloqueio em várias decisões autárquicas.

Sem parceiros, caso a caso e atento às maiorias de bloqueio. Como Moedas vai tentar governar Lisboa

Ainda assim, Moedas não acredita que a cidade se tornará ingovernável devido a este complexo equilíbrio de forças e lembra a sua experiência europeia.

“Geri o programa de ciência com o apoio da esquerda, tenho capacidade de construir pontes de uma maneira que sempre funcionou bem”, explica ao El País.

Carlos Moedas salientou ainda que foi condição fundamental da sua candidatura não se aliar ao Chega e não contribuir para o fenómeno de crescimento dos partidos populistas que tem sido observado por toda a Europa. “A minha primeira condição foi não fazer alianças com populistas, porque não gosto deles e penso que o populismo está a matar a democracia. Os extremos não me interessam, estejam à esquerda ou à direita.”

No entender do ex-comissário europeu, o que importa são os conteúdos das políticas e não o confronto entre políticos, diz Moedas, aproveitando para lançar uma farpa às sondagens e aos comentadores, que desvalorizaram a possibilidade da vitória do centro-direita até ao dia da eleição.

“Julgaram que eu não valia a pena, penso que me subestimaram. Creio que as pessoas querem gente diferente na política e eu estou nessa mudança, não estou a pensar dar um golpe baixo ao adversário a não ser nas ideias e nos conteúdos. Os comentadores e as sondagens ainda valorizam os políticos pelo registo antigo de fazer política”, diz.