A curta-metragem erótica “Wash me” (“Lava-me”, na tradução para português), realizada por Rebecca Stewart, foi lançada esta segunda-feira em Barcelona, a propósito do Dia Internacional contra o Cancro da Mama, que se assinala em 19 de outubro.

Apresentado pelo Hospital del Mar, pela fundação Amics de L’Hospital del Mar e pela produtora ErikaLustFilms, a obra baseia-se na experiência pessoal da realizadora de 31 anos, que redescobriu a sua sexualidade depois de um tratamento que a levou a “quase odiar” o seu corpo, e tenciona promover o debate sobre as repercussões da doença na sexualidade feminina.

Para muitas mulheres, falar sobre sexo durante o tratamento pode ser difícil porque vemos isso como algo que fazemos apenas para nos divertir, mas a realidade é que sexo pode ser algo muito mais importante. Para mim, era uma necessidade psicológica”, frisou Rebecca Stewart durante a conferência de imprensa.

Diagnosticada com cancro da mama em 2019, a realizadora passou alguns dias inteiros com “agulhas, medicamentos e visitas a hospitais” e teve fases em que não podia tomar banho sozinha, tendo precisado da ajuda do seu parceiro para o fazer, algo que proporcionou momentos de “intimidade” e de “conexão” retratados no filme.

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“No início do tratamento eu tinha mais libido porque era uma forma de me lembrar que ainda estava viva (…), mas depois de três ou quatro meses de quimioterapia comecei a notar diferenças físicas na minha sexualidade, secura vaginal e vaginismo. Os médicos sugeriram que isso era normal, mas ninguém falava sobre isso”, salientou.

Recuperada do cancro, a realizadora aproveitou o facto de trabalhar para a Erika Lust Films, produtora que se tem distinguido pelos filmes eróticos feministas, para proporcionar aos espetadores a reflexão sobre o tema.

Já a chefe da secção de oncologia no Hospital del Mar e médica de Rebecca Stewart, Sónia Servitja, afirmou que o “estigma social” relacionado com o sexo faz transparecer que uma paciente de cancro da mama “só tem de lidar com a superação da doença”.

A especialista adiantou que várias pessoas receiam falar de sexo quando lidam com o cancro e esclareceu que nem todos os casos são como o da realizadora de “Wash me”, já que a “recuperação” a nível sexual depende da “pessoa”, da “idade”, da “recuperação da menstruação” ou do facto de o “tratamento” ser hormonal ou não.

“O principal problema do cancro da mama é a diminuição de estrogénios provocada pelo tratamento (…), porque a menopausa precoce tem efeitos na libido, [provoca] secura vaginal e até a elasticidade estrutural vaginal que pode causar vaginismo”, detalhou a médica, defensora da introdução de sexólogos nas unidades oncológicas.