Ndakasi, a gorila-das-montanhas que se tornou famosa através de uma selfie em 2019, morreu nos braços de Andre Bauma, o homem que lhe deu colo há 14 anos, depois de ter sido resgatada de junto do cadáver da mãe. A primata não resistiu a uma “doença que rapidamente deteriorou a sua saúde”, revelou esta terça-feira o Parque Nacional de Virunga, onde vivia, no leste da República Democrática do Congo (RD Congo).
A história de Ndakasi começou em abril de 2007 quando foi encontrada pelos guardas do parque agarrada ao corpo da mãe abatida a tiro. Foi rapidamente colocada num centro de acolhimento em Goma, onde conheceu Andre Bauma, que seria o seu tratador e “amigo de longa data”.
Durante essa primeira noite, Bauma segurou a bebé gorila de dois meses junto ao seu peito para a manter quente e confortável. Ndakasi sobreviveu, mas com um “grande trauma” por ter perdido a família, recorda o parque num comunicado oficial. O animal foi considerado “demasiado vulnerável” para voltar à floresta e foi transferido em 2009 para o centro de acolhimento de Senkwekwe, “a única instalação no mundo dedicada à proteção de gorilas-das-montanhas”, especialmente órfãos, que fica no quartel general do parque.
“Foi a inteligência e amabilidade de Ndakasi que me ajudou a perceber a conexão entre humanos e os grandes primatas e a razão pela qual devemos fazer tudo ao nosso alcance para os proteger”, disse Andre Bauma, no comunicado.
A gorila tornou-se “famosa” em 2019 quando uma selfie se tornou viral no Dia da Terra. A foto inclui duas gorilas, Ndakasi e Ndeze, também uma gorila órfã das montanhas, de pé, com um outro tratador. Mathieu Shamavu estava a ver o seu telemóvel quando reparou que os gorilas o estavam a imitar, o que o levou a tirar a fotografia.
Não foi a única vez que Ndakasi apareceu num ecrã. A primata foi uma das personagens do documentário “Virunga”, de 2014.
Os massacres que levaram a família da “protagonista” desta história foram decisivos para a implementação de uma “extensa” reforma de segurança do Parque Nacional de Virunga, como diz o site oficial. As autoridades congolesas fortificaram a proteção dos animais, numa altura em que a população global dos gorilas-das-montanhas estava gravemente fragilizada. Desde então, a espécie cresceu de 720 indivíduos para 1.063 durante os 14 anos que Ndakasi viveu.
“A morte de Ndakasi sublinha a importância de proteger os gorilas no seu habitat natural, onde estes prosperam e onde a sua esperança de vida é máxima”, pode ler-se no comunicado oficial, que explica que é exatamente por essa razão que o parque se foca em combater o tipo de eventos que trouxe a gorila ao parque.
O Parque Nacional de Virunga é um local classificado como Património Mundial da UNESCO localizado no leste da República Democrática do Congo e é considerado o parque com mais biodiversidade de África, que abrange florestas tropicais, cordilheiras montanhosas e vulcões ativos.
Mas o parque não escapou aos conflitos armados que se verificaram ao longo dos anos na região e teve de implantar medidas extraordinárias para manter os visitantes e a fauna a salvo dos conflitos, através de uma grande equipa de guardas que atualmente são 689. Estas pessoas, mulheres e homens locais, “são altamente treinados e arriscam as suas vidas diariamente na proteção da biodiversidade, também em articulação com as comunidades locais”.
Ainda no início do ano, segundo a Deutsche Welle, vários guardas foram abatidos a tiro por grupos armados. Em abril de 2020, pelo menos 17 pessoas foram mortas, incluindo 12 guardas, quatro civis e um membro do Instituto Congolês de Conservação da Natureza.