O líder da lista B às eleições do Benfica, Francisco Benitez, assegura que, em caso de vitória, Jorge Jesus vai cumprir o contrato até ao final, mas vincula o futuro do treinador à existência de “compromisso” com o projeto.

Comigo, Jorge Jesus vai terminar o seu contrato, dar-lhe-ei todas as condições que ele precise para terminar o seu contrato e fazer um excelente resultado. A partir daí, vai ser-lhe apresentado o projeto que nós temos e este plano estratégico de 10 anos e, a partir daí, tem de haver um compromisso da parte de Jorge Jesus para connosco ou não”, afirma, em entrevista à Lusa, o empresário e sócio n.º 3.082 do clube da Luz.

Segundo o programa eleitoral, a estrutura do futebol ‘encarnado’ sofre mudanças, ao passar a estar assente em administradores para o futebol, diretor desportivo, ‘team manager’, diretor de ‘scouting’ e responsável pelo futebol de formação. Confrontado com a ausência da figura do treinador no organograma e uma consequente perda de influência na política de transferências, Benitez contrapõe a necessidade de sintonia entre todos os elementos.

“É óbvio que o treinador tem uma voz ativa e uma palavra a dizer, mas dentro de uma equipa, porque o treinador depois vai embora e os jogadores ficam”, observa, sublinhando: “Tem de ser uma escolha de equipa, respeitando o plano, porque o próprio treinador também tem de estar comprometido com o projeto. Portanto, tem de haver uma visão única. É fácil quando ocorre uma visão única haver um acordo entre as várias estruturas e equipa técnica”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por outro lado, Francisco Benitez reconhece algumas pontes entre o perfil traçado por si e pela sua equipa e Jorge Jesus, ao reforçar que “o Benfica deve voltar a ter um sistema de jogo que seja bastante versátil, ofensivo, com posse e grande pressão” sobre o adversário.

“Acho que o Jorge Jesus tem este tipo de jogo. Agora, pode ter outras características que podem não caber dentro do projeto, mas isso é uma questão que temos de avaliar”, explica.

O empresário, de 57 anos, assume que terá “a última palavra” no tema do futebol, mas remeteu a responsabilidade para a futura administração da SAD, deixando em aberto o nome de quem se vai sentar na presidência depois da anunciada alteração dos estatutos do clube. A revisão estatutária é uma das primeiras medidas anunciadas pela Lista B em caso de vitória e Francisco Benitez admite que ficará à frente da SAD enquanto não houver essa alteração.

Já sobre o cargo de diretor atualmente ocupado por Rui Pedro Braz, repete o discurso feito com Jorge Jesus. “O plano estratégico será apresentado a toda a estrutura e toda a gente que se encaixe dentro deste plano e que assuma o compromisso de vitória, terá lugar; se não se encaixar e se não assumir esse compromisso, não terá lugar”.

Com críticas a uma cultura de dirigismo “unipessoal”, Francisco Benitez adiantou ainda que as relações institucionais com FC Porto e Sporting estão condicionadas ao respeito pelos pilares definidos para o clube: transparência, democracia e ambição.

Todos os clubes que saibam respeitar democracia e transparência terão as portas abertas, todos os clubes que não saibam respeitar isto, democracia e transparência, terão as portas fechadas”, frisa.

No que toca à construção do plantel, o líder da lista B reitera a diminuição de influência dos empresários e defende não ver “necessidade de ter intermediários a vender jogadores”, além da pretensão de querer manter os melhores jogadores de futebol da equipa principal do Benfica por um período de tempo mais duradouro.

Achamos que os intermediários não têm razão nenhuma. Não somos ingénuos para achar que os jogadores não vão continuar a ter agentes, mas isso é normal e é da parte do próprio jogador. Agora o Benfica não tem de ter emissários para andar a vender os jogadores de porta em porta com uma ‘malinha e um catálogo'”, salienta, recusando para o futuro qualquer exclusividade de empresários na Luz.

A terminar, Francisco Benitez fez um diagnóstico crítico da situação das modalidades de pavilhão ‘encarnadas’, vincando que o primeiro passo é criar o cargo de diretor-geral, sob o qual ficarão ‘team managers’ para cada modalidade. Entre exigências de maior rigor na alocação de recursos, o candidato da lista B propõe a angariação de um patrocinador único para as modalidades e a transmissão dos jogos pela BTV em sinal aberto.

As eleições para os órgãos sociais do Benfica para o quadriénio 2021-2025 realizam-se no sábado, com Rui Costa e Francisco Benítez a disputarem a sucessão a Luís Filipe Vieira, que ocupou o cargo de presidente durante quase 18 anos, desde 2003.

Estatutos, auditoria e composição da SAD são prioridades de Benitez

A alteração dos estatutos, a reformulação da composição da SAD e o lançamento de uma auditoria forense financeira são as prioridades de ação do candidato da Lista B, Francisco Benitez, à presidência da direção do Benfica.

Vamos dar logo início à alteração de estatutos, é um processo que tem de ser rapidamente feito porque o Benfica está preso àqueles estatutos que não permitem uma participação mais ativa dos sócios. A segunda coisa que vamos fazer – em paralelo — é avançar logo com um processo de auditoria forense, porque temos de perceber exatamente o que aconteceu”, diz, acrescentando: “Depois colocar mais gente que percebe de futebol dentro da SAD”.

Em caso de eleição para a presidência, o empresário salienta também que o Benfica devia tornar-se assistente no processo ‘Cartão Vermelho’, que tem o ex-presidente Luís Filipe Vieira como principal arguido e no qual, segundo o Ministério Público, estão em causa “negócios e financiamentos em montante total superior a 100 milhões de euros” suscetíveis de configurar “crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento”.

“Não é à toa que existem muitos processos sobre o Benfica. Alguma coisa tem de haver ali e o Benfica deve ser o primeiro a dar o passo, como, por exemplo, constituir-se assistente no processo ‘Cartão Vermelho’. Se o Benfica é lesado — e há indícios graves de que foi lesado -, o Benfica tem de se constituir como assistente daquele processo para saber o que é que realmente se passou”, explica.

O candidato de 57 anos sublinha ser a pessoa certa para o futuro do clube nas eleições deste sábado – às quais também concorre Rui Costa enquanto líder da lista A – por ter “uma grande equipa” ao seu lado, enaltecendo as virtudes deste grupo de sócios e das suas propostas. Simultaneamente, defendeu que só quer ir buscar pessoas “credíveis, competentes e, acima de tudo, benfiquistas” para a SAD.

[Tenho uma] equipa que nunca esteve no Benfica e que não tem nenhum tipo de cumplicidades, nada a esconder, e são benfiquistas de coração: gente que precisa do Benfica para viver, mas que não precisa do Benfica para comer. Portanto, isso dá uma capacidade de independência, de análise e de entrega ao Benfica que acho que é aquilo que o Benfica precisa neste momento”, realça.

E continua com o ataque à lista A, liderada por Rui Costa, visando a falta de ideias e a linha de continuidade de quase duas décadas de presidência de Luís Filipe Vieira.

“Não podemos continuar a ter uma equipa que já está saturada; das 20 pessoas que lá estão na lista concorrente, 14 já lá estão há vários anos. Já dominam a casa para trás e para a frente e as ideias que realmente são necessárias ter para o futuro, já não as têm, já deram tudo o que tinham para dar. Estão completamente espremidos e, portanto, agora é continuar no mesmo rumo e o que nós precisamos é de novas ideias”, observa.

Já sobre os motivos que o levaram a avançar para a corrida eleitoral, Francisco Benitez invoca a “oportunidade [dada] a quem não está satisfeito com o sistema atual ter uma alternativa para votar”; questionar a lista concorrente para saber o que pensam fazer, como e quando; e, finalmente, fazer com que todos os benfiquistas conheçam as ideias” desta lista, cuja base é o movimento ‘Servir o Benfica’.

Francisco Benítez concorre às eleições para os órgãos sociais do Benfica para o quadriénio 2021-2025, no sábado, frente ao atual presidente Rui Costa, que manifestou indisponibilidade de agenda para marcar uma entrevista. Ambos concorrem à sucessão a Luís Filipe Vieira, que ocupou o cargo durante quase 18 anos, desde 2003.