“Doença atual: homossexual”. Foi este o diagnóstico feito por um ginecologista do hospital público Reina Sofia, em Múrcia, Espanha, a Alba Aragón, de 19 anos, na passada segunda-feira. Trata-se da guarda-redes da equipa de futebol feminino CAP Ciudad de Múrcia, que não tardou em reagir nas redes sociais, mudando inclusive o símbolo para a bandeira que representa a comunidade LGBT.

A mãe da jovem, Santi, apresentou, na terça-feira, queixa formal no Serviço de Saúde de Múrcia (SMS) contra o médico que descreveu a orientação sexual da filha como uma doença. Vai também pedir que tal informação seja retirada do histórico clínico da mesma.

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Santi lamenta não ter podido acompanhar a filha naquele dia: “Ela é maior de idade, mas quando se vai ao ginecologista, há sempre um pouco mais de receio por ir”.

A jovem conta ao elDiario que ler no relatório médico que a sua homossexualidade era considerada uma doença foi “inesperado”. “No começo eu ri”, revela a atleta que, apesar de não ter levado a mal, crê que o cenário podia ter sido diferente com outra pessoa, podendo ser encarado como um insulto.

Relata também que, depois de analisar o laudo médico naquele mesmo dia, conversou com a mãe e a família para decidir se expunham ou não a situação. Decidiram, então, falar com a Galactyco, coletivo LGBTI: “Não podem existir tais médicos, essas atitudes têm de ser erradicadas”.

A respetiva associação refere, em comunicado, que enviou cartas ao Ministério e à SMS exigindo retificação imediata e desculpas à paciente, bem como a aplicação da Lei sobre igualdade social de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgénero e intersexo, que em matéria de saúde, compromete o Governo de Múrcia a garantir tratamento respeitoso às pessoas LGTBI e que os profissionais de saúde tenham formação e informação adequadas sobre homossexualidade, bissexualidade, transexualidade e intersexualidade.

Galactyco assegura que este caso está longe de ser um episódio isolado, caraterizando-o como “alarmante, inaceitável e intolerável”. “A nossa associação recebe inúmeros relatos de tratamento abusivo de orientação e género sexual”.

“Foi em 1990 que a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da lista das doenças mentais, e após 31 anos depois, no Sistema de Saúde de Múrcia alguns profissionais continuam a assumir a orientação sexual como doença”, escreveu o grupo.

Já esta quinta-feira a mãe de Alba, Santi, revelou, também ao elDiario: “Acabamos de deixar o Hospital Reina Sofia com o laudo médico retificado e pediram-nos mil desculpas”.

A mãe de Alba, que também é profissional de saúde, exigiu que a equipa de gestão do Reina Sofia “leia os relatórios antes de serem entregues aos doentes, que sejam revistos, porque a minha filha é muito forte e este assunto não a prejudicou emocionalmente, mas esta situação podia ter sido uma catástrofe para pessoas mais vulneráveis“.

O Ministério da Saúde de Múrcia já se havia desculpado anteriormente, caraterizando o diagnóstico como um “erro muito grande”. “Tanto o diretor médico como o diretor pediram desculpas, ofereceram-me a possibilidade do próprio ginecologista falar com a minha filha e dar-lhe as suas explicações”, assegurou Santi.

Alba foi ao ginecologista por causa de uma proiomenorréia (distúrbio do ciclo menstrual que encurta os intervalos entre as menstruações), teve dificuldades no exame ginecológico e saiu da consulta a chorar.

Em declarações à EFE, Aragón explicou que, durante a consulta realizada no hospital, na segunda-feira passada, disse ao ginecologista que era homossexual porque pensava que poderia ser uma informação relevante no momento do diagnóstico ou do tratamento.