O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou esta sexta-feira para a defesa da liberdade de imprensa no mundo, após a atribuição do prémio Nobel da Paz aos jornalistas Maria Ressa e Dmitri Muratov.

Nobel da Paz de 2021 vai para os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov, que lutam pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia

“No momento em que felicitamos os laureados, reafirmamos o direito à liberdade da imprensa, reconhecemos o papel fundamental dos jornalistas e encorajamos os esforços a todos os níveis para apoiar órgãos de comunicação social livres, independentes e plurais”, declarou Guterres, em comunicado.

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“Nenhuma sociedade pode ser livre e justa sem jornalistas capazes de investigar infrações, informar os cidadãos, pedir contas aos dirigentes”, acrescentou.

O responsável máximo das Nações Unidas declarou-se preocupado devido ao crescimento de um “discurso anti-comunicação social”, bem como a “atos de violência e de assédio crescentes contra os jornalistas, pessoalmente e na internet”, visando em particular as mulheres jornalistas.

O prémio Nobel da Paz foi atribuído esta sexta-feira a dois jornalistas de investigação, a filipina Maria Ressa e o russo Dmitri Muratov, pela defesa da liberdade de imprensa e de expressão, anunciou o Comité Nobel Norueguês.

Os dois jornalistas foram distinguidos “pela sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia. Ao mesmo tempo, são representantes de todos os jornalistas que defendem este ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”, justificou a presidente Comité Nobel Norueguês, Berit Reiss-Andersen.

“Sem liberdade de expressão e liberdade de imprensa, será difícil promover com êxito a fraternidade entre nações, o desarmamento e uma ordem mundial melhor para sermos bem-sucedidos no nosso tempo”, sustentou.

Reiss-Andersen disse que a atribuição deste ano do Prémio Nobel da Paz aos dois jornalistas “está, por isso, firmemente ancorada nas disposições da vontade de Alfred Nobel.

Maria Ressa, de 58 anos, “usa a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo” nas Filipinas, onde dirige o Rappler, um órgão de comunicação social digital que se dedica ao jornalismo de investigação e que cofundou em 2012.

O Comité Nobel destacou, em particular, o papel de Ressa e do Rappler na denúncia da “controversa e assassina campanha antidroga do regime” do Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte”.

Para o Comité, o número de mortes desta campanha é tão elevado que “se assemelha a uma guerra travada contra a própria população do país”.

Ressa e o Rappler também “documentaram como os meios de comunicação social estão a ser utilizados para espalhar notícias falsas, assediar adversários e manipular o discurso público”.

Dmitry Muratov, de 59 anos, é um dos fundadores do jornal independente Novaya Gazeta, nascido em 1993 e de que é chefe de redação há 24 anos.

Para o Comité Nobel, trata-se do “jornal mais independente da Rússia, com uma atitude fundamentalmente crítica em relação ao poder”.

“O jornalismo livre, independente e baseado em factos serve para proteger contra abusos de poder, mentiras e propaganda de guerra”, disse Berit Reiss-Andersen.

Pelo seu jornalismo baseado em factos e a sua integridade profissional, o Novaya Gazeta é “uma importante fonte de informação sobre aspetos censuráveis da sociedade russa raramente mencionados por outros meios de comunicação social”, acrescentou.

O Comité Nobel “está convencido de que a liberdade de expressão e a liberdade de informação ajudam a assegurar um público informado”.

“Estes direitos são pré-requisitos cruciais para a democracia e a proteção contra a guerra e os conflitos”, acrescentou.

Os laureados irão receber um prémio de oito milhões de coroas suecas (cerca de 788 mil euros), além de um diploma e uma medalha.