O ministro da Defesa Nacional defendeu, este sábado, que a NATO “tem de incorporar as lições aprendidas com o Afeganistão” e apelou a uma colaboração mais próxima entre os Estados-membros da organização e a União Europeia (UE).

“Acredito que o novo Conceito Estratégico da aliança tem de incorporar as lições aprendidas com o Afeganistão. Durante 20 anos, os aliados europeus e canadianos demonstram solidariedade infalível para com os Estados Unidos depois dos horríveis ataques terroristas em 11 de setembro de 2001 (…). Esta manifestação de solidariedade ativa foi por si só uma demonstração da credibilidade da NATO”, disse João Gomes Cravinho.

O ministro discursava no Comité de Segurança e Defesa, no arranque dos trabalhos do segundo dia da 67.ª Assembleia Parlamentar da NATO, que está a decorrer em Lisboa até segunda-feira.

Gomes Cravinho acrescentou que em duas décadas é possível dizer que é “verdade e importante” que a aliança transatlântica “garantiu que o território afegão não foi utilizado para fazer ataques terroristas” nos Estados-membros que compõem a NATO.

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“Contudo, os progressos feitos relativamente à construção de um Estado, direitos básicos no Afeganistão ou a criação das Forças Armadas afegãs foram claramente insustentáveis na ausência da presença militar da NATO”, considerou, aludindo à conquista do país pelos talibãs na sequência da retirada das forças militares da aliança.

O ministro da Defesa também enalteceu a necessidade de um “fortalecimento contínuo da parceria vital entre a NATO e a UE”.

“Sempre deixei claro nas minhas intervenções públicas que precisamos de ultrapassar a noção antiquada de que uma Defesa Europeia é necessariamente construída em oposição à Aliança Atlântica”, referiu, sustentando que “esta perceção foi recentemente alimentada pela especulação em torno do conceito da autonomia estratégica europeia”.

João Gomes Cravinho completou que “Portugal acredita que tem de ser entendido como autonomia a União Europeia poder fazer mais, preferencialmente em parceria, mas sozinha se o assunto não interessar a parceiros como a NATO”.

Reconhecendo que o novo Conceito Estratégico da aliança “tem de refletir as transformações globais” que ocorreram desde 2010 – a posição cada vez mais “assertiva e agressiva” da Rússia e da China no plano geopolítico internacional — e que isso tem “de ser feito de uma maneira que não aumente necessariamente as tensões, mas que não ignore as realidades estratégicas básicas”.

“Temos de melhorar na definição de uma política realística e de objetivos militares, com resultados finais pragmáticos e alcançáveis. Isto não é uma abdicação dos nossos valores, é pelo contrário um reconhecimento inevitável de que é utópico e perigoso acreditar que conseguimos facilmente transformar o mundo de acordo com os nossos desejos”, sustentou.

A 67.ª Assembleia Parlamentar da NATO começou na sexta-feira e decorre até segunda-feira, em Lisboa. A sessão anual vai contar durante quatro dias com a presença de elementos do Governo português, representantes oficiais da NATO, especialistas em assuntos de defesa, legisladores dos 30 Estados-membros da NATO e representantes de países terceiros da aliança, e órgãos parlamentares.

De acordo com o programa oficial, entre os temas em cima da mesa estarão a agenda NATO 2030 e a revisão do Conceito Estratégico, “as lições retiradas do envolvimento da NATO no Afeganistão”, a Rússia e China, a evolução da situação no Médio Oriente e no Norte de África, alterações climáticas e até “a resiliência democrática e a desinformação” ou a pandemia.

A reunião plenária de segunda-feira, contará com intervenções do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, do primeiro-ministro, António Costa, da Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América, Nancy Pelosi, do subsecretário-geral das Nações Unidas, Jean-Pierre Renaud Lacroix (em representação do secretário-geral, António Guterres), e do Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, entre outras.