A antecipação do Euro 2020 trouxe uma nova questão central à Seleção Nacional. Com o natural aproximar do fim das carreiras de Pepe e José Fonte e mesmo com sangue novo como Rúben Dias, Domingos Duarte, Diogo Leite ou Gonçalo Inácio, tornou-se cada vez mais claro que o futuro de Danilo Pereira na equipa de Fernando Santos iria passar pelo centro da defesa. O jogador do PSG sempre se mostrou disponível para assumir esse papel, foi um dos mais criticados no Campeonato da Europa a atuar no meio-campo mas nunca saiu das cogitações do selecionador nacional. Este sábado, a aposta voltava a ficar clara.

“Essa polivalência ajuda-me bastante. Não é a primeira vez que faço essas funções na Seleção ou no clube. É um lugar em que me sinto confortável. Estou aqui para ajudar a Seleção e não vejo qualquer problema em jogar a médio ou defesa central. Todas as oportunidades são boas para jogar. Num contexto de Seleção, todos têm ambição de jogar e, se tiver essa oportunidade, fá-lo-ei com muito orgulho”, disse Danilo na antecâmara da receção ao Qatar, em declarações que não podem deixar de estar relacionadas com o facto de só ter sido titular em quatro ocasiões esta temporada no PSG.

Ficha de jogo

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Portugal-Qatar, 3-0

Jogo particular

Estádio Algarve, em Faro/Loulé

Árbitro: Fedayi San (Suíça)

Portugal: Diogo Costa, Diogo Dalot, José Fonte, Danilo, Nuno Mendes (Nélson Semedo, 45′), William Carvalho (Bernardo Silva, 60′), João Mário (João Moutinho, 71′), Matheus Nunes (Bruno Fernandes, 71′), Gonçalo Guedes (João Palhinha, 60′), André Silva, Cristiano Ronaldo (Rafael Leão, 45′)

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, Anthony Lopes, Pepe, Rúben Dias, João Cancelo

Treinador: Fernando Santos

Qatar: Saad, Salman, Bassam Al Rawi, Abdelkarim Hassan, Pedro Ró-Ró, Hassan Al-Haydos (Al-Ahrak, 71′), Boudiaf (Assim Madibo, 76′), Abdulaziz Hatim, Homam, Akram Afif, Almoez Ali (Yusuf Abdurisag, 76′)

Suplentes: Yousef Hassan, Barsham, Musab, Al-Brake, Waad, Asad, Ahmed Moein, Fathy, Ahmed Alaadin

Treinador: Félix Sánchez

Golos: Cristiano Ronaldo (37′), José Fonte (48′), André Silva (90′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Abdelkarim Hassan (28′), a William Carvalho (32′), a Akram Afif (55′), a Assim Madibo (84′)

Ora, com Pepe e Rúben Dias no banco, Danilo era titular contra o Qatar precisamente a central e ao lado de José Fonte. Num onze inicial alternativo, Fernando Santos aproveitava o particular para proporcionar as estreias de Diogo Costa e Matheus Nunes, que realizavam a primeira internacionalização, e colocava Diogo Dalot na direita, Nuno Mendes na esquerda e William e João Mário a completar o meio-campo. No ataque, Cristiano Ronaldo, Gonçalo Guedes e André Silva formavam o trio ofensivo, com Rafael Leão a começar no banco e a aguardar também a estreia pela Seleção. Na condição de suplentes, aliás, estavam inúmeros elementos da habitual primeira linha portuguesa — João Cancelo, Bernardo, Bruno Fernandes e João Palhinha –, algo que o selecionador nacional justificou logo na antevisão.

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“É um jogo particular mas não é amigável. Sabemos que há muitos jogadores carregados com muitos jogos, entre competições europeias e competições internas, portanto, será feita alguma gestão. Dentro dessa gestão, parece-me normal que jogadores como o Matheus [Nunes] e o Rafael [Leão] vão a jogo, seja de início ou depois, no decorrer do jogo”, explicou Fernando Santos, recordando que Portugal volta a entrar em campo já na terça-feira, contra o Luxemburgo, num jogo a contar para o apuramento para o Mundial 2022.

No Estádio Algarve, numa partida em que Cristiano Ronaldo realizava a 181.ª internacionalização e se tornava o recordista europeu de jogos pela Seleção, a primeira parte decorreu de forma expectável. Portugal tinha a posse de bola, tinha a iniciativa e tinha o controlo do jogo, atuando quase por inteiro no meio-campo adversário e sempre com as linhas muito subidas. André Silva teve a primeira oportunidade da partida, ao aparecer na cara do guarda-redes do Qatar depois de um passe de Ronaldo (6′), e voltou a ficar perto de marcar com um pontapé cruzado na sequência de um grande passe de Matheus Nunes (11′).

A Seleção Nacional começou por dar alguma primazia à ala esquerda, apostando nas subidas de Nuno Mendes, mas depressa virou o azimute para o lado contrário, onde Diogo Dalot ia realizando uma grande exibição. No meio-campo, João Mário e Matheus Nunes destacavam-se enquanto peças fulcrais da construção portuguesa, encontrando passes de rotura e espaços entre linhas para tentar soltar a profundidade de André Silva, Ronaldo ou Guedes. Este último também ficou perto de inaugurar o marcador num lance individual em que recuperou a bola e arrancou em direção à grande área (16′), Ronaldo cabeceou diretamente para as mãos de Saad depois de um cruzamento de Dalot (25′) e o mesmo Ronaldo desperdiçou a melhor oportunidade até então, atirando ao lado na cara do guarda-redes depois de mais uma assistência do lateral direito (34′). Pelo meio, o Qatar só saía do próprio meio-campo em transição rápida, normalmente pela direita, mas sempre sem grandes consequências.

Portugal ia insistindo e pressionando, demonstrando-se até algo perdulário face a quantidade de oportunidades que criou e que não concretizou, e acabou por conseguir chegar ao golo aproveitando também as fragilidades defensivas do Qatar. Matheus Nunes tirou um grande passe vertical à procura de Dalot junto à linha de fundo, o lateral conseguiu cabecear atrasado in extremis, Bassam Hisham falhou por completo a interceção e Ronaldo, totalmente sozinho, só precisou de encostar para a baliza (37′). O capitão português chegava ao 112.º golo pela Selçeão, Portugal colocava-se em vantagem na partida e Dalot confirmava a grande exibição que ia realizando no Estádio Algarve.

Depois do golo e até ao intervalo, Portugal tirou ligeiramente o pé do acelerador e até permitiu um remate enquadrado ao Qatar, com Homam Ahmed a atirar rasteiro para as mãos de Diogo Costa (43′). A Seleção Nacional terminou a primeira parte em vantagem, ainda que tenha criado oportunidades suficientes para ter um resultado mais dilatado, e a dinâmica da partida permitia a Fernando Santos continuar a gerir o esforço dos jogadores mais utilizados.

Com base nisso mesmo, o selecionador nacional tirou Nuno Mendes e Cristiano Ronaldo ao intervalo e lançou Nélson Semedo e Rafael Leão, proporcionando a primeira internacionalização do avançado do AC Milan e colocando Diogo Dalot no lado esquerdo da defesa. Ao contrário daquilo que aconteceu na primeira parte, porém, Portugal demorou muito pouco a chegar ao golo: João Mário bateu um livre na direita, William cabeceou para defesa incompleta de Saad e José Fonte apareceu a marcar na recarga (48′). A dois meses de fazer 38 anos e no dia da 47.ª presença ao serviço da Seleção, o central português estreava-se a marcar.

Com o segundo golo e o aumentar da vantagem, o jogo caiu em ritmo e intensidade. André Silva rematou ao lado de fora de área, com um pontapé de pé esquerdo (59′), mas nesta altura Portugal passava muito tempo na zona periférica da grande área adversária, sem conseguir criar muitas oportunidades e sem encontrar caminhos rumo à baliza. À hora de jogo, Fernando Santos procurou refrescar as engrenagens da equipa e tirou William e Guedes para lançar Palhinha e Bernardo. A Seleção recuou as linhas, desacelerou na pressão e na reação à perda da bola e até ia permitindo alguma posse ao Qatar, ainda que totalmente inconsequente, numa fase muito sonolenta da partida.

André Silva teve mais duas ocasiões para aumentar a vantagem nesta altura, primeiro com um desvio por cima depois de um cruzamento de Dalot (68′) e depois a permitir a defesa de Saad na sequência de um passe de Leão (73′), numa noite manifestamente pouco eficaz do avançado do RB Leipzig. A 20 minutos do fim, Fernando Santos continuou a tarefa de poupar e gerir e renovou o meio-campo, trocando João Mário e Matheus Nunes por João Moutinho e Bruno Fernandes. Com essa dupla alteração, Portugal voltou a ter maior dimensão ofensiva, tanto na pressão como na criatividade, e ainda viu Diogo Dalot a ter um golo anulado (82′) e Rafael Leão a acertar duas vezes nos ferros, primeiro com um pontapé à trave (82′) e depois um desvio ao poste (87′).

Mesmo no último minuto, André Silva acabou por conseguir o que passou 90 minutos a procurar: Rafael Leão cruzou na esquerda e o avançado, com um cabeceamento perfeito de cima para baixo, fechou as contas do jogo (90′). O golo, mais do que oferecer um resultado mais justo face à discrepância das duas equipas, foi também uma recompensa para os dois jogadores — para André Silva por ter buscado o golo incessantemente e para Rafael Leão por ter cumprido uma segunda parte de bom nível na estreia na Seleção.

Portugal venceu naturalmente o Qatar no particular no Estádio Algarve, na antecâmara do encontro oficial contra o Luxemburgo, e somou a quarta vitória consecutiva — ou seja, ganhou todos os jogos desde o Euro 2020. No dia em que Ronaldo bateu mais um recorde, em que Matheus Nunes e Rafael Leão tiveram estreias muito positivas e em que José Fonte fez o primeiro golo pela Seleção, Diogo Dalot acabou por ser o elemento em grande evidência na Seleção Nacional. Tanto à direita como à esquerda e tal como já havia acontecido quando foi chamado ao Europeu para substituir João Cancelo à última da hora, o jovem lateral mostrou que é solução e que pode lutar pela titularidade.