A Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique denunciou esta sexta-feira novas intimidações contra um dos seus membros, reforçando o pedido de apoio internacional face à alegada perseguição pelo Governo de Kigali.

Innocent Abubakar, um ruandês refugiado em Moçambique, terá sido intimidado no domingo, quando dois homens tentaram entrar, à força, na sua residência na província de Nampula, norte do país, disse o presidente da Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique, Cleophas Habiyareme, em entrevista à Lusa.

Quando eles chegaram em sua casa, encontraram as crianças, que foram avisar Abubakar que dois homens queriam conversar com ele. Ele pediu que eles se identificassem, mas não o fizeram. Tentaram entrar à força pela porta de trás, onde também encontraram outras crianças que vivem na casa. Foram-se embora, mas prometeram voltar”, declarou Cleophas Habiyareme.

Innocent Abubakar, refugiado em Moçambique há mais de cinco anos, é professor na Universidade de Lúrio, localizada na cidade de Nampula.

Este é o quarto incidente a envolver cidadãos ruandeses refugiados em Moçambique neste ano, depois do desaparecimento, em maio, do jornalista Ntamuhanga Cassien, que residia em Maputo, e o homicídio a tiro, na cidade da Matola, no dia 13 de setembro, do empresário ruandês Revocat Karemangingo, que vivia em Moçambique desde 1996.

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Imagina que as primeiras pessoas que chegaram ao local em que Revocat foi morto foram o filho e a esposa dele. Foi o filho dele que o tirou do carro em que estava e o colocou numa outra viatura a caminho do hospital. Ele morreu nos braços do seu filho“, lamentou Cleophas Habiyareme.

Os incidentes, que também incluem denuncias sobre ameaças ao secretário da associação e o seu irmão, ocorrem num momento marcado por uma aproximação clara entre os governos de Moçambique e Ruanda, país que agora apoia, com cerca de mil militares e polícias, as forças governamentais moçambicanas no combate contra o terrorismo na província de Cabo Delgado.

As autoridades moçambicanas têm dito que estão a investigar os casos denunciados e distanciam-se de qualquer perseguição.

“Nós sempre dissemos que o regime de Kigali está a perseguir os refugiados, não só em Moçambique como também em todo mundo. Agora, com esta chegada de forças ruandesas em Moçambique a situação está a tornar-se pior“, declarou Cleophas Habiyareme.

O presidente da Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique pede uma intervenção “urgente” da União Africana (UA) e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), bem como de outras organizações ligadas aos direitos humanos e do próprio Governo moçambicano.

“A comunidade internacional não se pode calar perante isto”, frisou Cleophas Habiyareme. Segundo dados da associação, há pelo menos cinco mil ruandeses em Moçambique, a maior na condição de refugiados.

A organização não-governamental Centro para Democracia e Desenvolvimento prometeu, em finais de setembro, escrever uma carta para a SADC face às denúncias dos refugiados ruandeses em Moçambique.

Líder do Ruanda desde 1994, a Paul Kagamé é atribuído o desenvolvimento do país após o genocídio de tutsis daquele ano, mas o chefe de Estado é também acusado de limitar a liberdade de expressão e de reprimir a oposição.

A organização Human Rights Watch (HRW) acusou no final de março as autoridades ruandesas de estarem a limitar a população que recorre à Internet para se expressar no país, depois de restringirem a liberdade de expressão nos órgãos de comunicação social.

A restrição de liberdades tem também sido denunciada e condenada por outras organizações como a Repórteres sem Fronteiras e a União Europeia (UE).

O genocídio no Ruanda foi responsável pela morte de mais de 800.000 pessoas, principalmente da minoria tutsi, entre abril e julho de 1994.