Foi cancelada a eutanásia de Martha Sepúlveda, a enfermeira com esclerose lateral amiotrófica que se tornaria este domingo às sete da manhã a primeira colombiana a passar pelo procedimento desde que o Tribunal Constitucional do país o descriminalizou em julho.

A decisão partiu do Instituto Colombiano del Dolor, o mesmo onde Martha Sepúlveda estava a ser acompanhada, e foi anunciada poucas horas antes do momento em que o procedimento estava agendado. O comunicado foi publicado por volta das 17h de sábado na Colômbia (meia-noite em Lisboa) e a eutanásia estava marcada para as 07h de domingo (13h de Lisboa), apenas 14 horas depois.

Esta enfermeira de 51 anos não está em estado terminal, mas perdeu a habilidade muscular para andar, ir à casa de banho, vestir-se ou até comer sozinha. O filho de 22 anos explicou que a mãe “não concebia uma vida confinada à cama”. Ela mesma, apesar de ser católica, acredita que Deus não a quer ver sofrer: “Com a esclerose lateral no estado em que estou, a melhor coisa que me pode acontecer é ir descansar”.

Martha é colombiana, tem 51 anos e está doente, mas não em estado terminal. Vai ser eutanasiada este domingo, à hora da missa

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Mas o instituto que se preparava para o procedimento desta manhã — no mesmo dia da semana e à mesma hora a que Martha costumava ir à missa com a mãe — cancelou-o “por ter um conceito atualizado do estado de saúde e evolução do paciente”: “Está definido que não se cumpriu o critério de terminalidade, como se havia considerado anteriormente”, justificou em comunicado de imprensa.

A decisão partiu do Comité Científico Interdisciplinar do instituto, que cita a resolução 971 de 2021 do Ministério da Saúde e Proteção Social, que “atribui ao comité, dentro das suas funções, a revisão do processo de aplicação e do procedimento de eutanásia completo, a fim de detetar qualquer situação que afete o seu desenvolvimento”: “Por isso, por ter um conceito atualizado sobre a saúde e evolução do paciente, fica definido que o critério de terminalidade não é atendido, como havia sido considerado no primeiro comité”.

A esclerose lateral amiotrófica é uma doença neurológica degenerativa em que os neurónios que levam a informação desde o cérebro até aos músculos morrem precocemente. A principal causa de morte dos doentes de esclerose lateral amiotrófica é a insuficiência respiratória, à conta do enfraquecimento dos músculos, incluindo os envolvidos na respiração. Há pacientes que conseguem sobreviver por 10 a 15 anos após o diagnóstico, em formas da doença com progressão mais lenta, mas a maioria não ultrapassa os cinco anos.