O Giuseppe Meazza foi este domingo palco da final da segunda edição da Liga das Nações, uma competição ganha há dois anos por Portugal frente aos Países Baixos, com golo de Gonçalo Guedes. Em Milão, esta noite, os vizinhos França e Espanha decidiam assim o destino do troféu que tem em si representados todos os mais de 50 países que compõem a UEFA. Troféu esse que subiu ao relvado, antes do jogo, pelas mãos de um velho conhecido do estádio onde joga o Inter (e o AC Milan): o internacional português Luís Figo. Com a taça abençoada por um craque luso, faltava então subirem ao relvado as equipas que mais importavam.

E essas equipas, os gauleses liderados por Deschamps e a roja por Luis Enrique, têm atravessado nos últimos anos, entre si, fases que se estendem durante consideráveis períodos. Espanha, por exemplo, não conseguiu ganhar a França entre 1981 e 2001, com nuestros hermanos a devolverem o favor ao apenas se deixarem derrotar uma vez entre 2006 e 2014. No entanto, apenas um desses jogos, num confronto que começou no campo há mais de cem anos, foi uma final, a do Euro 1984, que a França de Platini venceu por 2-0.

Mesmo sem confrontos regulares entre si, o facto de serem duas das melhores seleções do mundo faz com que se conheçam bem. Só isto fazia prever equilíbrio. E se juntarmos a esta receita o facto de, nos 90 minutos, Espanha só ter perdido um de 18 jogos e França um de 30 jogos, podia adivinhar-se o que ia acontecer, pelo menos ao nível do que as equipas iam apresentar: a nova mas ainda campeã do mundo França num novo 3x4x1x2; Espanha ainda numa espécie de pós tiki taka que se manteve mas com algumas nuances.

Uma coisa é verdade: todos os jogadores estiveram ao mais alto nível nos primeiros 45′. Outra verdade? A maioria esperava maior posse de bola da Espanha, mas também tinha alguma fé de que surgissem oportunidades de golo. Houve algo a que se pode chamar uma chance, num lance em que Benzema (em fora de jogo) ultrapassa o guarda-redes espanhol Unai Simón e ganha um canto, mas de resto… pouco. França começou o jogo a pressionar alto, mas só conseguiu que a partilha da bola durasse cerca de 15′. Por outro lado, há a destacar que, visto os espanhóis estarem sempre a tentar esticar o jogo nas alas, em Ferran Torres e em Sarabia, jogador do Sporting, nem sempre havia uma referência na área, visto que era também um extremo, Oyarzabal, que jogava como “ponta de lança”. A equipa de Luis Enrique teve ainda o mérito de evitar que Mbappé criasse perigo durante os primeiros 45′ e, ainda, que Griezmann, a cumprir o jogo 100 pela sua seleção, fosse elo de ligação entre Pogba e os avançados.

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E com esta lógica chegou o intervalo.

No arranque do segundo tempo, notou-se logo que algo estava diferente. Após ninguém ter “perdido” antes do descanso, as equipas pareciam agora mesmo dispostas a ganhar, com destaque para uma certa alma francesa, havendo logo entre os 46′ e os 60′ vários lances mais rápidos, que partiram um pouco o jogo, mas sem nunca se desmontar o encaixe e o xadrez de dois treinadores que se defrontaram pela primeira vez mas, enquanto jogadores, já se haviam visto quatro vezes, duas delas ao serviço das respetivas seleções.

Após esse momento mais agitado, voltou o já clássico controlo espanhol, muito assente no capitão Busquets, em Rodri e ainda no miúdo Gavi, o mais jovem europeu de sempre a jogar em finais de Mundiais, Europeus, Taça das Confederações ou Liga das Nações. Gavi é da linha de Pedri, embora este último seja mais acutilante e o primeiro, provavelmente a pedido do seu selecionador, tentasse libertar mais os seus alas além de transportar jogo.

E por falar em Busquets, que estava a ser um tratado durante a primeira hora de jogo, não teve muitas hipóteses de jogar de frente para o jogo mas, após Hernandez ter acertado na trave espanhola após um contra-ataque, olhou, descobriu Oyarzabal na frente e, com Upamecano a falhar na pressão, o avançado fez o 1-0, aos 64′. Espanha estava agora ainda mais confortável no jogo… durante dois minutos. Foi este o tempo que Benzema, da esquerda para o meio, como gosta, demorou a fazer um golo fantástico, um belo remate em arco no qual Simón ainda tocou, mas tinha poucas hipóteses.

Um par de golos num par de minutos.

Espanha ficou desconfortável com o jogo e França ficou claramente moralizada com o empate alcançado em breves instantes. O jogo como que equilibrou, mesmo que a posse de bola, que tem significados vários numa partida de futebol, e os franceses pareciam ter mais espaço e mais urgência no que estavam a fazer.

Foi já à entrada dos 80′ que Theo Hernandez descobriu Mbappé na costa dos defesas e o craque do PSG, na cara de Simón, passou a perna direita por cima da bola e com o pé esquerdo fez o 2-1 para a França. O VAR foi chamado a intervir para auferir a posição de Mbappé, que acabou por ser regular, e França dava a volta ao jogo.

Até ao final do jogo, há a destacar uma defesa do guarda-redes e capitão de equipa de França, Lloris, que negou um golo a Oyarzabal, aos 89′. No que seria uma grande finalização do jogador espanhol para outro empate. Lloris voltou a dizer presente já com o colega de profissão na sua área e Unai Simón até tocou na bola que Pino rematou forte, mas o capitão gaulês defendeu.

O fim do jogo foi, é claro, elétrico, mas mesmo com a primeira parte mais dormente, estava na cara que havia ali mais. E foi mesmo isso que ambas as equipas deram, com o confronto a terminar com um triunfo francês, que começou com um belo arco de Benzema.

Em Milão, o monumento acabou por ser francês.